1 de maio de 2016

Crítica | Hush: A Morte Ouve

Kate Siegel em HUSH: A MORTE OUVE (Hush)

★★★

Hush, EUA, 2016 | Duração: 1h21m43s | Lançado no Brasil em 8 de abril de 2016, na Netflix | Roteiro de Mike Flanagan & Kate Siegel | Dirigido por Mike Flanagan | Com Kate Siegel, John Gallagher Jr., Samantha Sloyan e Michael Trucco.

Pôster/capa/cartaz de HUSH: A MORTE OUVE (Hush)
Em mais de uma ocasião, usei este espaço para comentar (e às vezes lamentar) o desgaste que o terror vem sofrendo ao longo dos anos. Amplamente dependente de suas convenções, o gênero segue prolífero na cena independente enquanto suplica com cada vez maior intensidade por realizadores arrojados e premissas que não só justifiquem a reutilização da cartilha de convenções, mas também que façam bom uso destas.

Hush - A Morte Ouve seria apenas mais um terror ordinário caso não introduzisse um elemento particular que dá abertura à abordagem singular de uma premissa pra lá de batida. Escrito pelo diretor Mike Flanagan e pela atriz principal Kate Siegel, o filme gira em torno de uma escritora que, isolada em uma casa remota com janelas amplas no meio de uma floresta, torna-se alvo de um psicopata mascarado com intenções homicidas e motivações incertas. O que diferencia Maddie (Siegel) das incontáveis figuras que já protagonizaram a mesmíssima história nas telonas anteriormente, porém, é que a mulher não conta com um dos sentidos: a audição. Assim, a moça se vê obrigada a redobrar a atenção e utilizar todas as ferramentas que existirem a seu favor para sair daquela situação com vida.

Embora enriqueça a narrativa, esse diferencial obviamente não impede que outros erros sejam cometidos e comprometam suavemente o projeto como um todo. Como de costume, o roteiro depende da imprudência e falta de cautela tanto da mocinha quanto do vilão para transformar um embate trivial em um longa-metragem de oitenta minutos - e os roteiristas ao menos são honestos ao assumir logo a estupidez de seu antagonista, que promete torturar psicologicamente a protagonista e só invadir a casa quando a mulher estiver derrotada pelo abatimento, permitindo, naturalmente, que Maddie elabore uma porção de pequenos planos para tentar ludibriar o psicopata vivido por John Gallagher Jr.

John Gallagher Jr. em HUSH: A MORTE OUVE (Hush)

O ator, aliás, revela-se uma escolha infeliz para o papel: habituado a dar vida a figuras inseguras ou carismáticas, Gallagher Jr. trabalha a psicopatia do homem através de caretas convencionais e jamais transforma o sujeito em uma figura mais assustadora do que o indivíduo mascarado apresentado no primeiro ato do longa. Kate Siegel, por outro lado, faz da protagonista um ser muitíssimo mais crível, que apanha para operar uma balestra e sofre de dor quando ferida enquanto evolui do incontestável e incontornável pavor inicial ao surto de coragem que a acomete na reta final do longa.

Porém, mesmo com todos os problemas, Hush é beneficiado pelo talento de Mike Flanagan, que já havia chamado a atenção no interessante O Espelho e, neste novo trabalho, faz um excelente uso das ferramentas narrativas (trilha, montagem, fotografia, edição de som) na construção da tensão do longa - especialmente ao colocar os espectadores, ouvintes em sua expressiva maioria (taí mais um filme que não funcionaria tão bem para deficientes auditivos), em posição especialmente privilegiada, compartilhada pelo vilão.

Lançado diretamente na internet, Hush - A Morte Ouve é uma produção esforçada cujos poucos recursos recaem nas mãos de profissionais competentes e promissores sobre os quais, se tivermos sorte, ouviremos bastante nos próximos anos - com o perdão pelo trocadilho infame.

John Gallagher Jr. em HUSH: A MORTE OUVE (Hush)