
★★★
Planes: Fire & Rescue, EUA, 2014 | Duração: 1h23 | Lançado no Brasil em 17 de Julho de 2014, nos cinemas | Baseado nos personagens de John Lasseter, Klay Hall e Jeffrey M. Howard. História de Bobs Gannaway e Jeffrey M. Howard. Roteiro de Jeffrey M. Howard | Dirigido por Bobs Gannaway | Com as vozes de Dane Cook, Ed Harris, Julie Bowen, Curtis Armstrong, John Michael Higgins, Hal Holbrook, Wes Studi, Brad Garrett, Teri Hatcher, Stacy Keach, Cedric the Entertainer, Jerry Stiller, Patrick Warburton e John Ratzenberger.

Produzido pela DisneyToon Studios (subdivisão da companhia do Mickey Mouse responsável por continuações de qualidade duvidosa de clássicos do estúdio e filmes derivativos como os da franquia Tinker Bell), o longa traz o ex-avião pulverizador Dusty Voo-Rasante tendo sua breve e apoteótica carreira como aeronave de corrida sendo interrompida por um defeito incorrigível na caixa de redução, mecanismo cujo modelo encontra-se fora de linha e, portanto, indisponível para substituição. Desobedecendo o conselho médico/mecânico de não exceder o limite de segurança estipulado para manobras arriscadas, Dusty acaba provocando um grande incêndio em um posto de combustível de Propwash Junction – o que chama a atenção das autoridades para a falta de preparo e estrutura do departamento de bombeiros da localidade. Assim, o protagonista se dispõe a ser treinado e equipado para se tornar um SEAT (sigla em inglês para aviões usados no combate às chamas), de modo a cumprir as metas estipuladas para que o aeroporto da cidade seja reaberto e o tradicional Festival do Milho não seja cancelado.
Escrito por Jeffrey M. Howard e pelo diretor Bobs Gannaway, o roteiro certamente não é o ponto alto do projeto: como era de se esperar, Dusty é alvo de desdém por parte dos experientes membros da companhia de combate a incêndios do Parque Nacional Pico Pistão até conseguir provar seu valor e conquistar a confiança do grupo – e também não é nenhuma surpresa que o rígido e exigente líder da equipe, o Patrulheiro Blade, possua um passado obscuro e seja particularmente desconfiado e rigoroso com o protagonista, selando a batida relação entre tutor e aprendiz que já havia sido desenvolvida de forma bem parecida tanto no filme anterior quanto em Carros. Da mesma forma, é frustrante notar como os roteiristas usam uma subtrama absolutamente deslocada envolvendo um casal de trailers como distração para a grande crise do terceiro ato, cuja difícil e desafiadora resolução não é revelada para o público.

Todavia, o roteiro é redondinho, coeso e enxuto o suficiente para não aborrecer: os constantes reforços do heroísmo de Dusty são bem mais toleráveis que a trama do underdog em competição desenvolvida pelo filme anterior, por exemplo. Além disso, Aviões 2 parece o projeto mais cinematográfico do renegado DisneyToon, a começar pela decisão de apresentar o filme em Cinemascope (formato de tela mais largo, na proporção 2.35:1), mais simpático às telonas do que às telinhas. Da mesma forma, a qualidade técnica não deixa nada a desejar em relação a outras produções animadas da Disney, ao passo que a direção de Gannaway é surpreendentemente segura, competente e repleta de decisões acertadas, como simular câmera na mão em sequências de ação ou abafar o áudio em cenas de grande risco e tensão.
Por fim, é praticamente impossível falar sobre Aviões 2 sem abordar o trabalho de dublagem da versão brasileira – um dos mais embaraçoso a que já fui exposto. Antes de mais nada, a participação de Tatá Werneck não chega a incomodar ou comprometer, já que a personagem possui um papel secundário irrelevante e sua personalidade avoada combina com o jeito espevitado da comediante. Porém, o grande erro da distribuidora foi, sem sombra de dúvida, a contratação de Gregório Duvivier para auxiliar na inserção de piadas e outras linhas engraçadinhas compatíveis com o humor brasileiro no roteiro da dublagem – e embora o comediante seja um roteirista talentoso, o resultado é uma salada de frutas vergonhosa de referências anacrônicas e ilógicas, que inclui menções ao Rei do Camarote, diversas linhas do funk Beijinho no Ombro e o uso esquizofrênico de expressões e bordões como "Sabe de nada, inocente!", Zap Zap e "Cada mergulho é um flash". Para se ter ideia, quando um sofisticado hotel para carros e aviões precisa ser evacuado às pressas em decorrência de um incêndio florestal a certa altura da narrativa, o presunçoso e inconsequente proprietário do estabelecimento tenta impedir que seus hóspedes abandonem o edifício com um "Keep calm e deixa de recalque", o que não faz o menor sentido e não é, em nenhum nível, uma tirada minimamente engraçada.
Decisões como essa, que soam como esforços desesperados para atrair publicidade para o lançamento (enquanto, na verdade, se sujeitam ao risco de até mesmo afastar o público), são dignas de pena, já que Aviões 2 é surpreendentemente bom para a sequência apressada de um filme tão derivativo.
