
Diferentemente da expressiva maioria dos personagens semelhantes, Abel Morales (Oscar Isaac) é um empresário ambicioso que toca uma bem sucedida companhia petroleira seguindo preceitos éticos e um código moral bastante razoáveis. Entretanto, a expansão do negócio com a compra de um terreno com localização estratégica coincide com uma onda de crimes e violência que afeta diretamente a transação - afinal, a narrativa é ambientada na Nova York de 1981, tido como um dos anos mais violentos da história da cidade.
Escrito e dirigido por J.C. Chandor, o filme acompanha o personagem de Oscar Isaac tentando oficializar a compra da tal propriedade enquanto sua empresa é auditorada sob suspeita de atividades ilegais, o que faz com que o banco recue em relação a um importante empréstimo e obriga o protagonista a se desdobrar para levantar a polpuda quantia de dinheiro necessária para concluir a compra - e, como se não bastasse, a saúde financeira da Standard Heating Oil ainda está sendo ameaçada por sucessivos roubos de caminhões-tanque. Nessas circunstâncias, O Ano Mais Violento se propõe a estudar como iniciativas criminosas infectam a atividade de grandes corporações e, naturalmente, comprometem os esforços daqueles que se empenham em conduzir os negócios pelas vias legais. Mais que isso, o filme expõe como a integridade do protagonista é sistematicamente ameaçada por suas ambições comerciais - e é emblemática a cena em que o homem, embora não induza uma tragédia cujas consequências fariam bem aos negócios, tampouco se esforça para impedir que ela ocorra, além de providenciar com prontidão e frieza uma solução para um efeito colateral do incidente.
Desenvolvendo a trama de forma muitas vezes demasiadamente lenta, Chandor cria rimas visuais que não agregam muito à produção (como a repetição de um movimento de câmera que acompanha o protagonista e um de seus funcionários correndo em momentos distintos da projeção) e, com exceção de pequenos sustos que exprimem a natureza abrupta, aleatória ou impactante de determinados acontecimentos, rompe a monotonia de forma mais incisiva apenas em uma ocasião, na sequência de perseguição cujos méritos são suficientes para que ela funcione bem mesmo com sua curta duração.
Conferindo à esposa de Abel uma importância bem menor do que a superexposição de Jessica Chastain no material de divulgação parecia apontar, O Ano Mais Violento é um filme que, embora ambicioso e esforçado, sofre com um roteiro ligeiramente redundante: a certa altura, acompanhar os esforços do protagonista para contornar demanda um enorme investimento de tempo, paciência e atenção do espectador e pouco alimenta ou diversifica a reflexão temática proposta pelo cineasta. Nada, entretanto, que condene efetivamente a eficiência deste interessante thriller dramático.
★★★
A Most Violent Year, EUA/Emirados Árabes Unidos, 2014 | Duração: 2h04m29s | Lançado no Brasil em 2 de abril de 2015, nos cinemas | Roteiro de J.C. Chandor | Dirigido por J.C. Chandor | Com Oscar Isaac, Jessica Chastain, David Oyelowo, Albert Brooks, Elyes Gabel e Alessandro Nivola.
