
Não é raro que filmes de terror proponham explicações alternativas para os eventos bizarros de sua trama. Tanto Adorável Molly quanto A Morte do Demônio, por exemplo, são exemplares recentes que usavam a dependência química para confundir os personagens em relação à possessão de suas protagonistas: não seriam seus estranhos comportamentos reflexos do uso ou da abstinência de drogas? O espanhol Apartamento 143, dirigido pelo estreante Carles Torrens e escrito por Rodrigo Cortés (Poder Paranormal), também faz uso dessa estratégia: a suposta esquizofrenia hereditária da adolescente Caitlin (Gia Mantegna, filha de Joe) seria a causa dos estranhos eventos que ocorrem na unidade 143 daquele pouco habitado edifício. Entretanto, o roteiro peca por levar essa hipótese a sério demais - e é necessário um tipo bastante particular de estupidez para acreditar que correntes de ar misteriosas, figuras humanas surgindo em fotografias e a movimentação involuntária de objetos registradas em vídeo sejam causadas por uma condição psicótica.
Bem como o Dr. Helzer (Michael O'Keefe) insiste em ressaltar até os minutos derradeiros do longa, todos esses estranhos fenômenos possuem explicações científicas, já que sobrenatural é um conceito inexistente em nosso mundo. Dessa forma, a teoria do sabichão se baseia na chamada psicocinese, pseudociência que defende a influência de pensamentos, emoções e sentimentos no mundo físico, o que nos força a acreditar que um grande acúmulo de estresse é a causa mais provável da sinistra levitação de Caitlin com a coluna arqueada a cinco palmos do chão.
Essa afronta à inteligência do espectador, entretanto, não é o único problema de Apartamento 143. A linguagem documental peca por jamais alcançar a crueza ou a urgência comuns em found footages - e apenas a irrelevante versão de Alan (Kai Lennox) sobre a morte de sua esposa gasta quase dez dos oitenta minutos do longa. Utilizando uma ampla variedade de câmeras, lentes, aspect ratios e resoluções (novamente sem um propósito claro), o filme até encontra um pretexto coerente para ser expositivo em suas explicações sobre os procedimentos adotados pela equipe do Dr. Helzer: o interesse do pequeno Benny (Damian Roman) justifica o detalhamento daqueles métodos, embora o roteiro explicite a técnica de um modo deselegante (quando a criança diz entender sobre feixes de luz e alguém lhe pergunta: "Quer que eu explique assim mesmo?").
Remetendo ao semelhante Fenômenos Paranormais, mas sem a impetuosidade e o horror daquele longa, Apartamento 143 é mais uma evidência que o ótimo Enterrado Vivo, passado inteiramente em um ambiente muitíssimo menor que a residência deste filme, parece ter sido um acerto absolutamente acidental do então promissor Rodrigo Cortés.
Emergo, Espanha, 2011 | Escrito por Rodrigo Cortés | Dirigido por Carles Torrens | Com Kai Lennox, Michael O'Keefe, Fiona Glascott, Damian Roman, Gia Mantegna, Rick Gonzalez e Laura Martuscelli.
Bem como o Dr. Helzer (Michael O'Keefe) insiste em ressaltar até os minutos derradeiros do longa, todos esses estranhos fenômenos possuem explicações científicas, já que sobrenatural é um conceito inexistente em nosso mundo. Dessa forma, a teoria do sabichão se baseia na chamada psicocinese, pseudociência que defende a influência de pensamentos, emoções e sentimentos no mundo físico, o que nos força a acreditar que um grande acúmulo de estresse é a causa mais provável da sinistra levitação de Caitlin com a coluna arqueada a cinco palmos do chão.
Essa afronta à inteligência do espectador, entretanto, não é o único problema de Apartamento 143. A linguagem documental peca por jamais alcançar a crueza ou a urgência comuns em found footages - e apenas a irrelevante versão de Alan (Kai Lennox) sobre a morte de sua esposa gasta quase dez dos oitenta minutos do longa. Utilizando uma ampla variedade de câmeras, lentes, aspect ratios e resoluções (novamente sem um propósito claro), o filme até encontra um pretexto coerente para ser expositivo em suas explicações sobre os procedimentos adotados pela equipe do Dr. Helzer: o interesse do pequeno Benny (Damian Roman) justifica o detalhamento daqueles métodos, embora o roteiro explicite a técnica de um modo deselegante (quando a criança diz entender sobre feixes de luz e alguém lhe pergunta: "Quer que eu explique assim mesmo?").
Remetendo ao semelhante Fenômenos Paranormais, mas sem a impetuosidade e o horror daquele longa, Apartamento 143 é mais uma evidência que o ótimo Enterrado Vivo, passado inteiramente em um ambiente muitíssimo menor que a residência deste filme, parece ter sido um acerto absolutamente acidental do então promissor Rodrigo Cortés.

Emergo, Espanha, 2011 | Escrito por Rodrigo Cortés | Dirigido por Carles Torrens | Com Kai Lennox, Michael O'Keefe, Fiona Glascott, Damian Roman, Gia Mantegna, Rick Gonzalez e Laura Martuscelli.