5 de abril de 2013

Adorável Molly

Gretchen Lodge e Johnny Lewis em ADORÁVEL MOLLY (Lovely Molly)

Enquanto pesquisava sobre Adorável Molly para redigir este texto, descobri que o jovem ator Johnny Lewis - que no filme interpreta Tim, esposo da personagem-título - havia falecido algum tempo depois das filmagens do longa, após uma série de eventos trágicos e bizarros desencadeados por uma lesão mental provocada por um acidente de moto. Não fossem a minha crença na índole dos produtores e a discrepância entre o lançamento do longa e a morte do rapaz (Lewis faleceu um ano após a primeira exibição do filme), seria capaz de apostar que a divulgação da notícia fazia parte de uma campanha viral da produção, nos moldes daquilo que o cineasta cubano Eduardo Sánchez já havia feito na ocasião do lançamento de A Bruxa de Blair - isto é, dar os atores desconhecidos que estrelavam o filme como mortos, de modo a fortalecer a verossimilhança pretendida pelo então pouco disseminado subgênero found footage.

Na realidade, é uma pena que a notícia não seja falsa, já que, embora Adorável Molly não lhe ofereça grandes oportunidades, Johnny Lewis parecia um ator talentoso e empenhado, era extremamente jovem (viveu apenas 29 anos incompletos) e era descrito por conhecidos como um artista completo, versátil e filantropo - o que, com o perdão pela insensibilidade, não vem ao caso para a análise em questão. O que importa é que Lewis desempenha suficientemente bem o papel de um marido cuja apreensão progressiva é um reflexo direto do avanço da demência de Molly, vivida pela inexperiente Gretchen Lodge com doses transmutáveis de pânico, agressividade, abatimento e introversão demoníaca.

Lançado recentemente no Brasil em vídeo, Adorável Molly é escrito por Sánchez e Jamie Nash e acompanha a rotina dos já citados recém casados no antigo casarão em que Molly e a irmã, Hannah (Alexandra Holden), foram criadas pelos pais, agora falecidos. Uma aparente assombração começa a dar sinais de vida e logo possui a protagonista, que assume um comportamento absolutamente instável - e a sugestão de que sua recaída nas drogas pode ser a razão das alucinações é extremamente tola, já que é evidente que os efeitos alucinógenos não são capazes de, por exemplo, mover objetos (e as filmagens realizadas por Molly reforçam que as atividades do demônio não pertencem à subjetividade mental da protagonista). Aliás, embora mal justificado, o uso pontual de filmagem amadora diegética incrementa o suspense, mas revela-se mesmo fundamental para explicitar a passagem de tempo, através do surgimento da data nas imagens.

Além disso, a trilha sonora e o desenho de som contribuem de forma decisiva para a atmosfera de tensão do longa e constantemente conferem relevância a acontecimentos que pouco acrescentam à trama. Infelizmente, o roteiro de Sánchez e Nash não parece disposto a contornar clichês (quando o alarme da casa dispara, Tim desce as escadas lentamente perguntando "Quem está aí?") ou contar uma história original, interessante ou razoavelmente bem esclarecida, de modo que o filme torna-se particularmente aborrecido depois que Molly é possuída e assume um comportamento inconstante, imprevisível e indecifrável - e se lembrarmos que isso ocorre logo na primeira metade do longa, não faltam motivos para excluir Adorável Molly da lista de filmes de terror injustamente ignorados.


Lovely Molly, EUA, 2011 | Roteiro de Jamie Nash e Eduardo Sánchez | Dirigido por Eduardo Sánchez | Com Gretchen Lodge, Johnny Lewis, Alexandra Holden, Field Blauvelt, Lauren Lakis, Ken Arnold, Tara Garwood e Todd Ryan Jones.