
por Eduardo Monteiro


After Earth, EUA, 2013 | Duração: 1h39m54s | Lançado no Brasil em 7 de Junho de 2013, nos cinemas | História de Will Smith. Roteiro de Gary Whitta e M. Night Shyamalan | Dirigido por M. Night Shyamalan | Com Jaden Smith, Will Smith, Sophie Okonedo, Zoe Isabella Kravitz, Glenn Morshower.
Depois da Terra é um filme de família. Não exatamente um filme voltado para toda a família, mas oferecido por uma família: a Pinkett-Smith. Partindo de um argumento do patriarca Will Smith, o longa é produzido pelo próprio, pela esposa Jada Pinkett-Smith e pelo cunhado Caleeb Pinkett - e embora o ator surpreenda ao abrir mão do posto de protagonista (uma raridade em seus vinte e poucos anos de carreira, especialmente na última década), há uma razão bastante especial para que essa decisão tenha sido tomada: impulsionar a carreira cinematográfica de seu filho Jaden, que volta a contracenar com o pai sete anos após estrear no Cinema em À Procura da Felicidade.
Além disso, Depois da Terra também é um filme sobre família - ou ao menos é o que parece tentar ser. Dirigida e co-roteirizada pelo antes promissor M. Night Shyamalan, a ficção científica se passa em um futuro distópico repleto de abobrinhas, dentre as quais apenas algumas realmente importam: a Terra se tornou inabitável e, por isso, teve que ser evacuada; Will Smith é um general renomado de uma força militar interestelar, enquanto seu filho, ainda inexperiente, tenta seguir os passos do pai (sugestivo, não?); e, a certa altura, a humanidade passou a ser ameaçada por uma besta alienígena que fareja medo, conhecida como ursa. Nesse contexto, Cypher Raige (Will Smith) e Kitai (Jaden Smith) se transformam nos únicos sobreviventes de uma nave espacial que, coincidentemente, se parte ao meio nas redondezas da Terra. O pedido de socorro, porém, está vinculado a um equipamento armazenado na outra metade da nave, e, como Cypher fraturou a perna no acidente, é Kitai quem precisa percorrer a longa distância até a parte traseira, enfrentando desafios estupidamente peculiares.
Antes de mais nada, é preciso reconhecer que a humanidade projetada por Will Smith, M. Night Shyamalan e pelo co-roteirista Gary Whitta (O Livro de Eli) não parece tão evoluída quanto poderíamos esperar e deveríamos supor: o único equipamento de toda a nave que precisaria manter-se invariavelmente intacto em um acidente é o tal emissor de sinal de emergência - e, no entanto, o objeto mais parece um daqueles telefones celulares cujo trincamento da tela o torna inútil. Ainda nesse sentido, é ridículo que as cápsulas que armazenam doses diárias dos líquidos respiratórios que garantem a sobrevida de Kitai na atmosfera terrestre sejam tão frágeis, além de estarem armazenados em um estojo ofensivamente inseguro. Para completar, o general Raige demonstra inteligência ímpar ao acionar uma câmera na mochila do filho e mencionar que, assim, poderá ter a mesma visão que o rapaz, enquanto o equipamento obviamente encontra-se apontado para o sentido contrário ao percurso de Kitai (algo que Shyamalan categoricamente ignora em grande parte da projeção).
Como se não bastasse, os desafios enfrentados por Kitai não fazem jus à sugestão do ambiente hostil em que a Terra teria se transformado (a aterrissagem no planeta não só é proibida, como também passível de multa). Pra início de conversa, o protagonista é constantemente sabotado pela própria estupidez: quando Cypher ordena que o garoto não reaja à intimidação de um bando de símios, Kitai prefere ignorar o pai e acaba multiplicando seus obstáculos. Além disso, embora os tais pontos quentes (que mantém temperaturas amenas durante o congelamento noturno do planeta) sejam elementos dificultosos plausíveis, o conceito é mal trabalhado pelos realizadores: diferentemente da caverna aquecida por rios subterrâneos de lava, por exemplo, a pequena área de floresta em que o protagonista passa a primeira noite não apresenta qualquer evidência física intuitiva para o isolamento térmico, enfraquecendo sensivelmente o conceito.
Liderando o elenco, Jaden Smith até se empenha para carregar o filme sozinho, mas acaba deixando evidente sua falta de carisma e talento: o instante em que o protagonista precisa demonstrar ausência de medo, por exemplo, é sensivelmente comprometido pela inexpressividade do jovem ator. Já Will Smith, em um papel sem maiores propósitos, acaba responsável por algumas das piores falas do roteiro: o discurso em que Cypher tenta desenvolver um raciocínio a respeito da natureza do medo é absolutamente embaraçoso, provando que mil anos não foram suficientes para aperfeiçoar o intelecto do ser humano. Para completar, Depois da Terra peca pelo absoluto vácuo emocional: através de flashbacks irrelevantes, crises familiares tolas e toda a sorte de eventos melodramáticos, os realizadores tentam conferir peso dramático à iminente destruição daquele núcleo familiar - mas a realidade é que, por todos os problemas já relatados, jamais chegamos a temer pela vida de qualquer um dos personagens vistos em cena.
Com efeitos especiais regulares, figurinos assustadoramente pobres (os trajes dos personagens jamais exprimem o apuro tecnológico que possuem e acabam soando como macacões baratos e desfuncionais) e um design de produção que concebe uma sociedade futurística que aposta em soluções econômicas (como o uso recorrente de lonas para separar ambientes), Depois da Terra é uma distração aborrecida e esquecível que dá continuidade à sequência de erros de um diretor que, em um passado que agora parece muito distante, já conseguiu lançar o espectador para fora da sala de cinema com impressões muitíssimo diferentes dessas.
Depois da Terra é um filme de família. Não exatamente um filme voltado para toda a família, mas oferecido por uma família: a Pinkett-Smith. Partindo de um argumento do patriarca Will Smith, o longa é produzido pelo próprio, pela esposa Jada Pinkett-Smith e pelo cunhado Caleeb Pinkett - e embora o ator surpreenda ao abrir mão do posto de protagonista (uma raridade em seus vinte e poucos anos de carreira, especialmente na última década), há uma razão bastante especial para que essa decisão tenha sido tomada: impulsionar a carreira cinematográfica de seu filho Jaden, que volta a contracenar com o pai sete anos após estrear no Cinema em À Procura da Felicidade.
Além disso, Depois da Terra também é um filme sobre família - ou ao menos é o que parece tentar ser. Dirigida e co-roteirizada pelo antes promissor M. Night Shyamalan, a ficção científica se passa em um futuro distópico repleto de abobrinhas, dentre as quais apenas algumas realmente importam: a Terra se tornou inabitável e, por isso, teve que ser evacuada; Will Smith é um general renomado de uma força militar interestelar, enquanto seu filho, ainda inexperiente, tenta seguir os passos do pai (sugestivo, não?); e, a certa altura, a humanidade passou a ser ameaçada por uma besta alienígena que fareja medo, conhecida como ursa. Nesse contexto, Cypher Raige (Will Smith) e Kitai (Jaden Smith) se transformam nos únicos sobreviventes de uma nave espacial que, coincidentemente, se parte ao meio nas redondezas da Terra. O pedido de socorro, porém, está vinculado a um equipamento armazenado na outra metade da nave, e, como Cypher fraturou a perna no acidente, é Kitai quem precisa percorrer a longa distância até a parte traseira, enfrentando desafios estupidamente peculiares.
Antes de mais nada, é preciso reconhecer que a humanidade projetada por Will Smith, M. Night Shyamalan e pelo co-roteirista Gary Whitta (O Livro de Eli) não parece tão evoluída quanto poderíamos esperar e deveríamos supor: o único equipamento de toda a nave que precisaria manter-se invariavelmente intacto em um acidente é o tal emissor de sinal de emergência - e, no entanto, o objeto mais parece um daqueles telefones celulares cujo trincamento da tela o torna inútil. Ainda nesse sentido, é ridículo que as cápsulas que armazenam doses diárias dos líquidos respiratórios que garantem a sobrevida de Kitai na atmosfera terrestre sejam tão frágeis, além de estarem armazenados em um estojo ofensivamente inseguro. Para completar, o general Raige demonstra inteligência ímpar ao acionar uma câmera na mochila do filho e mencionar que, assim, poderá ter a mesma visão que o rapaz, enquanto o equipamento obviamente encontra-se apontado para o sentido contrário ao percurso de Kitai (algo que Shyamalan categoricamente ignora em grande parte da projeção).

Como se não bastasse, os desafios enfrentados por Kitai não fazem jus à sugestão do ambiente hostil em que a Terra teria se transformado (a aterrissagem no planeta não só é proibida, como também passível de multa). Pra início de conversa, o protagonista é constantemente sabotado pela própria estupidez: quando Cypher ordena que o garoto não reaja à intimidação de um bando de símios, Kitai prefere ignorar o pai e acaba multiplicando seus obstáculos. Além disso, embora os tais pontos quentes (que mantém temperaturas amenas durante o congelamento noturno do planeta) sejam elementos dificultosos plausíveis, o conceito é mal trabalhado pelos realizadores: diferentemente da caverna aquecida por rios subterrâneos de lava, por exemplo, a pequena área de floresta em que o protagonista passa a primeira noite não apresenta qualquer evidência física intuitiva para o isolamento térmico, enfraquecendo sensivelmente o conceito.
Liderando o elenco, Jaden Smith até se empenha para carregar o filme sozinho, mas acaba deixando evidente sua falta de carisma e talento: o instante em que o protagonista precisa demonstrar ausência de medo, por exemplo, é sensivelmente comprometido pela inexpressividade do jovem ator. Já Will Smith, em um papel sem maiores propósitos, acaba responsável por algumas das piores falas do roteiro: o discurso em que Cypher tenta desenvolver um raciocínio a respeito da natureza do medo é absolutamente embaraçoso, provando que mil anos não foram suficientes para aperfeiçoar o intelecto do ser humano. Para completar, Depois da Terra peca pelo absoluto vácuo emocional: através de flashbacks irrelevantes, crises familiares tolas e toda a sorte de eventos melodramáticos, os realizadores tentam conferir peso dramático à iminente destruição daquele núcleo familiar - mas a realidade é que, por todos os problemas já relatados, jamais chegamos a temer pela vida de qualquer um dos personagens vistos em cena.
Com efeitos especiais regulares, figurinos assustadoramente pobres (os trajes dos personagens jamais exprimem o apuro tecnológico que possuem e acabam soando como macacões baratos e desfuncionais) e um design de produção que concebe uma sociedade futurística que aposta em soluções econômicas (como o uso recorrente de lonas para separar ambientes), Depois da Terra é uma distração aborrecida e esquecível que dá continuidade à sequência de erros de um diretor que, em um passado que agora parece muito distante, já conseguiu lançar o espectador para fora da sala de cinema com impressões muitíssimo diferentes dessas.
