21 de junho de 2013

Crítica | O Lugar Onde Tudo Termina


★★★

The Place Beyond the Pines, EUA, 2012 | Duração: 2h20m10s | Lançado no Brasil em 21 de Junho de 2013, nos cinemas | História de Derek Cianfrance e Ben Coccio. Roteiro de Derek Cianfrance e Ben Coccio e Darius Marder | Dirigido por Derek Cianfrance | Com Ryan Gosling, Bradley Cooper, Eva Mendes, Dane DeHaan, Ben Mendelsohn, Mahershala Ali, Ray Liotta, Emory Cohen, Rose Byrne, Bruce Greenwood, Robert Clohessy.

Pôster/cartaz/capa nacional e crítica de O LUGAR ONDE TUDO TERMINA (The Place Beyond the Pines)
Nem todo mundo está preparado para assistir a um filme como, por exemplo, A Garota Morta: fugindo de estruturas convencionais, o ótimo drama de Karen Moncrieff propunha um belo estudo de personagens a partir de cinco pequenas narrativas que, embora relacionadas em diferentes graus à fatalidade sugerida pelo título, funcionavam bem de forma independente. Da mesma forma, muitos estarão despreparados para a proposta de O Lugar Onde Tudo Termina, um longo drama cuja narrativa, embora linear e centrada em uma mesma cadeia de eventos, tem o foco drasticamente alterado em duas ocasiões - o que, infelizmente, não é completamente bem sucedido.

Escrito por Ben Coccio, Darius Marder e pelo diretor Derek Cianfrance (Namorados Para Sempre), o filme nos apresenta a Handsome Luke (Ryan Gosling, de Tudo Pelo Poder), um habilidoso motoqueiro que decide se estabelecer em Schenectady, no estado de Nova York, depois de descobrir a existência de um filho bastardo, fruto do envolvimento com a garçonete Romina (Eva Mendes) em uma passagem anterior pela cidade do parque itinerante em que o homem trabalha. Na tentativa imediatista de se tornar um pai provedor e, com isso, convencer a mulher a largar o atual parceiro, o personagem lança mão de suas habilidades com motocicletas para assaltar bancos da região. Entretanto, a história muda de rumo quando o policial Avery (Bradley Cooper, de Se Beber, Não Case! Parte II) cerca Luke durante uma de suas fugas.

Uma mudança de rumo, vale ressaltar, bastante drástica e literal - e não leia o restante do texto caso rejeite revelações aprofundadas sobre certas escolhas dos realizadores. Por um lado, a decisão ousada de Cianfrance, Coccio e Marder funciona bem: a frustração que alimentamos com a saída de cena precoce do personagem de Ryan Gosling e a obrigação de seguir adiante, deixando para trás todas as expectativas que criamos em torno daquela trama, refletem a natureza abrupta da própria morte e resultam em uma descompensação curiosa, que pode ser sentida quando somos levados a acompanhar de perto um personagem que acabamos de conhecer e sobre quem nada sabemos. Com isso, os realizadores criam para si mesmos um enorme desafio: despertar no espectador o interesse pela nova trama e comprovar a relevância daquela quebra para o conjunto da obra.

Bradley Cooper em O LUGAR ONDE TUDO TERMINA (The Place Beyond the Pines)

E é aí que O Lugar Onde Tudo Termina começa a decair. Os conflitos morais do jovem e inexperiente policial vivido por Bradley Cooper possuem um enorme potencial que o roteiro falha em explorar de forma mais ampla - e nem mesmo recorrer novamente à quebra de expectativas em seu desfecho consegue elevar o segundo terço a um patamar que faça jus à etapa anterior da narrativa. Assim, o impasse entre Avery e policiais corruptos é resolvido em um piscar de olhos e, quando nos damos conta, estamos quinze anos no futuro acompanhando o então adolescente filho de Luke, Jason (Dane DeHaan, de Poder Sem Limites), às vésperas de um absurdo e improvável encontro com o filho de Avery, AJ (Emory Cohen).

Aliás, esta última fase da narrativa chama atenção pelo abuso de alegorias - como as rimas entre os comportamentos de Luke e Jason (repare como a fuga do garoto depois de furtar uma farmácia remete ao método de assalto do pai), estupidamente profetizadas pelo personagem de Ryan Gosling no primeiro terço da projeção (ora, relacionar as transgressões do rapaz à falta de uma figura paterna é um grande equívoco, já que Jason fora criado desde o nascimento pelo padrasto). Além disso, essa terceira parte também falha em resgatar novamente a atenção e o interesse do público: os prejuízos do avanço de quinze anos para o ritmo do filme e a relação aborrecida e esquemática entre AJ e Jason comprometem até mesmo a amarração de certos temas, sabotados pela diluição das discussões (como a cena no tal local sugerido pelo título).

Trazendo ainda Ryan Gosling interpretando um homem durão e problemático com a competência habitual, Eva Mendes abraçando com talento a angústia de Romina, Bradley Cooper correto como um policial imaturo que ingressa na política e Rose Byrne (Missão Madrinha de Casamento) surpreendente como uma mulher sutilmente torturada pelo casamento, O Lugar Onde Tudo Termina é um drama que, embora disponha de aproximadamente três quartos de hora para desenvolver cada uma de suas tramas, parece resolvê-las de forma apressada e falha em relacioná-las de modo a estabelecer uma unidade narrativa e temática.

Dane DeHaan e Emory Cohen em O LUGAR ONDE TUDO TERMINA (The Place Beyond the Pines)