17 de abril de 2013

Crítica | A Morte do Demônio

Jane Levy em A MORTE DO DEMÔNIO (Evil Dead)

★★★★

Evil Dead, EUA, 2013 | Duração: 1h31m08s | Lançado no Brasil em 19 de abril de 2013, nos cinemas | Baseado no roteiro de A Morte do Demônio, de Sam Raimi. Roteiro de Fede Alvarez e Rodo Sayagues | Dirigido por Fede Alvarez | Com Jane Levy, Shiloh Fernandez, Lou Taylor Pucci, Jessica Lucas, Elizabeth Blackmore e Randal Wilson.

Pôster nacional e crítica de A MORTE DO DEMÔNIO (Evil Dead)
A Morte do Demônio - o original - é um filme extremamente datado. Lançado há mais de 30 anos, o terror gore de baixíssimo orçamento comandado por Sam Raimi (Oz - Mágico e Poderoso) aos 20 anos de idade possui triunfos o bastante para garantir seu lugar cativo na História do gênero, mas é impossível ignorar que, tecnicamente (principalmente no que diz respeito a fotografia e maquiagem), a produção deixa bastante a desejar, especialmente para as plateias atuais. Levando em conta os inúmeros avanços tecnológicos ocorridos ao longo das últimas três décadas, a ideia de uma refilmagem é, em primeira instância, bastante justificável - e pelo menos no que diz respeito à criação de uma atmosfera de tensão e ao espetáculo gore, seria injusto dizer que o cineasta uruguaio Fede Alvarez faz feio nesta nova versão.

Com um orçamento bem mais folgado e uma reimaginação da trama registrada em roteiro pelo próprio Alvarez e por Rodo Sayagyes, A Morte do Demônio dá um novo contorno à premissa do grupo de jovens que viaja para uma cabana isolada no meio de uma floresta: desta vez, a estadia no local remoto tem como objetivo ajudar Mia (Jane Levy, uma espécie de Emma Stone com a caixa craniana de Reese Witherspoon) a largar as drogas. Entretanto, a primeira noite do grupo se transforma em um generoso banho de sangue depois que o abelhudo Eric (Lou Taylor Pucci) decide desembrulhar um livro envolto em arame farpado e ignorar avisos como "Abandone este livro agora!", despertando uma entidade maligna e assinando, no ato, o atestado de óbito dos amigos.

Surgindo quase como uma metáfora louca para a abstinência química, A Morte do Demônio é hábil ao utilizar o vício da protagonista como uma ferramenta capaz de adiar a percepção dos personagens a respeito da dimensão da enrascada em que se encontram - e, por isso mesmo, o uso de uma segunda explicação alternativa para a possessão da garota (histórico familiar de insanidade) revela-se um esforço tolo e desnecessário de perpetuar o impasse entre os jovens. O ritmo conferido pelos realizadores à narrativa, por outro lado, é impecável: os desencontros e desentendimentos são convincentes e o avanço das atividades do demônio transcorre em uma velocidade astutamente calculada para deixar o espectador agarrado à poltrona e vidrado na tela.


Para tal efeito, Alvarez conta com o suporte de uma excelente equipe técnica. Antes de mais nada, o trabalho do compositor espanhol Roque Baños desempenha um papel fundamental na criação da atmosfera de tensão: apesar da onipresença e dos momentos de frustrante obviedade, a trilha acerta por atribuir expectativas mais ou menos contidas a praticamente todos os eventos vistos em tela, já que, embora os personagens não saibam, a maioria de suas atitudes, por mais triviais e inofensivas que sejam, estão contribuindo para nossa imediata ou futura taquicardia. Também consciente de que sabemos mais sobre a tragédia iminente do que os habitantes daquele universo, a fotografia de Aaron Morton mergulha em uma paleta angustiante e claustrofóbica os cenários e as locações criados ou selecionados pelas equipes de design de produção e direção de arte, incluindo a nada acolhedora cabana ou a sinistra floresta neozelandesa que a cerca. Por fim, apesar da cor muitas vezes inconsistente do sangue, a maquiagem não comete o pecado de transformar os personagens possuídos em meros atores maquilados, com o benefício fundamental das boas mudanças de postura do elenco durante a fase demoníaca.

E os pouco conhecidos jovens escalados para sangrar na tela também não decepcionam: Jane Levy, em especial, encara a montanha russa de emoções de Mia com segurança, terror e talento, ao passo que Shiloh Fernandez, como o irmão da protagonista, desperta a compaixão do espectador com seu carisma e uma leve expressão de palerma, tornando parte da estupidez de David mais perdoável (na segunda metade da projeção, por exemplo, o personagem continua a acreditar que é possível dopar a irmã com remédios). Apostando fortemente em cenas repulsivas, inclusive com cunho sexual (mais até do que no filme original), o longa não é feliz em todas as adaptações da trama: qual é o propósito de um livro que ensina tanto a convocar quanto a expulsar um demônio? Quem é a garota cadavérica que aterroriza os jovens e qual a sua real natureza? Por fim, a maior parte dos clichês (oriundos ou não da obra inspiradora) que permeiam a narrativa pode ser relevada diante dos bons resultados alcançados - o que não pode ser dito, entretanto, do ato final, quando as convenções do gênero são agarradas de forma desenfreada e descautelosa, criando um pequeno anti-clímax.

Fazendo a dose obrigatória de referências ao longa original (do primeiro movimento de câmera após o prólogo até o plano extra após os créditos finais) ou, claro, agregando diretamente elementos daquela obra (os passeios de câmera pela mata persistem como um dos grandes acertos da franquia), A Morte do Demônio ainda brinca com as expectativas daqueles familiarizados com a produção original (descobrir que o livro não é incendiável é devastador) ou com algumas convenções do próprio gênero (como não ficar com uma pulga atrás da orelha com o comportamento de certa personagem que retorna em um momento próximo ao desfecho?). Dizer que falta originalidade ao remake é praticamente redundante, mas vale apontar que ele funciona suficientemente bem para deleitar os fãs do gênero e merecer uma conferida.

Shiloh Fernandez em A MORTE DO DEMÔNIO (Evil Dead)