26 de junho de 2014

Crítica | Amazônia

AMAZÔNIA


Amazonia, França/Brasil, 2013 | Duração: 1h23 | Lançado no Brasil em 26 de Junho de 2014, nos cinemas | Ideia original de Stéphane Millière e Luc Marescot. Roteiro de Johanne Bernard & Luiz Bolognesi & Louis-Paul Desanges & Luc Marescot & Thierry Ragobert | Dirigido por Thierry Ragober | Com as vozes de Lucio Mauro Filho e Isabelle Drummond.

Pôster/capa/cartaz nacional de AMAZÔNIA
O aspecto que mais deve ter dividido opiniões em relação ao vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2006, A Marcha dos Pinguins, é sua narração: em vez de descrever ou comentar os hábitos dos pinguins-imperadores, o voice over traduzia os supostos pensamentos daquelas aves em cada etapa da peregrinação anual exercida pela espécie – e mesmo incomodando pontualmente pelo excesso de humanização dos animais, a narração era suficientemente didática e impessoal para se justificar e alcançar os objetivos do projeto. Infelizmente, o mesmo equilíbrio não é alcançado por Amazônia: transitando erroneamente entre documentário e aventura infantil, a co-produção franco-brasileira falha miseravelmente em ambos os esforços.

Escrito por um total absurdo de seis profissionais, o filme acompanha o macaco-prego domesticado Castanha (voz de Lúcio Mauro Filho) tentando sobreviver e se adaptar à vida selvagem da floresta amazônica depois de sofrer um acidente de avião a caminho do circo que o teria como nova atração. Com isso, o longa se encarrega de expor as belezas da maior floresta tropical do mundo enquanto submete seu protagonista a situações risíveis, incluindo perigos tolos, um romance absolutamente aborrecido e clichês que beiram o inacreditável (sim, os realizadores conseguem a proeza de incluir até mesmo uma cena em que um personagem desaparece da vista de outro depois que um veículo passa entre ambos).

Incapaz de oferecer uma justificativa narrativa decente para a apreciação da deslumbrante fauna daquele ecossistema (o que não seria necessário caso o filme se assumisse como um documentário legítimo), Amazônia obriga Castanha a repetir insistentemente falas como "Que que é isso?" ou "Caramba! Olha só esse..." e, em seguida, descrever o que está observando toda vez que o diretor Thierry Ragobert decide apresentar um novo animal, planta ou fenômeno natural ao público, o que rapidamente se torna algo irritante. Além disso, com exceção de um ou outro pensamento mais interessante e educativo (“Até os [animais] nojentos são bonitos se a gente olhar direito”), as falas escritas por José Roberto Torero contam com um humor raso que só deve funcionar para crianças muito novas, pecando ainda por tecer comentários presunçosos sobre o uso da tecnologia 3D (mesmo erro cometido pelo patético Brasil Animado, alegadamente o primeiro filme brasileiro lançado em 3D).

AMAZÔNIA

O efeito tridimensional, vale apontar, é bastante irregular: sim, há belíssimas imagens (especialmente em planos mais abertos) cuja profundidade contribui imensamente para a apreciação daquelas paisagens, mas os vários planos-detalhe e a necessidade recorrente do uso de zoom e teleobjetivas (já que a proximidade da câmera pode influenciar o comportamento dos animais ou ameaçar a segurança da equipe) praticamente anulam o efeito 3D em boa parte da projeção. Para completar, a trilha sonora é utilizada de forma óbvia e inoportuna para reforçar os vários perigos enfrentados por Castanha – e não fosse a inclusão de um comentário breve (e bastante ingênuo) sobre a "lei da selva" (isto é, a existência da cadeia alimentar), o filme ainda ignoraria, como de costume, que predadores como onças, gaviões, urubus e crocodilos não são vilões da natureza, mas seres com necessidade próprias a serem cumpridas em prol da sobrevivência e da perpetuação de suas espécies.

Por essas e outras, Amazônia se torna frágil e insípido como aventura e demasiadamente pouco informativo como documentário, estabelecendo-se como um primo não muito distante do horroroso Caminhando Com Dinossauros – com a diferença que a biodiversidade da floresta amazônica é muito mais bela e inebriante que as criaturas digitais jurássicas criadas pela companhia de efeitos especiais Animal Logic.

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