
★★★★
Kingsman: The Secret Service, Reino Unido, 2014 | Duração: 2h08m35s | Lançado no Brasil em 5 de março de 2015, nos cinemas | Baseado nos quadrinhos de Mark Millar e Dave Gibbons. Roteiro de Jane Goldman & Matthew Vaughn | Dirigido por Matthew Vaughn | Com Colin Firth, Taron Egerton, Mark Strong, Samuel L. Jackson, Sofia Boutella, Sophie Cookson, Jack Davenport, Mark Hamill e Michael Caine.
Grande parte do sucesso de Kingsman - Serviço Secreto reside na abordagem adotada pelo cineasta Matthew Vaughn: a rigor, o roteiro não apresenta uma trama de espionagem particularmente original ou inusitada, mas o modo irreverente como a narrativa é conduzida e desenvolvida, com doses equilibradas de violência e humor negro, é suficiente para contornar problemas dessa natureza e fazer do filme uma obra reverencial, divertida e empolgante.
Sexta parceria de Vaughn e Jane Goldman, o roteiro mostra ao público que, por trás da fachada inofensiva da alfaiataria britânica Kingsman, funciona uma sofisticada agência secreta que acaba de perder um de seus membros, Lancelot (Jack Davenport), literalmente partido ao meio durante uma missão. Honrando a memória de um antigo companheiro, também morto em combate anos antes, o agente Harry Hart (Colin Firth), de codinome Galahad, oferece ao filho do sujeito, Eggsy (Taron Egerton), a oportunidade de ingressar em um programa de treinamento da agência, organizado com o intuito de escolher um jovem talento para ocupar a vaga aberta na equipe. Entretanto, a atenção dos Kingsmen logo se divide entre a seleção do novo Lancelot e as manobras escusas do magnata americano Valentine (Samuel L. Jackson), cujo plano megalomaníaco põe em risco centenas de milhões de vidas ao redor do mundo.
Baseado nos quadrinhos de Mark Millar (cujo Kick-Ass ganhou as telonas também pelas mãos de Vaughn, com uma abordagem bastante semelhante à vista aqui) e Dave Gibbons (ilustrador do igualmente violento Watchmen), Kingsman é ambientado em um universo em que ternos sofisticados feitos sob medida são a vestimenta ideal para agentes secretos, geringonças dignas das primeiras encarnações James Bond (como guarda-chuvas multiusos, canetas com veneno de acionamento remoto e sapatos com lâminas retráteis embutidas) salvam o dia e Colin Firth possui o biotipo esperado de um espião implacável. Aliás, testemunhar o ator assumindo tal papel inusitado é uma das grandes graças do projeto: com uma postura que inspira confiança e elegância, Firth vive Galahad como um homem extremamente inteligente, habilidoso e bem treinado que, claro, usa sua aparência comum e insuspeita a seu favor - e é uma grata surpresa ver que o ator encarando uma considerável parcela de suas cenas de ação, conferindo maior credibilidade à transformação de Hart em uma máquina de matar nos momentos necessários.
Nesse sentido, a decisão de não maquiar a maior parte da violência e o interessante trabalho de câmera de Vaughn contribuem para o resultado curioso das sequências de ação, cuja agitação peculiar intensifica os socos, pancadas e pontapés dos combatentes com surpreendente eficiência. Além disso, o cineasta toma a decisão arriscada (e, de certa forma, acertada) de abraçar o humor negro com o propósito de contornar as naturais questões morais que surgem e marcam determinadas passagens - e, mesmo assim, o confronto ambientado em uma igreja consegue a proeza de se estabelecer como uma das cenas mais perturbadoras do ano. Por fim, a condução firme e precisa de determinado salto de paraquedas ou da escapada de certa sala inundada apenas reforçam o talento do diretor.
Homenageando o gênero de espionagem através da reunião de elementos tradicionais com um olhar despretensioso que beira a sátira, Kingsman também conta com sua parcela de diálogos inspirados (a discussão em torno do significado da sigla JB, nome dado por Eggsy a seu cachorro, é um deles) e ainda ganha pontos graças à coragem de determinada quebra de expectativa e, principalmente, pela capacidade de impedir que o terceiro ato seja afetado por ela. Porém, nem todas as decisões de Vaughn e Goldman merecem a mesma carga de elogios: sim, as discussões metalinguísticas referentes aos clichês clássicos do gênero revelam-se apropriadas e relevantes para certo ponto de virada da narrativa, mas soam óbvias e até mesmo forçadas em outros contextos - o que, ainda assim, é absolutamente menos constrangedor do que a piada deslocada envolvendo sexo anal inserida nos arredores do desfecho. Além disso, os roteiristas desperdiçam tempo ao valorizar em demasia a dinâmica do grupo de jovens em treinamento, que inclui bullies imaturos e seus respectivos oprimidos - algo esperado de um filme colegial adolescente, e não de um grupo selecionado por agentes daquele calibre.
Apresentando ao grande público o simpático, carismático, belo e promissor Taron Egerton e trazendo Samuel L. Jackson claramente entretido com os detalhes da composição de seu vilão, caricato de um modo positivo e coerente com o projeto, Kingsman - Serviço Secreto é um passatempo de ponta que dá continuidade à sequência invicta de acertos da aclamada carreira de Matthew Vaughn.
Sexta parceria de Vaughn e Jane Goldman, o roteiro mostra ao público que, por trás da fachada inofensiva da alfaiataria britânica Kingsman, funciona uma sofisticada agência secreta que acaba de perder um de seus membros, Lancelot (Jack Davenport), literalmente partido ao meio durante uma missão. Honrando a memória de um antigo companheiro, também morto em combate anos antes, o agente Harry Hart (Colin Firth), de codinome Galahad, oferece ao filho do sujeito, Eggsy (Taron Egerton), a oportunidade de ingressar em um programa de treinamento da agência, organizado com o intuito de escolher um jovem talento para ocupar a vaga aberta na equipe. Entretanto, a atenção dos Kingsmen logo se divide entre a seleção do novo Lancelot e as manobras escusas do magnata americano Valentine (Samuel L. Jackson), cujo plano megalomaníaco põe em risco centenas de milhões de vidas ao redor do mundo.
Baseado nos quadrinhos de Mark Millar (cujo Kick-Ass ganhou as telonas também pelas mãos de Vaughn, com uma abordagem bastante semelhante à vista aqui) e Dave Gibbons (ilustrador do igualmente violento Watchmen), Kingsman é ambientado em um universo em que ternos sofisticados feitos sob medida são a vestimenta ideal para agentes secretos, geringonças dignas das primeiras encarnações James Bond (como guarda-chuvas multiusos, canetas com veneno de acionamento remoto e sapatos com lâminas retráteis embutidas) salvam o dia e Colin Firth possui o biotipo esperado de um espião implacável. Aliás, testemunhar o ator assumindo tal papel inusitado é uma das grandes graças do projeto: com uma postura que inspira confiança e elegância, Firth vive Galahad como um homem extremamente inteligente, habilidoso e bem treinado que, claro, usa sua aparência comum e insuspeita a seu favor - e é uma grata surpresa ver que o ator encarando uma considerável parcela de suas cenas de ação, conferindo maior credibilidade à transformação de Hart em uma máquina de matar nos momentos necessários.

Nesse sentido, a decisão de não maquiar a maior parte da violência e o interessante trabalho de câmera de Vaughn contribuem para o resultado curioso das sequências de ação, cuja agitação peculiar intensifica os socos, pancadas e pontapés dos combatentes com surpreendente eficiência. Além disso, o cineasta toma a decisão arriscada (e, de certa forma, acertada) de abraçar o humor negro com o propósito de contornar as naturais questões morais que surgem e marcam determinadas passagens - e, mesmo assim, o confronto ambientado em uma igreja consegue a proeza de se estabelecer como uma das cenas mais perturbadoras do ano. Por fim, a condução firme e precisa de determinado salto de paraquedas ou da escapada de certa sala inundada apenas reforçam o talento do diretor.
Homenageando o gênero de espionagem através da reunião de elementos tradicionais com um olhar despretensioso que beira a sátira, Kingsman também conta com sua parcela de diálogos inspirados (a discussão em torno do significado da sigla JB, nome dado por Eggsy a seu cachorro, é um deles) e ainda ganha pontos graças à coragem de determinada quebra de expectativa e, principalmente, pela capacidade de impedir que o terceiro ato seja afetado por ela. Porém, nem todas as decisões de Vaughn e Goldman merecem a mesma carga de elogios: sim, as discussões metalinguísticas referentes aos clichês clássicos do gênero revelam-se apropriadas e relevantes para certo ponto de virada da narrativa, mas soam óbvias e até mesmo forçadas em outros contextos - o que, ainda assim, é absolutamente menos constrangedor do que a piada deslocada envolvendo sexo anal inserida nos arredores do desfecho. Além disso, os roteiristas desperdiçam tempo ao valorizar em demasia a dinâmica do grupo de jovens em treinamento, que inclui bullies imaturos e seus respectivos oprimidos - algo esperado de um filme colegial adolescente, e não de um grupo selecionado por agentes daquele calibre.
Apresentando ao grande público o simpático, carismático, belo e promissor Taron Egerton e trazendo Samuel L. Jackson claramente entretido com os detalhes da composição de seu vilão, caricato de um modo positivo e coerente com o projeto, Kingsman - Serviço Secreto é um passatempo de ponta que dá continuidade à sequência invicta de acertos da aclamada carreira de Matthew Vaughn.
