
por Eduardo Monteiro

The Last Exorcism: Part II, EUA, 2013 | Duração: 1h28m29s | Lançado no Brasil em 10 de Maio de 2013, nos cinemas | Baseado nos personagens criados por Huck Botko & Andrew Gurland. História de Damien Chazelle. Roteiro de Damien Chazelle e Ed Gass-Donnelly | Dirigido por Ed Gass-Donnelly | Com Ashley Bell, Julia Garner, Muse Watson, Spencer Treat Clark, Louis Herthum, Tarra Riggs, David Jensen, E. Roger Mitchell, Erica Michelle, Sharice Angelle Williams.
Dar continuidade a filmes do subgênero found footage (as famosas filmagens documentais perdidas, popularizadas por A Bruxa de Blair) ainda é um conceito obscuro. Se já não é uma tarefa das mais fáceis justificar a insistência dos personagens de continuarem filmando suas desventuras com demônios, monstros ou outras entidades malignas mesmo depois que suas vidas são postas em risco, quem dirá arranjar desculpas para que um novo grupo de cinegrafistas se aventure no mesmo universo apresentado pelo primeiro filme e ainda gere uma trama coesa e intrigante o suficiente para ser transformada em longa. Entretanto, a relação entre os baixos custos e as grandes arrecadações tem estimulado produtores do meio a tentar multiplicar os ganhos oriundos de suas rentáveis criações originais - e, com resultados pra lá de duvidosos, A Bruxa de Blair, [Rec] e Atividade Paranormal são os principais expoentes dentre os exemplares que resolveram se aventurar em continuações, empregando soluções compatíveis com a proposta e a lógica interna de cada um.
Agora, este O Último Exorcismo: Parte II entra para o grupo com uma solução diferente e, a primeira vista, interessante: depois de um breve retrospecto dos momentos mais importante do filme anterior, adaptados à proporção de imagem de 2.35:1 (um indício da mudança que está por vir, já que, como mencionei ao escrever sobre Projeto Dinossauro, este é um formato de tela que contraria os conceitos do found footage), o diretor fita, através de uma filmagem não documental, a câmera perdida pelos personagens do longa anterior, estabelecendo de imediato a mudança de linguagem entre as obras. Assim, esta segunda parte da história da adolescente cujos transtornos psicóticos renderam calafrios ao público em 2010 e resultaram na morte do pastor Cotton Marcus e de sua equipe de filmagem deixa o mockumentary para trás e migra para a linha tradicional de terror - e na transição, acolhe as piores convenções do gênero em um roteiro deplorável.
Escrito por Damien Chazelle e pelo diretor Ed Gass-Donnelly com base nos personagens criados por Huck Botko e Andrew Gurland, o filme traz Nell (Ashley Bell) como uma garota perturbada e traumatizada pelo rito satânico a que fora submetida no primeiro filme e (pelo que tudo nos leva a crer) do qual fugiu com vida. Depois de invadir a residência de um casal na surdina da noite, Nell é encaminhada a uma casa de reabilitação, onde é submetida a um tratamento psiquiátrico que a transforma em uma moça alegre e pronta para encarar o mundo adulto. Entretanto, durante um desfile de Mardi Gras em Nova Orleans, a garota se depara com uma série de novos estímulos, que reacendem os sintomas da suposta possessão.
"Suposta", na verdade, é um adjetivo que não cabe mais nessa observação sobre a personagem. Se em O Último Exorcismo a possessão de Nell era, na maior parte do tempo, suficientemente bem explicada com argumentos científicos plausíveis (e era justamente esse um dos principais acertos daquele filme), nesta continuação os roteiristas abrem mão do mistério e inserem a condição da garota em uma típica e aborrecida trama de assombração - e não se espante em ver telefones que tocam mesmo que desconectados da rede, televisões e rádios que se ligam sozinhos, mesas tremelicando durante sessões mediúnicas, corvos, moscas, infiltrações e toda a sorte de elementos típicos do gênero pipocando na tela. Como se não bastasse, Gass-Donnelly espera que levemos seu trabalho a sério mesmo recriando o batidíssimo plano em que o tráfego de ônibus, vans e caminhões faz com que uma pessoa misteriosamente desapareça da face da Terra, ou tentando desconstruir o clichê do susto no espelho de banheiro, sem perceber que a desconstrução em si já se tornou um clichê tão ou mais irritante que o próprio.
Porém, a opção de investir em uma trama assumidamente sobrenatural resulta em prejuízos ainda maiores do que aqueles oriundos do abuso de convenções do gênero. Nell não é mais (e, segundo o filme, também nunca pode ter sido) uma garota cujos distúrbios psicóticos parecem refletir sua confusão com relação à figura do pai, um homem que, embora lhe inspirava confiança e respeito, foi capaz de estuprá-la e engravidá-la, além de submetê-la a um agressivo ritual diabólico; trata-se apenas de uma garota amaldiçoada e ponto. Entretanto, o caldo derrama de vez quando os roteiristas tentam explicar as motivações do tal demônio Abalam, transformando a narrativa em uma trôpega e moralista metáfora sobre amadurecimento sexual e culminando na apresentação de uma profecia absolutamente ridícula e megalomaníaca - que até caberia bem em um filme de terror, desde que fosse dirigido por Roland Emmerich.
Repleto de cenas que explicitamente omitem violência em busca de uma classificação indicativa mais abrangente, O Último Exorcismo: Parte II parece até mesmo disposto a satirizar o gênero em algumas passagens - mas a intenção é tão incerta que sou levado a crer que minha suposição seja apenas o resultado de meus esforços pessoais de extrair, do turbilhão de sustos fáceis (Nell é facilmente uma das personagens mais assustadiças que o gênero já produziu), uma brisa de frescor que mereça nota.
Agora, este O Último Exorcismo: Parte II entra para o grupo com uma solução diferente e, a primeira vista, interessante: depois de um breve retrospecto dos momentos mais importante do filme anterior, adaptados à proporção de imagem de 2.35:1 (um indício da mudança que está por vir, já que, como mencionei ao escrever sobre Projeto Dinossauro, este é um formato de tela que contraria os conceitos do found footage), o diretor fita, através de uma filmagem não documental, a câmera perdida pelos personagens do longa anterior, estabelecendo de imediato a mudança de linguagem entre as obras. Assim, esta segunda parte da história da adolescente cujos transtornos psicóticos renderam calafrios ao público em 2010 e resultaram na morte do pastor Cotton Marcus e de sua equipe de filmagem deixa o mockumentary para trás e migra para a linha tradicional de terror - e na transição, acolhe as piores convenções do gênero em um roteiro deplorável.
Escrito por Damien Chazelle e pelo diretor Ed Gass-Donnelly com base nos personagens criados por Huck Botko e Andrew Gurland, o filme traz Nell (Ashley Bell) como uma garota perturbada e traumatizada pelo rito satânico a que fora submetida no primeiro filme e (pelo que tudo nos leva a crer) do qual fugiu com vida. Depois de invadir a residência de um casal na surdina da noite, Nell é encaminhada a uma casa de reabilitação, onde é submetida a um tratamento psiquiátrico que a transforma em uma moça alegre e pronta para encarar o mundo adulto. Entretanto, durante um desfile de Mardi Gras em Nova Orleans, a garota se depara com uma série de novos estímulos, que reacendem os sintomas da suposta possessão.

"Suposta", na verdade, é um adjetivo que não cabe mais nessa observação sobre a personagem. Se em O Último Exorcismo a possessão de Nell era, na maior parte do tempo, suficientemente bem explicada com argumentos científicos plausíveis (e era justamente esse um dos principais acertos daquele filme), nesta continuação os roteiristas abrem mão do mistério e inserem a condição da garota em uma típica e aborrecida trama de assombração - e não se espante em ver telefones que tocam mesmo que desconectados da rede, televisões e rádios que se ligam sozinhos, mesas tremelicando durante sessões mediúnicas, corvos, moscas, infiltrações e toda a sorte de elementos típicos do gênero pipocando na tela. Como se não bastasse, Gass-Donnelly espera que levemos seu trabalho a sério mesmo recriando o batidíssimo plano em que o tráfego de ônibus, vans e caminhões faz com que uma pessoa misteriosamente desapareça da face da Terra, ou tentando desconstruir o clichê do susto no espelho de banheiro, sem perceber que a desconstrução em si já se tornou um clichê tão ou mais irritante que o próprio.
Porém, a opção de investir em uma trama assumidamente sobrenatural resulta em prejuízos ainda maiores do que aqueles oriundos do abuso de convenções do gênero. Nell não é mais (e, segundo o filme, também nunca pode ter sido) uma garota cujos distúrbios psicóticos parecem refletir sua confusão com relação à figura do pai, um homem que, embora lhe inspirava confiança e respeito, foi capaz de estuprá-la e engravidá-la, além de submetê-la a um agressivo ritual diabólico; trata-se apenas de uma garota amaldiçoada e ponto. Entretanto, o caldo derrama de vez quando os roteiristas tentam explicar as motivações do tal demônio Abalam, transformando a narrativa em uma trôpega e moralista metáfora sobre amadurecimento sexual e culminando na apresentação de uma profecia absolutamente ridícula e megalomaníaca - que até caberia bem em um filme de terror, desde que fosse dirigido por Roland Emmerich.
Repleto de cenas que explicitamente omitem violência em busca de uma classificação indicativa mais abrangente, O Último Exorcismo: Parte II parece até mesmo disposto a satirizar o gênero em algumas passagens - mas a intenção é tão incerta que sou levado a crer que minha suposição seja apenas o resultado de meus esforços pessoais de extrair, do turbilhão de sustos fáceis (Nell é facilmente uma das personagens mais assustadiças que o gênero já produziu), uma brisa de frescor que mereça nota.
