13 de abril de 2013

Refúgios

Rachel Hurd-Wood e Harry Treadaway em REFÚGIOS (Hideaways)

Os homens da linhagem dos Furlong não são seres convencionais. Por razões desconhecidas, todos eles desenvolvem algum tipo de habilidade fantástica em decorrência de experiências traumáticas na infância: depois de ver dois adultos transando, um deles passa a ter 37 minutos de cegueira sempre que pensa em sexo; seu descendente, assustado com equipamentos ortodônticos, passa a anular involuntariamente o funcionamento de aparelhos eletrônicos em momentos de nervosismo; por fim, o pequeno James arranca a vida de todos os seres ao redor sempre que tem alguma hemorragia, depois de se ferir tentando estimular o surgimento dos poderes de sua preferência. Naturalmente, as habilidades extraordinárias dos Furlong logo assumem a proporção de grandes maldições - especialmente a de James, que, depois de matar acidentalmente o pai, a avó, uma penca de colegas do reformatório e um lenhador que o acolheu em uma de suas fugas, passa a viver isolado da humanidade em uma cabana na floresta.

Diante de uma introdução que não se intimida em jorrar sangue e multiplicar tragédias, é extremamente decepcionante que Refúgios se deixe levar pela onda de romances fantásticos açucarados impulsionada por Crepúsculo e abra mão de grande parte da força de sua premissa ao insistir em alçar o poder transformador do amor a um patamar literal. Escrito por Nick Murphy e dirigido por Agnès Merlet, o longa irlandês acompanha o breve envolvimento de James Furlong (Harry Treadaway) com Mae-West O'Mara (Rachel Hurd-Wood), uma jovem paciente que foge de um hospital localizado nas redondezas da floresta que abriga o protagonista após descobrir que seu câncer de intestino é irreversível. Há anos sem interagir com outros humanos, James age com um misto de timidez, receio e curiosidade e acaba se apaixonando por Mae-West, mas tenta lutar contra os sentimentos por temer o mal que pode causar à garota.

Com isso, Murphy e Merlet desperdiçam uma premissa instigante e um protagonista dono de devastadores conflitos internos ao apostar em um romance tolo, abrupto e inconvincente que, como já mencionado, transforma o amor em um poder transformador literal dentro do universo do filme. Embora admissível, o conceito causa incômodo por algumas razões: lacunas no passado da família Furlong são abertas, a química do casal principal é deficitária (Treadway, em particular, é péssimo ator) e, pela pobreza ou escassez de metáforas, o conceito soa arbitrário - e o máximo que o roteiro faz nesse sentido é tentar aproximar o casal pelo sofrimento em comum, isto é, a sujeição às danosas heranças genéticas, já que nem o fato de um tirar vidas e a outra estar prestes a morrer é bem aproveitado pelo filme.

Demasiadamente aborrecido para sua curta duração, Refúgios se estabelece de vez como uma decepção assim que concluímos que a maior maldição de James Furlong é, na verdade, ter saído da mente de um roteirista ruim.


Hideaways, Irlanda, 2011 | Escrito por Nick Murphy | Dirigido por Agnès Merlet | Com Harry Treadaway, Rachel Hurd-Wood, James Wilson, Thomas Brodie Sangster, Susan Lynch, Stuart Graham e Kate O'Toole.