11 de abril de 2013

Crítica | Chamada de Emergência

Halle Berry e Denise Dowse em CHAMADA DE EMERGÊNCIA (The Call)

por Eduardo Monteiro

The Call, EUA, 2013 | Duração: 1h33m50s | Lançado no Brasil em 12 de Abril de 2013, nos cinemas | História de Richard D'Ovidio & Nicole D'Ovidio & Jon Bokenkamp. Roteiro de Richard D'Ovidio | Dirigido por Brad Anderson | Com Halle Berry, Abigail Breslin, Michael Eklund, Morris Chestnut, Roma Maffia, Denise Dowse, David Otunga, Michael Imperioli, Justina Machado, José Zúñiga, Ella Rae Peck e Evie Louise Thompson.

Pôster nacional e crítica de CHAMADA DE EMERGÊNCIA (The Call)
Certamente, chamadas longas para o serviço de atendimento a emergências são fatos raros, já que fogem do imediatismo, da prontidão e da urgência inerentes a ligações desse tipo. O caso da adolescente Casey Welson (Abigail Breslin, de Noite de Ano Novo), por exemplo, é um que se encaixa no grupo das exceções: sequestrada por um maníaco, a garota mantém contato por celular com a atendente Jordan (Halle Berry) enquanto é transportada no porta-malas de um carro, sem que seu algoz tome conhecimento desse fato. Entretanto, a maior peculiaridade deste caso reside no fato de que Casey, Jordan e o sequestrador Michael Foster (Michael Eklund) são personagens irreais agindo de forma implausível para permitir que o sequestro preencha um thriller de noventa e poucos minutos - ao passo que a vida real, felizmente, não é roteirizada por Richard D'Ovidio (13 Fantasmas).

Dirigido por Brad Anderson (O Operário), Chamada de Emergência começa apresentando o funcionamento padrão de uma central de atendimento de emergências e ressaltando que aquelas linhas telefônicas são fontes naturais e prolíferas de premissas para thrillers violentos - o que praticamente nos induz a considerar que o filme possivelmente teria funcionado muitíssimo melhor como uma antologia de curtas ou caso acompanhasse múltiplas narrativas paralelas, ao invés de estender a duração de uma ocorrência que poderia perfeitamente ser concluída com rapidez em circunstâncias convencionais. Repetindo o esqueleto do primeiro ato de Maré Negra, trabalho recente pavoroso de Halle Berry, o roteiro de D'Ovidio leva a protagonista a se afastar de sua profissão após uma experiência traumática (no caso, um atendimento com desfecho trágico) e continuar trabalhando na mesma área, porém em um cargo alheio a riscos (treinamento de pessoal, no caso). Porém, a situação muda de figura quando uma funcionária inexperiente atende a chamada de Casey, que logo é repassada para Jordan.

E até certo ponto, os esforços conjuntos das personagens de Berry e Breslin se desenvolvem de forma coerente e conseguem prender a atenção do espectador: a passagem do sequestrador por uma autoestrada possui uma sequência de eventos bastante lógica, que alterna a vantagem entre mocinhas e vilão com o apoio da ingenuidade de outros motoristas, mas sem abusar da inteligência do espectador. Entretanto, quando Michael se esgueira para um estacionamento e tem seus planos parcialmente frustrados, a trama começa a desandar: a incompetência da polícia torna-se demasiadamente absurda e conveniente, enquanto o vilão revela-se cada vez mais um psicopata caricato e indigno de interesse por parte do público - culminando em um terceiro ato aspirante a O Silêncio dos Inocentes, porém infinitamente inferior e absurdamente ineficiente.

CHAMADA DE EMERGÊNCIA (The Call)

Além disso, o roteirista claramente não consegue lidar com o fato de que o envolvimento ativo da protagonista na resolução da trama faz-se desnecessário - e, para que esta participação seja viabilizada, D'Ovidio é obrigado a depreciar mais uma vez a competência da força policial, que, embora admita a possibilidade de o criminoso e a vítima terem passado por determinada fazenda, abre mão de uma perícia no local, que rapidamente solucionaria o caso. Por fim, além do jogo de gato e rato aborrecido e de uma erotização desnecessária da atriz Abigail Breslin, os realizadores comprometem o terceiro ato graças à necessidade tola de expor detalhadamente as motivações do vilão ou até mesmo devido à criação de simbolismos inconsistentes: não fica claro se o ângulo baixo que fita Jordan diante de uma bandeira dos Estados Unidos reflete o ufanismo norte-americano ou propõe uma crítica a ele, diante dos eventos transcorridos nos segundos finais da projeção.

Distante da garotinha desajeitada e ingênua que arrasou corações em Pequena Miss Sunshine, a agora loira Abigail Breslin investe em uma composição amedrontada e histérica que, embora não seja particularmente agradável, convence bastante e consegue até mesmo comover o espectador em momentos estratégicos. Já Halle Berry dá continuidade à sequência de papéis pouco relevantes em projetos pouco promissores (com exceção, talvez, de A Viagem) e, na medida do possível, se esforça para extrair algo de interessante de uma personagem metida a agente secreta, embora incorpore o papel de atendente com segurança e confiabilidade. Por fim, sempre que possível, o diretor Brad Anderson agarra chances de reafirmar seu talento: a particularmente tensa e angustiante sequência envolvendo o atendimento à ligação da adolescente indefesa Leah Templeton (Evie Louise Thompson) é um bom exemplo.

Ambientado em um universo em que Missão Madrinha de Casamento é o filme favorito de alguém, Chamada de Emergência é um longa que não faz jus à sua primeira metade e comete o crime de desperdiçar o talento de seu diretor. Pena que não exista um telefone para denunciar este delito.

Abigail Breslin em CHAMADA DE EMERGÊNCIA (The Call)