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Heaven is for Real, EUA, 2014 | Duração: 1h39 | Lançado no Brasil em 3 de Julho de 2014, nos cinemas | Baseado no livro de Todd Burpo e Lynn Vincent. Roteiro de Randall Wallace e Christopher Parker | Dirigido por Randall Wallace | Com Greg Kinnear, Kelly Reilly, Connor Corum, Thomas Haden Church, Lane Styles e Margo Martindale.
Esta, claro, não é a mais incisiva das estratégias utilizada pelo filme para tentar provar seu ponto. Dirigido por Randall Wallace, O Céu é de Verdade faz questão de reforçar desde o início que a narrativa é baseada em uma história verídica – e acreditar no Céu com base nisso equivale a admitir que fantasmas existem após ter visto A Invocação do Mal, outro que alega se inspirar em eventos reais. Da mesma forma, a presença de indivíduos céticos sendo gradualmente convencidos por evidências supostamente irrefutáveis apresentadas pelo jovem Colton não é nenhuma novidade; na verdade, esta é a estratégia central do longa, já que o aparente clímax dramático da narrativa (extremamente frustrante, vale apontar) ocorre quando a mais incrédula das personagens finalmente é convencida pelo garoto.

Aliás, diferentemente de lixos repugnantes como o dramalhão religioso Corajosos, O Céu é de Verdade não traz qualquer pregação mais explícita e não comete o equívoco de demonizar descrentes ou ateus; ao invés disso, o filme chega até mesmo a articular um discurso de tolerância com adversidades e crenças (ou descrenças) alheias, o que é bastante positivo. Para completar, a produção chega bem perto de se desvincilhar de rótulos religiosos definitivos ao admitir, a certa altura, que acreditar ou não no Céu está vinculado à própria ideia que cada um possui a respeito do tema: em um discurso próximo ao desfecho, o pastor vivido por Greg Kinnear sugere que o Céu pode estar (breguice alert!) "no sorriso de uma criança", por exemplo.
Infelizmente, o filme peca por contrariar esta postura mais libertária ao tentar, até o último segundo, convencer o público da existência de um espaço metafísico transcendental para onde todas as boas almas vão após a morte. Além disso, o roteiro falha ao abandonar repentinamente certos conflitos (como as crescentes dificuldades financeiras da família Burpo foram superadas?) e por desperdiçar oportunidades de explorar temas interessantes e pertinentes, como a crueldade do sistema de saúde norte-americano.
Assim, O Céu é de Verdade se estabelece como um drama familiar aborrecido, monótomo e segregador de público, devendo funcionar apenas como reafirmação de crenças para aqueles que já as possuem – e se o interesse por um acaso for conferir Greg Kinnear em uma produção com temática religiosa, o mordaz e pouco conhecido E… Que Deus Nos Ajude!!! pode ser uma alternativa muito mais interessante e proveitosa.
