
★★
The Good Dinosaur, EUA, 2015 | Duração: 1h33 | Lançado no Brasil em 7 de janeiro de 2016, nos cinemas | Conceito original e desenvolvimento de Bob Peterson. História de Peter Sohn & Erik Benson & Meg LeFauve & Kelsey Mann & Bob Peterson, Roteiro de Meg LeFauve | Dirigido por Peter Sohn | Com as vozes de Raymond Ochoa, Jack Bright, Jeffrey Wright, Frances McDormand, Marcus Scribner, Steve Zahn, Anna Paquin, Sam Elliot e John Ratzenberger.
Em algum momento ao longo dos 10 primeiros minutos de O Bom Dinossauro, fui repentinamente acometido pela certeza de que o pai do protagonista morreria a qualquer instante. Ainda desconheço os motivos exatos que me conduziram a tal conclusão, mas tenho alguns palpites: antes de mais nada, o filme introduz o protagonista como um dinossauro estabanado e covarde que, inserido em um núcleo familiar que estimula a competição entre os irmãos (cada qual deve desempenhar com excelência tarefas específicas para "deixar sua marca" no silo da família), estabelece uma relação conturbada com seu patriarca, por quem nutre uma idolatria e uma admiração jamais retribuídas. Além disso, a introdução da narrativa é extremamente esquemática e possui um teor educativo que beira o vexaminoso, de modo que, somando ao que foi dito anteriormente, a tal tragédia traz à tona todo o dramalhão e os típicos conflitos emocionais pretendido por esse tipo de trama, conduzindo o protagonista por uma jornada óbvia e previsível de aprendizado, autoconhecimento e crescimento pessoal.
Infelizmente, eu estava certo. Escrito por Meg LeFauve (do brilhante Divertida Mente) a partir de uma história bolada por Bob Peterson (Up - Altas Aventuras) e desenvolvida por outros quatro profissionais (incluindo o diretor Peter Sohn), o filme se passa alguns milhões de anos após a não-extinção dos dinossauros e gira em torno de Arlo (Raymond Ochoa), a ovelha negra de uma família dos répteis mesozoicos que, após testemunhar o pai perdendo a vida para salvá-lo de uma grande enxurrada, vai atrás do suposto culpado - Spot (Jack Bright), um pequeno e selvagem humano - em busca de vingança, até descobrir que o garoto é, na verdade, dócil e amigável. Assim, Arlo e Spot desenvolvem um companheirismo repleto de cumplicidade enquanto tentam retornar ao lar do protagonista, enfrentando no caminho a hostilidade de predadores e da vida selvagem.
Sem apresentar uma ideia original, surpreendente ou ousada sequer ao longo de seus mais de noventa minutos, O Bom Dinossauro é comprometido por uma narrativa terrivelmente frouxa, amarrada por lições óbvias e baratas que poderiam perfeitamente ser encontradas em um livro didático de pré-escola de segunda linha. Com uma falta de ambição que lembra os estúdios Blue Sky e Dreamworks em seus momentos mais embaraçosos, o filme recicla uma infinidade de ideias já abordadas anteriormente pela produção do gênero e mancha o currículo majoritariamente admirável da Pixar especialmente no quesito emotividade - e embora haja algum peso em uma ou outra cena, a insipidez e a falta de empatia generalizada colocam esses momentos hipoteticamente mais tocantes a anos-luz de distância dos rios de lágrimas já derramados graças aos brinquedos de Andy, às emoções de Riley ou à vida de casados dos Fredricksen.
Como se não bastasse, O Bom Dinossauro não merece elogios nem mesmo em termos técnicos: a trilha não possui qualquer tema marcante, o design dos cenários é até competente, mas não chama muita atenção, ao passo que a estética dos personagens decepciona profundamente, chegando a gerar incômodo: enquanto alguns remetem até mesmo aos traços e proporções grotescos do péssimo O Segredo dos Animais, outros parecem saídos diretamente da interminável e nada marcante galeria de personagens secundários da franquia A Era do Gelo. Para completar, a irregularidade do projeto fica mais do que evidente quando nos damos conta de que a cena mais eficaz da projeção é, também, a mais inadequada e fora de propósito; refiro-me, evidentemente, à passagem em que Arlo e Spot ingerem frutas estragadas com propriedade alucinógenas e embarcam em delírios psicodélicos perturbadores.
Carregando o grandioso selo de um estúdio consagrado pelo charme de seus personagens, pela inventividade técnica e pela imersividade de suas narrativas, O Bom Dinossauro proporciona uma experiência truncada que, a cada nova oportunidade desperdiçada de se reerguer, perde a atenção do espectador ao despertar perplexidade por todos os esforços investidos em um produto irremediavelmente indigesto.
Infelizmente, eu estava certo. Escrito por Meg LeFauve (do brilhante Divertida Mente) a partir de uma história bolada por Bob Peterson (Up - Altas Aventuras) e desenvolvida por outros quatro profissionais (incluindo o diretor Peter Sohn), o filme se passa alguns milhões de anos após a não-extinção dos dinossauros e gira em torno de Arlo (Raymond Ochoa), a ovelha negra de uma família dos répteis mesozoicos que, após testemunhar o pai perdendo a vida para salvá-lo de uma grande enxurrada, vai atrás do suposto culpado - Spot (Jack Bright), um pequeno e selvagem humano - em busca de vingança, até descobrir que o garoto é, na verdade, dócil e amigável. Assim, Arlo e Spot desenvolvem um companheirismo repleto de cumplicidade enquanto tentam retornar ao lar do protagonista, enfrentando no caminho a hostilidade de predadores e da vida selvagem.

Sem apresentar uma ideia original, surpreendente ou ousada sequer ao longo de seus mais de noventa minutos, O Bom Dinossauro é comprometido por uma narrativa terrivelmente frouxa, amarrada por lições óbvias e baratas que poderiam perfeitamente ser encontradas em um livro didático de pré-escola de segunda linha. Com uma falta de ambição que lembra os estúdios Blue Sky e Dreamworks em seus momentos mais embaraçosos, o filme recicla uma infinidade de ideias já abordadas anteriormente pela produção do gênero e mancha o currículo majoritariamente admirável da Pixar especialmente no quesito emotividade - e embora haja algum peso em uma ou outra cena, a insipidez e a falta de empatia generalizada colocam esses momentos hipoteticamente mais tocantes a anos-luz de distância dos rios de lágrimas já derramados graças aos brinquedos de Andy, às emoções de Riley ou à vida de casados dos Fredricksen.
Como se não bastasse, O Bom Dinossauro não merece elogios nem mesmo em termos técnicos: a trilha não possui qualquer tema marcante, o design dos cenários é até competente, mas não chama muita atenção, ao passo que a estética dos personagens decepciona profundamente, chegando a gerar incômodo: enquanto alguns remetem até mesmo aos traços e proporções grotescos do péssimo O Segredo dos Animais, outros parecem saídos diretamente da interminável e nada marcante galeria de personagens secundários da franquia A Era do Gelo. Para completar, a irregularidade do projeto fica mais do que evidente quando nos damos conta de que a cena mais eficaz da projeção é, também, a mais inadequada e fora de propósito; refiro-me, evidentemente, à passagem em que Arlo e Spot ingerem frutas estragadas com propriedade alucinógenas e embarcam em delírios psicodélicos perturbadores.
Carregando o grandioso selo de um estúdio consagrado pelo charme de seus personagens, pela inventividade técnica e pela imersividade de suas narrativas, O Bom Dinossauro proporciona uma experiência truncada que, a cada nova oportunidade desperdiçada de se reerguer, perde a atenção do espectador ao despertar perplexidade por todos os esforços investidos em um produto irremediavelmente indigesto.
