
por Eduardo Monteiro



Mama, Espanha/Canadá, 2013 | Duração: 1h40m02s | Lançado no Brasil em 5 de Abril de 2013, nos cinemas | História de Andy Muschietti & Barbara Muschietti. Roteiro de Neil Cross e Andy Muschietti & Barbara Muschietti | Dirigido por Andy Muschietti | Com Jessica Chastain, Megan Charpentier, Nikolaj Coster-Waldau, Isabelle Nélisse, Daniel Kash, Jane Moffat, Hannah Cheesman e Javier Botet.
Assustar pessoas não é uma tarefa difícil. Nenhum ser humano consegue manter um nível de atenção alto e constante o suficiente para evitar sobressaltos causados por sons, vultos ou aparições inesperados, quaisquer que sejam suas naturezas. Manter um indivíduo tenso ou apreensivo, porém, exige um pouco mais de habilidades e ferramentas - e, mesmo com limitações, a construção de uma atmosfera de suspense apropriada pode ser apontada como uma das conquistas do curta de terror espanhol Mamá. Todavia, a força do filme residia mesmo nos sustos e na eficácia técnica, já que a falta de tempo impedia os realizadores de desenvolverem um contexto que promovesse o envolvimento do espectador com a situação de duas garotinhas assombradas por uma figura materna assustadora.
Pois com quase quarenta vezes mais tempo para construir sua narrativa, um orçamento notadamente mais folgado e o apadrinhamento de Guillermo Del Toro, o cineasta Andy Muschietti tem, com o longa-metragem Mama, a chance de expandir aquele universo e provar seu valor. Escrito pelo próprio diretor em parceria com sua irmã, Barbara Muschietti, e Neil Cross, Mama conta a história de duas garotas que, devido a circunstâncias extraordinárias, são abandonadas em uma cabana na floresta, onde permanecem por cinco anos sob a guarda da entidade que dá nome ao filme. Dotadas de um comportamento animalesco na ocasião do resgate, a primogênita Victoria (Megan Charpentier) e a caçula Lilly (Isabelle Nélisse) são acolhidas pelo tio Lucas (Nikolaj Coster-Waldau) e por sua namorada, a baixista Annabel (Jessica Chastain), cujos esforços empregados na criação das irmãs são obstruídos pelo ciúme intransigente de Mama.
Como de costume, a forma física desta entidade ameaçadora só é apresentada ao espectador na reta final da projeção - e, até lá, nossa imaginação é estimulada através de sons, vultos, sombras, silhuetas ou pela própria imagem de Mama, porém desfocada ou vista através de reflexos distorcidos. Entretanto, o roteiro de Cross e dos irmãos Muschietti se diferencia de tantos outros semelhantes por não desperdiçar tempo criando suspense em torno da existência ou até mesmo das motivações da assombração: ainda no prólogo, tanto a tutela assumida por Mama quanto uma amostra de sua aparência são apresentadas sem maiores rodeios para o público. Assim, o espectador já sabe exatamente o que temer, transformando o zelo de Annabel e Lucas pelas arredias sobrinhas em uma fonte constante de apreensão.
Apoiando-se em uma relação maternal exatamente inversa à de O Chamado, Mama lança mão de diversos ingredientes usados tanto no longa de Hideo Nakata (ou no ótimo remake comandado por Gore Verbinski) quanto em outras produções de terror, como desenhos ou rabiscos sugestivos, infiltrações, penhascos, interferências elétricas, closets, mariposas ou, claro, os sinistros cabelos negros compridos. Naturalmente, a carência de originalidade não impede que muitos desses elementos funcionem: a própria Mama (vivida em boa parte do tempo pelo esguio e esquelético Javier Botet), por exemplo, surge como um cruzamento apavorante entre a Samara de O Chamado e Niña Medeiros de [Rec], capaz de deixar os nervos do espectador em frangalhos.
O que nos leva ao apavorante plano-sequência que não só reencena e homenageia o curta original, como também prolonga o horror daquela breve experiência: embora soe como um empurrão arbitrário rumo à resolução do longa, o plano consegue alcançar o nível de tensão almejado pela ausência de cortes e, claro, é beneficiado pela aparência grotesca da assombração e pelos desempenhos de Megan Charpentier e Jessica Chastain. Aliás, com uma caracterização que flerta com o punk e parece tentar abrandar sua superexposição recente, Chastain compõe uma personagem vulnerável e assumidamente despreparada para assumir um papel que a lança em um conflito curioso: seu emergente instinto maternal é tanto causa do problema quanto a força necessária para a solução. Para completar, as atrizes juvenis brilham em seus papéis: pontualmente auxiliadas por dublês e efeitos especiais (especialmente no que diz respeito ao comportamento animalesco), Charpentier e Nélisse desempenham suas funções distintas com bastante talento e intensidade - e a mais velha, em particular, se destaca pela domínio satisfatório das mudanças sofridas por Victoria.
Contrabalanceando clichês com boas sacadas que se apoiam nas próprias convenções do gênero (como a tensão criada pela simples opção de rodar uma cena diante de uma banheira com a cortina fechada), Mama é um filme mediano que, em última instância, acaba sendo sabotado por um desfecho tolo e anticlimático, incapaz de despertar as emoções pretendidas - embora eu arrisque afirmar que o saldo final tenda para positivo.
Pois com quase quarenta vezes mais tempo para construir sua narrativa, um orçamento notadamente mais folgado e o apadrinhamento de Guillermo Del Toro, o cineasta Andy Muschietti tem, com o longa-metragem Mama, a chance de expandir aquele universo e provar seu valor. Escrito pelo próprio diretor em parceria com sua irmã, Barbara Muschietti, e Neil Cross, Mama conta a história de duas garotas que, devido a circunstâncias extraordinárias, são abandonadas em uma cabana na floresta, onde permanecem por cinco anos sob a guarda da entidade que dá nome ao filme. Dotadas de um comportamento animalesco na ocasião do resgate, a primogênita Victoria (Megan Charpentier) e a caçula Lilly (Isabelle Nélisse) são acolhidas pelo tio Lucas (Nikolaj Coster-Waldau) e por sua namorada, a baixista Annabel (Jessica Chastain), cujos esforços empregados na criação das irmãs são obstruídos pelo ciúme intransigente de Mama.
Como de costume, a forma física desta entidade ameaçadora só é apresentada ao espectador na reta final da projeção - e, até lá, nossa imaginação é estimulada através de sons, vultos, sombras, silhuetas ou pela própria imagem de Mama, porém desfocada ou vista através de reflexos distorcidos. Entretanto, o roteiro de Cross e dos irmãos Muschietti se diferencia de tantos outros semelhantes por não desperdiçar tempo criando suspense em torno da existência ou até mesmo das motivações da assombração: ainda no prólogo, tanto a tutela assumida por Mama quanto uma amostra de sua aparência são apresentadas sem maiores rodeios para o público. Assim, o espectador já sabe exatamente o que temer, transformando o zelo de Annabel e Lucas pelas arredias sobrinhas em uma fonte constante de apreensão.

Apoiando-se em uma relação maternal exatamente inversa à de O Chamado, Mama lança mão de diversos ingredientes usados tanto no longa de Hideo Nakata (ou no ótimo remake comandado por Gore Verbinski) quanto em outras produções de terror, como desenhos ou rabiscos sugestivos, infiltrações, penhascos, interferências elétricas, closets, mariposas ou, claro, os sinistros cabelos negros compridos. Naturalmente, a carência de originalidade não impede que muitos desses elementos funcionem: a própria Mama (vivida em boa parte do tempo pelo esguio e esquelético Javier Botet), por exemplo, surge como um cruzamento apavorante entre a Samara de O Chamado e Niña Medeiros de [Rec], capaz de deixar os nervos do espectador em frangalhos.
O que nos leva ao apavorante plano-sequência que não só reencena e homenageia o curta original, como também prolonga o horror daquela breve experiência: embora soe como um empurrão arbitrário rumo à resolução do longa, o plano consegue alcançar o nível de tensão almejado pela ausência de cortes e, claro, é beneficiado pela aparência grotesca da assombração e pelos desempenhos de Megan Charpentier e Jessica Chastain. Aliás, com uma caracterização que flerta com o punk e parece tentar abrandar sua superexposição recente, Chastain compõe uma personagem vulnerável e assumidamente despreparada para assumir um papel que a lança em um conflito curioso: seu emergente instinto maternal é tanto causa do problema quanto a força necessária para a solução. Para completar, as atrizes juvenis brilham em seus papéis: pontualmente auxiliadas por dublês e efeitos especiais (especialmente no que diz respeito ao comportamento animalesco), Charpentier e Nélisse desempenham suas funções distintas com bastante talento e intensidade - e a mais velha, em particular, se destaca pela domínio satisfatório das mudanças sofridas por Victoria.
Contrabalanceando clichês com boas sacadas que se apoiam nas próprias convenções do gênero (como a tensão criada pela simples opção de rodar uma cena diante de uma banheira com a cortina fechada), Mama é um filme mediano que, em última instância, acaba sendo sabotado por um desfecho tolo e anticlimático, incapaz de despertar as emoções pretendidas - embora eu arrisque afirmar que o saldo final tenda para positivo.
