
★★★
Monsters University, EUA, 2013 | Duração: 1h43m35s | Lançado no Brasil em 21 de Junho de 2013, nos cinemas | Escrito por Robert L. Baird, Daniel Gerson e Dan Scanlon | Dirigido por Dan Scanlon | Com as vozes de Billy Crystal, John Goodman, Steve Buscemi, Helen Mirren, Peter Sohn, Joel Murray, Charlie Day, Sean Hayes, Dave Foley, Alfred Molina, Nathan Fillion, Aubrey Plaza, Tyler Labine, Julia Sweeney e John Ratzenberger.
A Universidade Monstros não é muito diferente das demais instituições de ensino superior estadunidenses que costumamos ver por aí. Em um campus amplo e arejado, centenas de jovens (e alguns poucos indivíduos com mais idade) se reúnem para aprender profissões das mais variadas, dividem quartos em dormitórios, tentam ingressar em fraternidades, se divertem em festas, descolam trabalhos paralelos aos estudos, participam de competições esportivas, abraçam outras atividades extracurriculares e se sujeitam às mais diversas tradições típicas daquele ambiente. O que realmente diferencia a UM das demais universidades, porém, é a natureza de seus frequentadores e dos cursos oferecidos: ao invés de humanos, os corpos docente e discente são formados por monstros, lecionando ou matriculados em cursos que, em sua maioria, preparam os formandos para seguir carreira no ramo energético - como o cobiçado curso de Assustador, que habilita o aluno a assumir uma das mais importantes funções na Monstros S.A.
Por tudo isso, a grande proposta de Universidade Monstros fica bastante clara e evidente: satirizar não só a dinâmica universitária em si, como também os diversos filmes adolescentes que se baseiam nela. Por um lado, a animação é bem sucedida na tarefa: além de várias gags divertidas, o espectador mais atento conseguirá identificar uma infinidade de elementos curiosos que tiram sarro da mescla inusitada daqueles dois mundos, espalhados pelos quatro cantos do filme. Entretanto, do ponto de vista narrativo, Universidade Monstros decepciona por não conseguir contornar as convenções e os clichês que supostamente tenta satirizar, investindo em uma trama que não faz jus ao alto padrão de qualidade estabelecido pela Pixar ao longo de sua trajetória.
Escrito por Robert L. Baird, Daniel Gerson (roteirista de Monstros S.A.) e Dan Scanlon e dirigido por este último, o filme regressa à infância de Mike Wazowski (Billy Crystal) e nos apresenta a um monstrinho miúdo que, menosprezado pelos colegas de classe, sonha em se tornar um Assustador - cargo atribuído aos monstros capazes de extrair gritos de alta qualidade de crianças humanas, que são armazenados em cilindros e fornecem energia àquele universo. Anos mais tarde, Wazowski tenta colocar seu plano de vida em prática ao ingressar na UM: ainda franzino, o personagem mergulha nos estudos e se torna o aluno com o melhor embasamento teórico da turma - o que gera uma indisposição com o relapso, corpulento e presunçoso James P. Sullivan (John Goodman), ou apenas Sulley, cujos talento nato e histórico familiar no campo do susto garantem sua popularidade apoteótica entre os colegas. No entanto, depois de serem expulsos do curso para Assustadores por problemas de conduta, Mike e Sulley encontram em um torneio - os Jogos de Susto - a oportunidade de tentar convencer a austera diretora Hardscrabble (Helen Mirren) a reverter a expulsão.

Não bastasse a batida e preguiçosa estrutura de filme de competição, Universidade Monstros ainda se agarra ao conflito mais óbvio e previsível que poderia atingir a dupla central naquele contexto: inscritos tardiamente no torneio, Mike e Sulley, além de extremamente competitivos e discordantes, se veem obrigados a ingressar na Oozma Kappa, fraternidade formada por monstros excluídos e desajustados. Dessa forma, além de tornar a narrativa razoavelmente previsível, a inserção do grupo abre espaço para que os realizadores martelem séries de mensagens educativas, irritantes em sua pieguice - como, por exemplo, a passagem que derruba o complexo de inferioridade dos integrantes da Oozma Kappa e os exibe aprendendo a importância de descobrir e aperfeiçoar suas habilidades natas, bem como identificar as demandas por elas. Além disso, o protagonista também atravessa um conflito de natureza semelhante ao insistir em uma carreira claramente além de suas capacidades, caminhando de encontro ao provável massacre de seu sonho no possível desfecho desfavorável do torneio - o que resulta em uma cena embaraçosa em que comentários negativos rodeiam a mente de Mike em voice over instantes antes de um evento decisivo e acaba conduzindo a narrativa a um clímax tremendamente aborrecido do ponto de vista dramático.
Impedindo que o terceiro ato seja um desastre completo, uma inspirada e divertidíssima homenagem ao gênero terror surge como a possível última grande sacada da projeção, uma vez que as fotos que amarram os dois filmes da franquia, assim como a cena extra após os créditos finais (cuja piada pode ser antecipada um milissegundo após seu início), são significativamente tolas. Por outro lado, os realizadores conseguem aproveitar bem o claramente expositivo tour de Mike no primeiro dia de faculdade tanto para apresentar alguns cenários importantes para momentos posteriores da narrativa quanto para enriquecer alguns conceitos daquele mundo. Aliás, mesmo enfrentando óbvias dificuldades de ampliar aquele universo (afinal, a fragilidade de certos conceitos é fundamental para o desfecho de Monstros S.A.), o filme consegue extrair bons frutos da inserção inusitada de monstros em um ambiente universitário: do visual rejuvenescido de personagens conhecidos (com destaque para o topete de Sulley e o visual simpático e inseguro do futuro vilão Randy) até a arquitetura peculiar do campus, repleta de pontas que naturalmente remetem a chifres e presas, os artistas da Pixar concebem cenários e personagens favoráveis a gags inspiradas - e gosto particularmente da forma como os vários membros, olhos ou cabeças de alguns monstros figurantes são empregados em funções que tentam minimizar os contratempos acadêmicos (como aqueles que surgem lendo vários livros ao mesmo tempo a caminho de uma aula ou segurando vários copos de café).
Repleto de personagens secundários que, embora engraçadinhos, jamais têm seus dramas particulares satisfatoriamente desenvolvidos, Universidade Monstros volta a trazer nomes desconhecidos da equipe da Pixar assumindo o comando criativo da produção, algo que Valente já havia feito no ano passado - e, aparentemente, Scanlon, Baird e Gerson entraram no projeto com o pé esquerdo e ignoraram os significados distintos que o ato possui nos universos monstro e humano.
