
★★
The Man With the Iron Fists, EUA/Hong Kong, 2012 | Duração: 1h35 | Lançado no Brasil em 9 de maio de 2013, em DVD e Blu-ray | História de RZA. Roteiro de RZA e Eli Roth | Dirigido por RZA | Com RZA, Russell Crowe, Rick Yune, Byron Mann, Lucy Liu, Jamie Chung, Dave Bautista, Daniel Wu, Cung Le, Zhu Zhu, Kuan Tai Chen, Grace Huang, Andrew Lin, Terence Yin, Pam Grier e Gordon Liu.
Na abertura de O Homem Com Punhos de Ferro, o ferreiro vivido por RZA explica que, para forjar uma arma, são necessários três elementos: o metal correto, temperaturas acima de 1400 ºC e alguém com vontade de matar - exigências existentes na Aldeia Jungle, local onde a história se passa. Quando o assunto é a produção de um bom filme, porém, não há uma fórmula simplista como essa; quanto maior a harmonia entre os vários aspectos de produção, maiores são as chances de um resultado final satisfatório, independente da experiência dos profissionais envolvidos. Infelizmente, estreando em metade das funções que assume, o cantor RZA não consegue produzir uma obra coesa e cativante o bastante para fomentar suas múltiplas carreiras no Cinema.
Como roteirista, RZA já começa mal pela escolha da parceria: co-escrito por Eli Roth (O Albergue), o filme acompanha um sem número de personagens interessados em um carregamento de ouro do Governador (Terence Yin) prestes a atravessar Jungle Village, uma aldeia chinesa do século XIX. Depois que o Leão de Ouro (Kuan Tai Chen) - chefe do clã responsável pelo carregamento - é traído e assassinado, seu filho Zen Yi (Rick Yune) retorna ao vilarejo para vingá-lo, ao mesmo tempo que o cavalheiro inglês Jack Knife (Russell Crowe) chega ao local com intenções misteriosas e se hospeda no bordel da cafetina Madame Blossom (Lucy Liu). Todos eles - incluindo ainda os clãs dos Leões e Hienas ou o casal de Gêmeos Assassinos - acabam cruzando com o Ferreiro (RZA), um negro que economiza para comprar a liberdade da prostituta Lady Silk (Jamie Chung) e cuja absurda presença naquele contexto histórico é justificada através de um longo e desnecessário flashback.
Os dois primeiros terços do filme tratam-se, na verdade, de meras apresentações dos personagens que se envolverão no aguardado confronto final e dos cenários (como o bordel Pink Blossom) que sediarão a disputa. Criando suspense em torno da identidade de um sujeito encapuzado (cuja revelação é tão ineficaz e desestimulante quando o mistério), o filme apresenta embates dotados de coreografias avessas às leis da gravidade e inventivas, mesmo que pouco práticas - e embora a cooperação entre os Gêmeos resulte em movimentos estilosos, é impossível ignorar que vários dos golpes seriam mais eficazes caso os irmãos lutassem separados e usassem a cabeça (porque o homem não retira a arma da bainha da irmã para disparar, ao invés de apontar a perna da mulher na direção de seus alvos?). E enquanto a trilha (composta e produzida também por RZA, em parceria com Howard Drossin) peca pelo uso de hip hops que não se encaixam bem e por abusar do caráter lúdico em determinadas lutas, os diálogos concebidos pelos roteiristas impressionam pela pobreza e pela estupidez: quando o Ferreiro presenteia a amada com uma pulseira e lhe explica que a quantidade de pedras do acessório faz referência à circunferência da Terra (!), a mulher responde com um sincero "Tão esperto!" que confirma a natureza peculiar do conceito de esperteza de RZA e Eli Roth.

Já na direção, RZA não se sai muito mal. Obviamente inspirado por Quentin Tarantino (que "apresenta" o filme, isto é, permite que seu nome seja estampado no pôster para atrair público) - influência que fica evidente tanto na tipografia dos créditos iniciais ou na escolha do elenco (com Lucy Liu, Pam Grier e, especialmente, Gordon Liu praticamente reencarnando seu icônico Pai Mei) quanto no uso indiscriminado e equivocado de telas divididas no ato final -, o diretor tenta criar uma homenagem a filmes de artes marciais semelhante à feita em Kill Bill, mas é substancialmente sabotado pelo próprio roteiro. Embora se exceda em alguns momentos (como no desajeitado uso de grua para ressaltar a beleza natural de uma caverna usada como locação), RZA até sabe para onde apontar a câmera, registra de forma pouco confusa as lutas e cria planos esteticamente belos (esguichos de sangue ou dispersão de material particulado em câmera lenta costumam facilitar esse trabalho), mas não consegue conferir ritmo a uma narrativa com pouca história pra contar ou injetar urgência, por exemplo, nos confrontos envolvendo o vilão Brass Body (Dave Bautista), cuja invencibilidade é comprovada desde sua primeira aparição e implica em um desfecho obviamente arbitrário.
Um dos maiores problemas do filme, porém, é a tentativa desastrada de transformar o personagem do Ferreiro em uma figura icônica, empurrando-lhe à força o cargo de protagonista no terço derradeiro do longa - o que nos leva, finalmente, ao trabalho de RZA como ator, que compromete de vez o filme. Sua notável falta de talento e expressividade destoa sensivelmente do restante do elenco - e quando seu personagem tem os braços cortados, o impacto é anulado pela impressão de que RZA parece muito mais entretido com a chance de brincar de Cinema do que preocupado em produzir uma obra atraente.
Com uma narração cujo mau gosto é evidenciado e extremado pelo uso da locução conjuntiva "Enquanto isso..." e povoado por personagens cujos nomes tentam alcançar um divertimento calcado na mais pura obviedade, O Homem Com Punhos de Ferro é uma obra vazia cujo divertido clímax não é capaz de compensar os aborrecidos eventos que o antecedem ou, especialmente, de estabelecer RZA como um artista multifacetado.
