10 de fevereiro de 2015

A Casa dos Mortos

Scott Mechlowicz, Alex Goode, Aaron Yoo, Cody Horn, Dustin Milligan e Megan Park em A CASA DOS MORTOS (Demonic)

Alguns anos e um par de fracassos na carreira do malaio James Wan separam o sucesso inesperado de Jogos Mortais e o lançamento do bem sucedido Sobrenatural, quando o cineasta voltou a chamar a atenção do público e da crítica - mas foi só em 2013, com Invocação do Mal e Sobrenatural: Capítulo 2 transformando US$ 25 milhões de orçamento em US$ 480 milhões de bilheteria, que Wan se estabeleceu como um dos nomes mais importantes do cinema de terror da atualidade. Entretanto, contrariando as expectativas em relação a seu próximo projeto, o diretor surpreendeu ao assumir o comando do sétimo capítulo da franquia Velozes & Furiosos - o que não o impediu, entretanto, de manter-se ativo paralelamente no gênero que lhe rendeu fama, atuando como produtor no lucrativo Annabelle (spin-off de Invocação do Mal) e neste terrível A Casa dos Mortos.

Escrito pelo diretor Will Canon ao lado de Doug Simon e do argumentista Max La Bella, o filme acompanha um grupo de jovens que, interessados em matérias relacionadas ao ocultismo, decidem passar a noite em uma casa tida como mal assombrada e que, décadas antes, sediou uma bizarra e mal esclarecida chacina. Paralelamente, o longa retrata os esforços do detetive Mark Lewis (Frank Grillo) e da psicóloga Elizabeth Klein (Maria Bello) para desvendar os eventos ocorridos no local durante a permanência do grupo, que culminou em mortos, desaparecidos e um jovem em estado de choque cujo depoimento volátil só torna o caso ainda mais entranho e perturbador.

Produção enxuta que aposta em um elenco de segunda linha e em uma trama com poucos cenários e aparatos simples, A Casa dos Mortos depende imensamente de um roteiro inteligente e bem escrito e de uma direção firme para funcionar - e é justamente a falta desses elementos que condena de vez o projeto. Apelando para vários dos clichês mais batidos ligados a casas assombradas, ritos satânicos e possessão demoníaca, o texto ainda ousa vincular a péssima explicação por trás dos mistérios a reviravoltas absurdas que, vistas em retrospecto, apenas evidenciam a falta de criatividade e a arbitrariedade por trás do argumento de La Bella.

Por causa disso, pouco pode ser feito pelo desconhecido Will Canon para salvar a produção: os personagens e o pano de fundo da trama são incrivelmente mal desenvolvidos, o uso de câmeras amadoras pelos jovens (remetendo ao subgênero found footage) é falho e mal explorado e os poucos momentos de tensão são ofuscados por incontáveis sustos vazios, provocados, como sempre, por vultos, espíritos e explosões repentinas da trilha sonora. Além disso, o descaso com a inteligência do espectador é explícito em vários momentos, como naquele em que o simples mal funcionamento de uma caixa de música torna-se uma pista inexplicavelmente clara de que certo tapete disposto em outro cômodo da casa merece ser investigado.

Com pouco mais de 80 minutos de duração, A Casa dos Mortos é um projeto sem personalidade cujo desfecho, supostamente espetinho e terrificante, apenas causa raiva pela imbecilidade, vergonha pela presunção e uma rebarba de alívio, por sabermos que o martírio de assistir ao filme chegou ao fim.


Demonic, EUA/Reino Unido, 2015 | História de Max La Bella. Roteiro de Will Canon, Doug Simon e Max La Bella | Dirigido por Will Canon | Com Dustin Milligan, Frank Grillo, Maria Bello, Cody Horn, Scott Mechlowicz, Megan Park, Alex Goode, Aaron Yoo.