
★★★★
Fantastic Beasts and Where to Find Them, Reino Unido/EUA, 2016 | Duração: 2h13 | Lançado no Brasil em 17 de novembro de 2016, nos cinemas | Escrito por J.K. Rowling | Dirigido por David Yates | Com Eddie Redmayne, Katherine Waterston, Colin Farrell, Dan Fogler, Ezra Miller, Alison Sudol, Samantha Morton, Carmen Ejogo, Jon Voight, Ron Perlman, Faith Wood-Blagrove.
Ao longo da introdução do livro Animais Fantásticos & Onde Habitam, escrito por J.K. Rowling sob o pseudônimo de Newt Scamander, a criadora de Harry Potter destaca a importância do estudo da magizoologia na manutenção da clandestinidade do mundo bruxo, uma vez que o conhecimento apurado sobre as criaturas mágicas permitiria que seu ocultamento frente à população não-bruxa pudesse ser realizado com maior eficácia. Por essa razão, a apropriação inusitada do título de um livro didático e não narrativo para introduzir o Mundo Bruxo™ (cuja trademark a distribuidora fez questão de enfatizar em seus releases para a imprensa) acaba soando curiosamente apropriada, considerando que, pelo que tudo indica, são justamente os conflitos oriundos das divergências ideológicas relacionadas ao ocultamento do universo mágico que irão definir o tom dessa nova série cinematográfica.
Escrito pela própria J.K. Rowling em sua primeira experiência como roteirista, o filme regressa ao ano de 1926 e mostra o magizoologista Newt Scamander (Eddie Redmayne) desembarcando em Nova York num momento em que a comunidade bruxa local enfrenta o temor de que os ataques promovidos pelo perverso Gerardo Grindelwald (Johnny Depp, recente e controversa escalação) no continente europeu cheguem às Américas. Portador de uma maleta mágica abarrotada de criaturas fantásticas que acidentalmente vai parar nas mãos do não-maj (trouxa, não-bruxo) Jacob Kowalski (Dan Fogler), Scamander acaba sendo acusado pelo Congresso Mágico dos EUA de causar mortes e desabamentos pela cidade e passa a ser perseguido por Percival Graves (Colin Farrell) - que, paralelamente, desenvolve negócios suspeitos que podem estar relacionados com o surgimento de uma misteriosa e destrutiva entidade mágica.
Preservando o tom mais soturno que caracterizou a sequência de capítulos comandados por David Yates, Animais Fantásticos e Onde Habitam rapidamente prova que o universo concebido por Rowling consegue se sustentar fora de Hogwarts e longe de Harry, Rony e Hermione: embora os novos personagens não sejam particularmente memoráveis ou cativantes, figuras como o bondoso e desajeitado Newt ou a correta e esforçada Goldstein (Katherine Waterston) são adequadas o bastante à trama e seus propósitos. Além disso, os produtores possuem plena ciência daquilo que diferencia este universo de quaisquer outros e não economizam na inserção de elementos mágicos na narrativa, associando seres, instrumentários e feitiços já conhecidos pelo público a ideias e conceitos inéditos, em sequências ou montagens que raramente soam deslocadas ou gratuitas.
Parte das novidades, naturalmente, dizem respeito às criaturas mágicas: apresentando algumas espécies extraídas diretamente livro-texto, como o tímido tronquilho (primo distante do Groot, de Guardiões da Galáxia), o robusto erumpente ou o sorrateiro pelúcio (responsável por algumas das cenas mais divertidas), a fauna do mundo bruxo possui uma importância apenas secundária na trama, embora motivem parte do conflito central e eventualmente colaborem para o andamento da narrativa. Aliás, diferentemente do que poderia se esperar de um filme povoado por criaturas fantasiosas e inspirado em uma série infanto-juvenil, Animais Fantásticos e Onde Habitam faz jus à maturidade adquirida pelo público da franquia e aposta em conflitos e temas mais adultos, possivelmente causando desinteresse na fatia consideravelmente mais jovem e inadvertida da audiência.
Porém, são justamente essas escolhas que permitem que este novo filme se junte a seus predecessores em um patamar digno de reverência. Com um casal formado por uma bruxa e um não-maj cujo romance é impedido pelas leis e tradições da época, o roteiro trata da intolerância sob uma ótica universal, considerando que discriminações equivalentes e tão infundadas quanto, quase um século mais tarde, ainda são praticadas contra casais do mesmo sexo ou de cores de pele, etnias, religiões, classes sociais ou idades distintas. Por fim, além de transmitir uma mensagem ambientalista um tanto contida e se arriscar a tratar brevemente até mesmo sobre a questão da pena de morte, Animais Fantásticos e Onde Habitam consegue introduzir com eficiência, através do discurso de determinado personagem contrário à ocultação do mundo mágico e favorável à soberania bruxa, os princípios fascistas que deverão embasar os conflitos dos próximos longas, possivelmente estabelecendo paralelos espertinhos com a História trouxa.
E as expectativas em relação ao que vem por aí não poderiam ser melhores: embora deixe a desejar em alguns aspectos (a trama não é das mais sofisticadas e possui um porção de pequenos problemas), Animais Fantásticos e Onde Habitam combina um roteiro satisfatório com um design de produção que ainda consegue se reinventar, efeitos especiais de ponta, um elenco bem ajustado e a direção de um sujeito mais que familiarizado com a tarefa, resultando em um retorno glorioso ao universo bruxo.
Escrito pela própria J.K. Rowling em sua primeira experiência como roteirista, o filme regressa ao ano de 1926 e mostra o magizoologista Newt Scamander (Eddie Redmayne) desembarcando em Nova York num momento em que a comunidade bruxa local enfrenta o temor de que os ataques promovidos pelo perverso Gerardo Grindelwald (Johnny Depp, recente e controversa escalação) no continente europeu cheguem às Américas. Portador de uma maleta mágica abarrotada de criaturas fantásticas que acidentalmente vai parar nas mãos do não-maj (trouxa, não-bruxo) Jacob Kowalski (Dan Fogler), Scamander acaba sendo acusado pelo Congresso Mágico dos EUA de causar mortes e desabamentos pela cidade e passa a ser perseguido por Percival Graves (Colin Farrell) - que, paralelamente, desenvolve negócios suspeitos que podem estar relacionados com o surgimento de uma misteriosa e destrutiva entidade mágica.
Preservando o tom mais soturno que caracterizou a sequência de capítulos comandados por David Yates, Animais Fantásticos e Onde Habitam rapidamente prova que o universo concebido por Rowling consegue se sustentar fora de Hogwarts e longe de Harry, Rony e Hermione: embora os novos personagens não sejam particularmente memoráveis ou cativantes, figuras como o bondoso e desajeitado Newt ou a correta e esforçada Goldstein (Katherine Waterston) são adequadas o bastante à trama e seus propósitos. Além disso, os produtores possuem plena ciência daquilo que diferencia este universo de quaisquer outros e não economizam na inserção de elementos mágicos na narrativa, associando seres, instrumentários e feitiços já conhecidos pelo público a ideias e conceitos inéditos, em sequências ou montagens que raramente soam deslocadas ou gratuitas.

Parte das novidades, naturalmente, dizem respeito às criaturas mágicas: apresentando algumas espécies extraídas diretamente livro-texto, como o tímido tronquilho (primo distante do Groot, de Guardiões da Galáxia), o robusto erumpente ou o sorrateiro pelúcio (responsável por algumas das cenas mais divertidas), a fauna do mundo bruxo possui uma importância apenas secundária na trama, embora motivem parte do conflito central e eventualmente colaborem para o andamento da narrativa. Aliás, diferentemente do que poderia se esperar de um filme povoado por criaturas fantasiosas e inspirado em uma série infanto-juvenil, Animais Fantásticos e Onde Habitam faz jus à maturidade adquirida pelo público da franquia e aposta em conflitos e temas mais adultos, possivelmente causando desinteresse na fatia consideravelmente mais jovem e inadvertida da audiência.
Porém, são justamente essas escolhas que permitem que este novo filme se junte a seus predecessores em um patamar digno de reverência. Com um casal formado por uma bruxa e um não-maj cujo romance é impedido pelas leis e tradições da época, o roteiro trata da intolerância sob uma ótica universal, considerando que discriminações equivalentes e tão infundadas quanto, quase um século mais tarde, ainda são praticadas contra casais do mesmo sexo ou de cores de pele, etnias, religiões, classes sociais ou idades distintas. Por fim, além de transmitir uma mensagem ambientalista um tanto contida e se arriscar a tratar brevemente até mesmo sobre a questão da pena de morte, Animais Fantásticos e Onde Habitam consegue introduzir com eficiência, através do discurso de determinado personagem contrário à ocultação do mundo mágico e favorável à soberania bruxa, os princípios fascistas que deverão embasar os conflitos dos próximos longas, possivelmente estabelecendo paralelos espertinhos com a História trouxa.
E as expectativas em relação ao que vem por aí não poderiam ser melhores: embora deixe a desejar em alguns aspectos (a trama não é das mais sofisticadas e possui um porção de pequenos problemas), Animais Fantásticos e Onde Habitam combina um roteiro satisfatório com um design de produção que ainda consegue se reinventar, efeitos especiais de ponta, um elenco bem ajustado e a direção de um sujeito mais que familiarizado com a tarefa, resultando em um retorno glorioso ao universo bruxo.
