
Gravar vídeos conversando com uma câmera e postar na internet pode ser uma atividade altamente lucrativa nos dias atuais. Não há, entretanto, um passo-a-passo ou uma receita garantida para alcançar tal status: todos os dias, centenas de jovens devem lançar seus canais no YouTube na expectativa vã de alcançar a popularidade de sensações internacionais como Tyler Oakley, Miranda Sings, Shane Dawson e Connor Franta ou dos brasileiros Kéfera Buchmann, PC Siqueira, Jout Jout e Luba, cada qual alçado à fama on-line por circunstâncias particulares e difíceis de serem desvendadas, discernidas e enumeradas.
Trata-se de um nicho que, especialmente nos últimos meses, tem expandido em taxas exponenciais, conferindo fama apoteótica a anônimos em um fenômeno curioso e emblemático que merecia ser estudado. Infelizmente, o documentário Snervous Tyler Oakley não faz qualquer esforço de explorar as circunstâncias que transformaram o jovem de 26 anos em um dos mais populares youtubers da rede, surgindo como um documentário raso que, como bem apontou o crítico americano Noel Murray, soa mais como "parte do fenômeno, não uma examinação deste".
Murray é preciso em sua colocação: celebrados mais por seus carismas e pela forma simuladamente íntima como interagem com o público do que por habilidades artísticas ou talentos específicos, os youtubers têm aproveitado o fanatismo de uma base de fãs altamente suscetível para arrancar alguns trocados com linhas próprias de produtos, como livros e roupas. Dessa forma, Oakley é visto em Snervous rodando o mundo com um espetáculo que se resume ao protagonista sendo ele mesmo e fazendo estripulias diante de uma plateia homogeneamente histérica em um palco que reproduz o cenário de seus vídeos - e a inabilidade de incutir relevância no material que acompanha Tyler fora dos palcos prova que tanto o espetáculo quanto o documentário são, de fato, meros subprodutos com o selo Tyler Oakley.
Muitíssimo menos sutil do que obras como Katy Perry: Part of Me em suas tentativas de transformar o protagonista em uma figura humana, com falhas, defeitos e afetado pelos infortúnios da fama, o filme possui uma montagem grosseira (os cortes bruscos para telas pretas com textos explicativos parecem evocar uma importância incompatível com o conteúdo) e não consegue sequer evidenciar, por exemplo, a afinidade de Oakley, homossexual assumido, com a causa LGBT, limitando-se a relatar a experiência pessoal do rapaz e os conflitos familiares gerados pela questão.
Incapaz de estabelecer um tema ou um assunto central, Snervous Tyler Oakley é um documentário que não diz muito sobre uma figura que não tem muito a dizer - e se os vídeos de Oakley já estão se tornando demasiadamente enlatados e afetados pela bajulação excessiva da base de fãs, definitivamente não será um esforço encenado como esse que irá melhorar a situação.
★★
Snervous Tyler Oakley, EUA, 2015 | Duração: 1h22m54s | Lançado no Brasil em 15 de fevereiro de 2016, na Netflix | Dirigido por Amy Rice | Com Tyler Oakley e Korey Kuhl.
