24 de abril de 2013

Sparkle - O Brilho de uma Estrela

Tika Sumpter, Carmen Ejogo e Jordin Sparks em SPARKLE - O BRILHO DE UMA ESTRELA (Sparkle)

Originalidade é um adjetivo que passa longe de Sparkle - O Brilho de uma Estrela: além de ser uma refilmagem do longa homônimo lançado em meados da década de 70, a produção divide uma série de características com o relativamente recente Dreamgirls - Em Busca de um Sonho, que também narrava a trajetória ascendente de um trio de talentosas cantoras negras, sua fatídica crise interna e lançava a carreira cinematográfica de uma ex-participante do American Idol. O mais frustrante, entretanto, é constatar que a falta de originalidade também atinge o desenvolvimento da narrativa, cujo descuido compromete o já reduzido potencial do filme.

Escrito por Mara Brock Akil (esposa do diretor Salim Akil) com base no roteiro original de Joel Schumacher e Howard Rosenman, Sparkle é ambientado na Detroit do final da década de 60 e conta a história de um trio de irmãs que, sem a autorização de sua conservadora mãe, Emma (Whitney Houston), começa a emplacar apresentações noturnas em locais badalados da cidade. Sob o título de Sister and Her Sisters, a recatada e talentosa compositora Sparkle (Jordin Sparks), a ambiciosa e sensual líder Sister (Carmen Ejogo) e a futura médica Dolores (Tika Sumpter, de Pense Como Eles) rapidamente atraem a atenção de olheiros da indústria musical - mas a trajetória de sucesso do trio logo é comprometida pelo declínio pessoal de sua líder.

E Mara Brock Akil sequer parece ter certeza de quem é sua protagonista: embora Sister ganhe destaque na maior parte do tempo e seja responsável pela maior parte dos incidentes que movem a narrativa, Sparkle não só carrega em seu nome o título do filme, como também assume a dianteira quando a irmã é obrigada a sair de cena - embora isto só venha a ocorrer na reta final do longa. Com isso, a roteirista até consegue criar um arco de crescimento e superação digno para a personagem-título, que consegue vencer a falta de confiança no próprio talento e alcançar uma posição de destaque, mas deixa o espectador sem a certeza de qual história exatamente o longa pretende contar - e há um potencial concreto na personalidade autodestrutiva de Sister, vivida com doses corretas de sensualidade e arrogância por Carmen Ejogo, que o filme falha em explorar com maior profundidade.

Além disso, Salim Akil não raramente abre mão do bom senso na hora de reforçar a mensagem que determinadas cenas pretendem transmitir: a apresentação em que as garotas são subestimadas pelo público em função do pudor dos figurinos e acabam aclamadas graças à qualidade da apresentação, por exemplo, valoriza excessivamente a sensualidade da performance de Sister (o que diminui os méritos musicais do grupo) e registra a mudança de reação da plateia de forma patética, não se intimidando em visitar os extremos do deboche e da ovação. Ainda nesse sentido, a relação das irmãs com a mãe é aborrecida e absurda: além do protecionismo mal justificado (seus erros do passado jamais são revelados), a religiosidade da personagem beira a caricatura - e a mudança abrupta de postura de Emma no ato final apenas comprova a falta de lógica de seu comportamento até ali.

Contudo, foi mesmo o falecimento inesperado de Whitney Houston o principal responsável pela relativa atenção que Sparkle recebeu da imprensa - e levando em consideração que ela sequer consegue corresponder dignamente às demandas dramáticas do papel, é uma pena constatar que o último trabalho cinematográfico da cantora não ofereça uma contribuição memorável a seu legado artístico.


Sparkle, EUA, 2012 | História de Joel Schumacher e Howard Rosenman. Roteiro de Mara Brock Akil | Dirigido por Salim Akil | Com Jordin Sparks, Carmen Ejogo, Tika Sumpter, Whitney Houston, Derek Luke, Mike Epps, Omari Hardwick, Curtis Armstrong, Michael Beach, Terrence J e Cee-Lo Green.