1 de abril de 2015

Crítica | Velozes e Furiosos 7

VELOZES E FURIOSOS 7 (Furious 7)

★★

Furious 7, EUA, 2015 | Duração: 2h17m46s | Lançado no Brasil em 2 de abril de 2015, nos cinemas | Baseado nos personagens de Gary Scott Thompson. Escrito por Chris Morgan | Dirigido por James Wan | Com Vin Diesel, Paul Walker, Michelle Rodriguez, Jason Statham, Tyrese Gibson, Chris 'Ludacris' Bridges, Jordana Brewster, Dwayne Johnson, Kurt Russell, Lucas Black, Nathalie Emmanuel, Djimon Hounsou, John Brotherton, Elsa Pataky, Tony Jaa e Ronda Rousey.

Pôster/capa/cartaz nacional e crítica de VELOZES E FURIOSOS 7 (Furious 7)Até Velozes & Furiosos 6, a longevidade da franquia de ação iniciada em 2001 soava como um fenômeno, no mínimo, interessante: após tropeçar feio do segundo ao quarto exemplar, a série ganhou um surpreendente novo fôlego a partir de Velozes & Furiosos 5: Operação Rio, quando passou a conquistar seus melhores resultados de bilheteria e crítica. Entretanto, com o lançamento deste sétimo longa, a sobrevida da franquia passou a me preocupar seriamente: a falta latente de originalidade e a sucessão de erros cometidos pela produção surgem como razões mais que suficientes para encerrar os trabalhos por aqui, evitando que a situação piore ainda mais.

Escrito novamente por Chris Morgan (que assumiu a função pela primeira vez derrapando em Desafio em Tóquio), Velozes e Furiosos 7 segue o gancho deixado pelo desfecho do último filme e traz Jason Statham no papel de Deckard Shaw, um criminoso implacável que embarca em uma missão de vingança após a equipe liderada por Dominic Toretto (Vin Diesel) enviar seu irmão, o vilão da trama anterior (vivido por Luke Evans), para um leito hospitalar, repleto de fraturas e contusões. Após breves e irresolutos encontros entre mocinhos e vilão, Dom é convidado por um agente do governo (Kurt Russell) a assumir a missão de resgate da hacker Ramsey (Nathalie Emmanuel), que se encontra sob domínio do terrorista Jakande (Djimon Hounsou) - e, em troca, Toretto teria acesso ao Olho de Deus, uma aparelhagem altamente sofisticada (e clichê) que, invadindo qualquer dispositivo eletrônico do mundo que contenha câmera ou microfone, é capaz de rastrear e apontar a localização de Shaw (ou de qualquer outro indivíduo do planeta) em questão de minutos.

Estreando na franquia após quatro trabalhos consecutivos do taiwanês Justin Lin, o malaio James Wan se revela uma escolha estranha e, de certa forma, equivocada para a direção: reconhecido por seu trabalho em filmes de terror (de Jogos Mortais ao cultuado Invocação do Mal), o cineasta lança mão de algumas afetações pouco eficientes e demonstra certa falta de jeito com o novo gênero. Assim, Wan já inicia seu trabalho tentando inserir o filme na embalagem da franquia à força, inundando a tela com mulheres provocantes, gasolina e testosterona gratuitas e apostando em ineficazes aceleradas na imagem que remetem às menos louváveis produções estreladas por Jason Statham, comprometendo a eficácia de uma cena com inegável potencial. Além disso, em várias ocasiões, as corridas, perseguições e lutas parecem bem mais confusas e incompreensíveis do que o ideal, ao passo que pouquíssimos planos ou trechos das sequências de ação se destacam, chamam mais atenção ou causam maior impacto, o que é uma pena.

Ainda nesse sentido, o trabalho de Wan também é comprometido por efeitos especiais surpreendentemente irregulares: repare, por exemplo, como os carros que despencam de um avião são muitíssimo mais realistas do que aquele absurdamente artificial que atravessa o vão entre prédios em Abu Dhabi, e como isso afeta diretamente o resultado das respectivas passagens. Porém, a pior decisão técnica de Velozes e Furiosos 7 é, sem a menor sombra de dúvida, a conversão do filme para 3D: exibindo uma série de inconsistências físicas já nos primeiros segundos de projeção (rack focuses, árvores e miragens do asfalto são completamente negligenciados pela conversão), o uso da fajuta tecnologia tridimensional destrói tanto o visual do filme quanto a experiência do público - e até mesmo a opção de Wan de girar a câmera acompanhando cambalhotas ou outras estripulias dos personagens em determinadas ocasiões é capaz de aproximar o espectador da ação com mais eficiência do que a horrorosa tridimensionalidade.

Dwayne Johnson e Jason Statham em VELOZES E FURIOSOS 7 (Furious 7)

Mas, evidentemente, não é só em questões técnicas que Velozes e Furiosos 7 decepciona: o roteiro, que se leva muitíssimo mais a sério do que deveria, é consideravelmente estúpido e em incontáveis ocasiões se coloca acima do bom senso e da inteligência do espectador. Além de requentar elementos prévios (praticamente todos os dramas de todos os personagens) e repetir fórmulas (depois de lutar contra Gina Carano no filme anterior, Michelle Rodriguez agora enfrenta outra lutadora de MMA, Ronda Rousey), o filme é sensivelmente prejudicado pela forma arbitrária como Morgan e Wan lidam com os riscos a que os personagens são expostos, anulando as cotas de fatalidade de acidentes altamente destruidores e violentos (como uma batida frontal proposital em alta velocidade) ao mesmo tempo em que transforma determinada colisão substancialmente mais simples (para os padrões vigentes) em uma situação absurdamente dramática para o motorista envolvido - e confesso que, ciente da necessidade de reajustes na trama criada pelo falecimento do ator Paul Walker durante as filmagens, as únicas cenas que me causaram algum tipo de tensão foram aquelas envolvendo Brian, já que a morte do personagem rondava minha mente como uma solução possível para a provável defasagem nas filmagens.

O que nos leva, naturalmente, à homenagem que a produção oferece a Walker - e encerre a leitura por aqui caso revelações desta natureza lhe desagradem. Ao que tudo indica, o conflito de Brian como pai de uma família ameaçada de morte já fazia parte do roteiro desde o princípio; entretanto, o esforço de intensificar este drama do sujeito fica muitíssimo evidente na trilha sonora de Brian Tyler, que surge demasiadamente melosa e melancólica em todas as cenas envolvendo esta faceta do personagem. Dessa forma, o filme parece bastante disposto a integrar o trágico e precoce fim da trajetória do ator à narrativa, por mais desajeitada e inapropriada que a tentativa pareça ou se revele - o que é confirmado pelo desfecho do filme, que escancara essa intenção em uma sequência tão tocante quanto apelativa, milimetricamente arquitetada para conduzir os espectadores ao choro (dentre os quais, confesso, me incluo) e com direito à única (ou mais explícita) e ligeiramente grotesca inserção digital do rosto do ator no corpo de um dublê.

Frustrando o público com um vilão caricato construído em torno do mesmíssimo tipo implacável e presunçoso que Jason Statham já encarnou incontáveis vezes em sua carreira, Velozes e Furiosos 7 é uma produção que busca incessantemente o humor com sucesso meramente ocasional (a cena absurda e hilária em que determinado personagem decide por conta própria encerrar o tratamento de um fratura e rompe o gesso que encobria seu braço é, talvez, o ponto alto da projeção nesse sentido) e, sobretudo, comprova que a fonte de inspiração da franquia parece irremediavelmente comprometida, qualquer que tenha sido o potencial contido na equipe ou no universo que forneceu gás para que a série caminhasse até aqui. Talvez esteja mesmo na hora de fazer jus à promessa que, de um modo ou de outro, vários dos filmes fizeram e nenhum ainda cumpriu: a de aposentar de vez esta possante máquina de fazer dinheiro.

Paul Walker em VELOZES E FURIOSOS 7 (Furious 7)