23 de maio de 2013

Crítica | Velozes & Furiosos 6

Sung Kang, Chris 'Ludacris' Bridges, Gal Gadot, Vin Diesel, Paul Walker e Tyrese Gibson em VELOZES & FURIOSOS 6 (Fast & Furious 6)

por Eduardo Monteiro

Fast & Furious 6, EUA, 2013 | Duração: 2h10m05s | Lançado no Brasil em 24 de Maio de 2013, nos cinemas | Baseado nos personagens de Gary Scott Thompson. Roteiro de Chris Morgan | Dirigido por Justin Lin | Com Vin Diesel, Paul Walker, Dwayne Johnson, Michelle Rodriguez, Luke Evans, Tyrese Gibson, Chris 'Ludacris' Bridges, Sung Kang, Gal Gadot, Gina Carano, Jordana Brewster, Elsa Pataky, Shea Whigham, Thure Lindhardt.

Pôster nacional e crítica de VELOZES & FURIOSOS 6 (Fast & Furious 6)
A longevidade da franquia Velozes & Furiosos é ridícula. Quando afirmo isso, não estou me referindo, evidentemente, aos aspectos comerciais, já que os US$ 1,6 bi arrecadados mundialmente pelos cinco primeiros filmes me impedem de cometer tamanho equívoco; falo dos aspectos artísticos, que acabam sendo sensivelmente prejudicados pela demanda por múltiplos e sucessivos desdobramentos de uma premissa que, se muito, renderia material para um filme mediano e passável. Felizmente, o roteirista Chris Morgan e o diretor Justin Lin, em sua quarta colaboração seguida na franquia, parecem calejados o suficiente para extrair virtudes justamente do ridículo que a série alcançou, tornando os esforços narrativos menos desprezíveis e as cenas de ação mais palatáveis.

Dando continuidade direta ao desfecho do filme anterior, Velozes & Furiosos 6 gasta os quinze primeiros minutos convencendo o público que uma nova reunião da meia dúzia de ladrões milionários é imperativa. Enquanto os coadjuvantes são convocados sem maiores rodeios e topam abrir mão de suas mordomias com espantosa prontidão, o núcleo central enfrenta dilemas ligeiramente mais complicados: bem acomodado na companhia de Elena (Elsa Pataky), Dominic Toretto (Vin Diesel) é persuadido a auxiliar o agente Luke Hobbs (Dwayne Johnson) na captura do ex-soldado de Operações Especiais corrompido Owen Shawn (Luke Evans) através de indícios de que Letty (Michelle Rodriguez), sua antiga parceira, estaria viva e trabalhando para a quadrilha do criminoso. Já o envolvimento do ex-policial Brian O'Conner (Paul Walker) no serviço se dá sob a benção da esposa e mãe desnaturada Mia (Jordana Brewster), que não só aceita, como também incentiva o ex-policial a abandonar o filho recém nascido e se lançar no fogo cruzado em Londres para vigiar o traseiro de Dom.

Investindo novamente em uma trama que transforma a mistura de mulheres provocantes e corridas ilegais em uma lembrança vaga e distante (embora estes elementos surjam brevemente para refrescar a memória dos fãs da franquia), Velozes & Furiosos 6 aposta na ideia absurda de que o histórico de estripulias bem sucedidas dos personagens remanescentes os transformaram em uma equipe indômita, mais eficiente que batalhões altamente especializados espalhados pelo mundo e merecedora de investimentos na casa da centena de milhões de dólares, já que é exatamente isto que a anistia solicitada por Dom significa: tornar legal o roubo de nove dígitos do longa anterior. Entretanto, não estaríamos falando de Velozes & Furiosos caso os personagens não agissem eventualmente de forma inexplicavelmente estúpida: embora defenda valores familiares ao longo de toda a projeção, por exemplo, Toretto simplesmente esquece da existência da irmã e do sobrinho quando sua família é declaradamente ameaçada por Shawn, o que denota uma tremenda burrice por parte do personagem e abre espaço para uma das convenções mais irritantes do gênero - que, pra piorar, é encarada pelos realizadores como um reforço para as supostas inteligência e perspicácia do vilão. Ainda nesse sentido, a inércia de O'Conner após ser informado sobre a possibilidade de haver um informante infiltrado em sua equipe é inaceitável, fazendo com que os personagens se tornem merecedores das eventuais consequências dessa negligência.

Michelle Rodriguez e Luke Evans em VELOZES & FURIOSOS 6 (Fast & Furious 6)

Aliás, a tal equipe sequer é suficientemente coesa, já que muitos personagens carecem de função prática - com destaque absoluto para Roman (Tyrese Gibson), que, caso tivesse todas as péssimas piadas excluídas, seria um personagem mudo. Por sorte, os atores parecem bem à vontade nos papéis que assumem há mais de uma década: com discursos predominantemente mansos e pausados, Vin Diesel ganha a chance de desenvolver uma faceta mais emotiva de Dom - e embora sua estima pelos valores familiares recaia na miopia já mencionada, Toretto enfrenta dilemas dramáticos em decorrência do ressurgimento da desmemoriada Letty, abrindo espaço para que o carisma de Diesel promova o avanço de alguns centímetros no arco geral do personagem. E enquanto até desinteressante Paul Walker parece bastante seguro e confiante em cena, Dwayne Johnson (O Acordo) retorna para sua segunda participação na série firmando-se como uma ótima adição: as notáveis habilidades físicas do ator e seu já conhecido carisma propiciam bons momentos, como aquele em que Hobbs desenvolve uma negociação durante um aperto de mãos. Já o empenho de Luke Evans é parcialmente sabotado pela construção desinteressante do vilão, ao passo que a ex-lutadora Gina Carano (A Toda Prova) é subaproveitada em um papel ruim cujo tolo propósito rapidamente fica evidente, embora surja como a candidata perfeita para enfrentar no tapa a persona construída por Michelle Rodriguez ao longo de sua carreira.

E já que mencionei o duelo memorável entre duas das atrizes mais duronas da atualidade, é importante ressaltar que Velozes & Furiosos 6 não deixa a desejar no quesito pancadaria. Não só os confrontos corporais são satisfatórios em termos de intensidade e coreografia, como o espetáculo de destruição das cenas de ação empolga, impressiona e diverte, graças ao trabalho competente de dublês e razoáveis efeitos especiais. Na maior parte do tempo, Justin Lin demonstra grande habilidade para arquitetar as sequências de ação, apostando frequentemente em montagens paralelas, mantendo níveis aceitáveis de clareza e investindo até mesmo em planos ligeiramente mais longos, que valorizam determinados feitos dos personagens - e apenas na sequência de perseguição que culmina em um estacionamento, quando os vários núcleos se dispersam, o cineasta perde o controle de forma mais notável e acaba confundindo o espectador. Por outro lado, Lin abraça como nunca o absurdo como estratégia para entreter o público, algo comprovado por vários saltos insanos dos personagens (como o de Dom, em particular), pela hilária tentativa de jogar um automóvel destruído de uma ponte (como se este fosse uma mera bolinha de papel amassado sendo empurrada por um carrinho de controle remoto) e, principalmente, pela longa sequência de ação do clímax, que demandaria uma pista de decolagem ridiculamente longa - e a consciência do próprio absurdo parece surgir no desfecho da sequência, quando os carros freiam nas proximidades das barreiras que estabelecem o limite da pista.

Pecando ainda pela irregularidade do timing cômico (as terríveis e descartáveis cenas envolvendo um vendedor de carros arrogante são o maior exemplo disso - sem mencionar as pontuais piadas involuntárias e/ou regionais, como o comentário feito por Roman após a primeira grande e violenta perseguição: "O que foi aquilo? Ora, nós não estamos mais no Brasil!"), Velozes & Furiosos 6 é um filme que não consegue cumprir a promessa feita por Dom nos primeiros minutos de projeção: "Tudo irá mudar". Os fãs da franquia agradecem.

Tyrese Gibson em VELOZES & FURIOSOS 6 (Fast & Furious 6)