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Blair Witch, EUA, 2016 | Duração: 1h29 | Lançado no Brasil em 15 de setembro de 2016, nos cinemas | Escrito por Simon Barrett | Dirigido por Adam Wingard | Com James Allen McCune, Callie Hernandez, Corbin Reid, Brandon Scott, Wes Robinson e Valorie Curry.
Lançado em 1999, A Bruxa de Blair se tornou um marcante fenômeno cultural por um somatório de razões. Amparada por uma campanha de marketing viral consistente e ambiciosa para a época, a obra de baixíssimo orçamento conquistou público e crítica graças ao eficiente uso de seus poucos recursos: a visceralidade do elenco estreante (dos diálogos improvisados às famigeradas estratégias dos realizadores para apavorar os atores durante o período de filmagens) e a intencional precariedade técnica casaram perfeitamente bem com a linguagem do found footage, subgênero ainda pouco popular na época.
Ao longo da década seguinte e respaldados pelo sucesso de A Bruxa de Blair, filmes como Cloverfield - Monstro e [REC] foram capazes de injetar novo gás aos falsos documentários com as tais "filmagens encontradas" - mas o desgaste da fórmula, a negligência de certos roteiros e até mesmo a completa incompreensão dos princípios básicos do subgênero acarretaram em uma leva de produções deploráveis, de modo que para cada triunfo como Poder Sem Limites ou Creep, fomos penalizados com desastres na linha de Filha do Mal, Projeto Dinossauro ou da penca de continuações do ótimo Atividade Paranormal.
Assim, foi com grande frustração que saí cabisbaixo da sessão deste novo Bruxa de Blair, depois de testemunhar uma marca de sucesso sendo ressuscitada após 17 anos às custas de um projeto que parece disposto a abdicar praticamente tudo que tornava o longa original uma obra tão marcante. Mais nova parceria entre o roteirista Simon Barrett e o diretor Adam Wingard (Você é o Próximo), a produção parece ignorar o vergonhoso e absurdo Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras e traz um grupo de jovens se metendo na floresta de Burkittsville, em Maryland, depois que James (James Allen McCune) é levado a crer por um vídeo da internet que sua irmã, Heather Donahue, ainda estaria perdida no local vinte longos anos após os incidentes retratados no primeiro longa. Guiado por dois nativos excêntricos, o grupo obviamente acaba descobrindo da pior maneira que a maldição da Bruxa de Blair é real.
As filmagens, por outro lado, são de uma artificialidade ímpar: como tem sido comum no subgênero, os diálogos são demasiadamente claros e limpos, os sons ambientes se distribuem com destreza entre os vários canais do sistema de som e as imagens produzidas até mesmo por câmeras minúsculas contam com qualidade exemplar - menos, claro, quando sofrem interferências, recurso também bastante batido. Ainda nesse sentido, o longa peca pelo excesso de cortes: a alternância entre as várias câmeras utilizadas pelo grupo compromete severamente a pretendida naturalidade das imagens - especialmente se compararmos com o filme de 99, que contava com apenas duas câmeras, operadas de fato pelos próprios atores, e uma edição mais simples, com planos mais longos.
Pra piorar, os realizadores também divergem criativamente em relação a alguns dos maiores êxitos do primeiro filme. Enquanto o original abria mão dos sustos, efeitos especiais e trilha sonora pra apostar todas as fichas no poder da sugestão, esta continuação acha conveniente exibir certas entidades, martelar o teor tenebroso de deteminadas passagens com acordes sonoros alheios ao universo diegético e assustar o público da forma mais gratuita possível: com elevação abrupta do som nas inúmeras aparições inexplicavelmente repentinas de praticamente todos os personagens (em certo momento, um deles até reconhece o problema e alega que "vocês têm que parar de fazer isso [aparecer de supetão]", o que não redime a falha).
Como se não bastasse, o roteiro de Barrett é um festival desregulado de clichês: quem ficaria remotamente espantado ao constatar, por exemplo, que o personagem mais incrédulo e desdenhoso em relação à maldição é também sua primeira vítima? Aliás, vale apontar que nenhum dos novos elementos apresentados surge como um complemento interessante à lenda da Bruxa de Blair: aquele envolvendo lapsos temporais, aliás, é particularmente danoso e, fatalmente, prejudica o ritmo da narrativa, quando estende demasiada e inadvertidamente a duração de certa noite. Pra piorar, a produção consegue se comprometer até mesmo na escolha das locações - e não há nada mais frustrante do que perceber que as características físicas da floresta desse novo filme destoam enormemente das paisagens vistas no original, o que arrebenta a conexão entre suas tramas (além de ter me causado calafrios pela recordação do brasileiro Desaparecidos, provavelmente o pior found footage já produzido na História).
Prejudicado, ainda, por um elenco insosso, Bruxa de Blair consegue se aproximar da produção original em ao menos um aspecto: ter contado com uma campanha de marketing cuja estratégia obteve algum êxito - mas, dessa vez, atraindo atenção para um projeto que lamentavelmente não a merecia.
Ao longo da década seguinte e respaldados pelo sucesso de A Bruxa de Blair, filmes como Cloverfield - Monstro e [REC] foram capazes de injetar novo gás aos falsos documentários com as tais "filmagens encontradas" - mas o desgaste da fórmula, a negligência de certos roteiros e até mesmo a completa incompreensão dos princípios básicos do subgênero acarretaram em uma leva de produções deploráveis, de modo que para cada triunfo como Poder Sem Limites ou Creep, fomos penalizados com desastres na linha de Filha do Mal, Projeto Dinossauro ou da penca de continuações do ótimo Atividade Paranormal.
Assim, foi com grande frustração que saí cabisbaixo da sessão deste novo Bruxa de Blair, depois de testemunhar uma marca de sucesso sendo ressuscitada após 17 anos às custas de um projeto que parece disposto a abdicar praticamente tudo que tornava o longa original uma obra tão marcante. Mais nova parceria entre o roteirista Simon Barrett e o diretor Adam Wingard (Você é o Próximo), a produção parece ignorar o vergonhoso e absurdo Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras e traz um grupo de jovens se metendo na floresta de Burkittsville, em Maryland, depois que James (James Allen McCune) é levado a crer por um vídeo da internet que sua irmã, Heather Donahue, ainda estaria perdida no local vinte longos anos após os incidentes retratados no primeiro longa. Guiado por dois nativos excêntricos, o grupo obviamente acaba descobrindo da pior maneira que a maldição da Bruxa de Blair é real.

As filmagens, por outro lado, são de uma artificialidade ímpar: como tem sido comum no subgênero, os diálogos são demasiadamente claros e limpos, os sons ambientes se distribuem com destreza entre os vários canais do sistema de som e as imagens produzidas até mesmo por câmeras minúsculas contam com qualidade exemplar - menos, claro, quando sofrem interferências, recurso também bastante batido. Ainda nesse sentido, o longa peca pelo excesso de cortes: a alternância entre as várias câmeras utilizadas pelo grupo compromete severamente a pretendida naturalidade das imagens - especialmente se compararmos com o filme de 99, que contava com apenas duas câmeras, operadas de fato pelos próprios atores, e uma edição mais simples, com planos mais longos.
Pra piorar, os realizadores também divergem criativamente em relação a alguns dos maiores êxitos do primeiro filme. Enquanto o original abria mão dos sustos, efeitos especiais e trilha sonora pra apostar todas as fichas no poder da sugestão, esta continuação acha conveniente exibir certas entidades, martelar o teor tenebroso de deteminadas passagens com acordes sonoros alheios ao universo diegético e assustar o público da forma mais gratuita possível: com elevação abrupta do som nas inúmeras aparições inexplicavelmente repentinas de praticamente todos os personagens (em certo momento, um deles até reconhece o problema e alega que "vocês têm que parar de fazer isso [aparecer de supetão]", o que não redime a falha).
Como se não bastasse, o roteiro de Barrett é um festival desregulado de clichês: quem ficaria remotamente espantado ao constatar, por exemplo, que o personagem mais incrédulo e desdenhoso em relação à maldição é também sua primeira vítima? Aliás, vale apontar que nenhum dos novos elementos apresentados surge como um complemento interessante à lenda da Bruxa de Blair: aquele envolvendo lapsos temporais, aliás, é particularmente danoso e, fatalmente, prejudica o ritmo da narrativa, quando estende demasiada e inadvertidamente a duração de certa noite. Pra piorar, a produção consegue se comprometer até mesmo na escolha das locações - e não há nada mais frustrante do que perceber que as características físicas da floresta desse novo filme destoam enormemente das paisagens vistas no original, o que arrebenta a conexão entre suas tramas (além de ter me causado calafrios pela recordação do brasileiro Desaparecidos, provavelmente o pior found footage já produzido na História).
Prejudicado, ainda, por um elenco insosso, Bruxa de Blair consegue se aproximar da produção original em ao menos um aspecto: ter contado com uma campanha de marketing cuja estratégia obteve algum êxito - mas, dessa vez, atraindo atenção para um projeto que lamentavelmente não a merecia.
