10 de abril de 2013

Crítica | Oblivion

Tom Cruise em OBLIVION

por Eduardo Monteiro

Oblivion, EUA, 2013 | Duração: 2h04m36s | Lançado no Brasil em 12 de Abril de 2013, nos cinemas | Baseado nos quadrinhos de Joseph Kosinski e Arvid Nelson. Roteiro de Joseph Kosinski e Karl Gajdusek e Michael Arndt | Dirigido por Joseph Kosinski | Com Tom Cruise, Olga Kurylenko, Andrea Riseborough, Morgan Freeman, Nikolaj Coster-Waldau e Melissa Leo.

Pôster nacional e crítica de OBLIVION
Durante uma operação de manutenção de drones (equipamentos bélicos esféricos responsáveis pela segurança da Terra futurista devastada de Oblivion), Jack Harper (Tom Cruise, de Jack Reacher - O Último Tiro) estaciona sua bubbleship em algum lugar da superfície e decide percorrer a distância até o local do serviço de motocicleta - que, então, passa a ser usada como sustentáculo para o rapel que o conduz ao interior de uma biblioteca destruída. Minutos mais tarde, o cabo que garantiria a evasão do personagem daquele ambiente é rompido - o que não impede que, poucos segundos depois e sem maiores explicações, Jack seja visto saindo pelo mesmo buraco pelo qual entrou e descobrindo que sua moto havia sido saqueada. Na cena seguinte, o protagonista já surge pousando a nave na torre de comando, onde vive com a companheira Vika (Andrea Riseborough).

A escalada rumo ao rombo do teto da biblioteca e o longo retorno à bubbleship são resoluções extremamente mal explicadas para os contratempos oferecidos a Jack pelo roteiro de Oblivion, escrito por Karl Gadjusek (Reféns), Michael Arndt (responsável pelo próximo episódio de Star Wars) e pelo cineasta Joseph Kosinski (TRON: O Legado), com base nos quadrinhos criados por este último em conjunto com Arvid Nelson. Incoerências como essas podem até passar batidas para muitos, mas o montante delas não pode ser relevado - e basta alguns minutos de reflexão após (ou mesmo durante) os créditos finais para concluir que, além de repleta de furos, a trama do filme não faz muito sentido.

Ambientado em 2077, Oblivion apresenta uma Terra que, invadida por alienígenas sessenta anos antes, foi devastada tanto por desastres naturais consequentes da destruição da Lua quanto pela guerra nuclear entre humanos e invasores. Embora os terráqueos tenham vencido a disputa, alguns poucos alienígenas remanescentes (os chamados Saqueadores) persistiram e precisaram ser combatidos pelos drones - e até que a salubridade do planeta seja restaurada, a humanidade deve permanecer em Titã, uma das luas de Saturno, ou em Tet, uma estação intermediária que paira nas redondezas da Terra. No setor onde antes ficava Nova York, Jack e Vika cumprem as duas últimas semanas da missão de segurança e manutenção para a qual foram designados - até que eventos inesperados e sonhos com aparência de memórias perdidas conduzem a história para outros rumos.

Antes de mais nada, o universo concebido pelos realizadores frustra expectativas graças à diversidade de inconsistências tecnológicas. Embora o aparato colocado à disposição dos personagens aparente um altíssimo nível (a própria bubbleship é capaz de manobras ágeis, precisas e ousadíssimas), não há, por exemplo, um equipamento simples e remoto que evite a ida de dois personagens a um local perigoso em busca da caixa preta de determinada nave - algo que já existe até mesmo nos dias atuais. E o que dizer do conteúdo da gravação deste artefato, que engloba diálogos transcorridos em uma parcela da nave que havia sido desacoplada algum tempo antes do final da missão? E além da escolha negligente das datas (o repouso delta, técnica capaz de manter uma pessoa em estado criogênico por pelo menos sessenta anos, já deveria existir em 2017, isto é, daqui a míseros quatro anos) ou dos contrassensos físicos (em certo instante, Jack dribla um raio com sua nave - o que não faz o menor sentido), o roteiro também peca por propor reviravoltas que levantam questionamentos pertinentes a respeito da razoabilidade do uso de força humana nas funções exercidas por Jack e Vika.

Andrea Riseborough em OBLIVION

Além disso, Oblivion decepciona por transformar uma premissa interessante em um recorte de ficções científicas prévias: intimamente semelhante a Lunar, de Duncan Jones, o filme também remete várias vezes a WALL•E, de Andrew Stanton, e agrega elementos e flerta com a megalomania de A Ilha, de Michael Bay. Como se não bastasse, Joseph Kosinski abraça uma infinidade de clichês insuportáveis de filmes de ação: além do plano em que uma nave em declínio some em um despenhadeiro apenas para surgir sã e salva segundos depois, há também a ocasião em que algum antagonista, prestes a aniquilar personagens importantes, é abatido no último segundo por algum herói, com um tiro nas costas.

Como de costume, Tom Cruise assume o papel do herói de ação com entrega absoluta, percorrendo os momentos mais dramáticos com a expressividade necessária e abraçando as cenas de ação com a energia corriqueira (repare como o ator parece prestes a quebrar o pescoço quando cai de uma plataforma dando uma cambalhota para trás em determinada sequência da reta final). E enquanto a bela e britânica Andrea Riseborough (Inimigos de Sangue) expressa suficientemente bem a eficiência técnica, os eventuais conflitos e a alienação de Victoria, Olga Kurylenko assume uma das arestas do esboço de um aborrecido triângulo amoroso com uma personagem sem maiores funções práticas na trama - e até sua brevíssima aparição em Sete Psicopatas e um Shih Tzu parece mais oportuna e útil que sua Julia em Oblivion. Fechando o elenco, Morgan Freeman limita-se a adaptar sua corriqueira composição para personagens líderes a uma caricatura badass absolutamente besta, ao passo que o coadjuvante dinamarquês Nikolaj Coster-Waldau (Mama, Game of Thrones) continua colhendo migalhas em busca de destaque em Hollywood.

Em seu segundo trabalho na direção, Joseph Kosinski reforça seu excelente senso estético e, com a contribuição do designer de produção Darren Gilford e do diretor de fotografia recém premiado com um Oscar, Claudio Miranda, cria uma eficiente contraposição entre a devastação acinzentada da superfície terrestre e a assepsia da torre de comando sem abrir mão de detalhes emblemáticos: repare, por exemplo, como o formato do aparelho utilizado por Jack para praticar corrida ganha um significado extra após a reviravolta central do filme. Por fim, a trilha sonora assinada pelo grupo M83 surge como uma cópia sem personalidade da obra de Hans Zimmer, beirando o plágio em certas passagens.

Passando longe de reflexões políticas, ambientais, sociais ou até mesmo psicológicas (a crise de identidade do protagonista é bastante mal trabalhada), Oblivion desce mais alguns degraus nos minutos finais, quando decide misturar frases de efeito com a ânsia por um final feliz - que só aumenta a tristeza do espectador e as chances do filme de cair brevemente no oblívio.

Olga Kurylenko e Tom Cruise em OBLIVION