27 de abril de 2013

A Aparição

Ashley Greene e Sebastian Stan em A APARIÇÃO (The Apparition)

É compreensível que atores pouco conhecidos do elenco de apoio de Crepúsculo tentem aproveitar o impulso proporcionado pela franquia para estabelecer suas carreiras em Hollywood - mas como nem Taylor Lautner, uma das arestas do triângulo amoroso que fundamentava a série, tem conseguido ir muito longe, só resta a nomes como Jackson Rathbone (quem?), Kellan Lutz (quem?), Elizabeth Reaser (quem?) e Peter Facinelli (quem?) provar seus talentos, contar com a sorte, contratar bons agentes e escolher bem os projetos em que se envolvem.

Ashley Greene (quem mesmo?) - atriz que deu vida a Alice Cullen até o último capítulo da franquia (ah, tá!) - não tem correspondido a nenhum dessas três estratégias. Apoiando-se nas migalhas que restam do apelo de seu nome para com os espectadores órfãos de Crepúsculo, além de sua beleza e inusitada semelhança física com Kristen Stewart, Greene vem tentando se manter em evidência através de projetos sempre duvidosos, como o terrível romance Coração de Guerreiro, a desnecessária refilmagem (e vitrine para o narcisismo de Miley Cyrus) Lola ou este despropositado e vergonhoso terror A Aparição.

No filme, escrito e dirigido por Todd Lincoln (quem?), Kelly (Ashley Greene) e o namorado Ben (Sebastian Stan) decidem ir morar juntos na casa do pai da garota, localizada em uma aglomeração residencial isolada e ainda praticamente inabitada - o velho clichê de terror que, aqui, sequer possui algum propósito prático. As expectativas de uma vida tranquila a dois, entretanto, são derrubadas por portas trancadas que se abrem sozinhas, móveis que mudam de lugar, bolores misteriosos brotando em lugares inesperados, interferências elétricas das mais diversas e toda a sorte de manifestações típicas do gênero.

"Nossa casa é nova demais para ser assombrada. Não tem história" é apenas uma das investidas do intenso duelo de asneiras travado pelos personagens de A Apararição - e a partir do momento em que o casal principal descobre que a assombração não está vinculada à casa, o espetáculo de estupidez apenas aumenta. Na pele de um nerd expert em assuntos do além, Tom Felton (oriundo de outra série juvenil, Harry Potter) surge como um espertalhão que, a certa altura, comete a ousadia de afirmar categoricamente que existem explicações científicas para o translado de demônios entre dimensões - e embora nossa percepção sobre a natureza da assombração seja inteiramente moldada por suas colocações, a impressão geral é que o sujeito não faz a menor ideia do que está falando (em determinado instante, enquanto explica o funcionamento de um aparelho, o personagem aponta que a função de determinado instrumento é captar a crença - isso mesmo, a crença - dos envolvidos e armazená-la em outro equipamento).

No entanto, por mais esforçado que Patrick (Tom Felton) seja, a tal aparição que apavora Kelly e Ben é aparentemente insuperável no quesito imbecilidade. Se seu propósito mundano é se alimentar de vidas humanas, por que diabos ela perde tempo embolorando sabonetes, fitando a protagonista com uma câmera de vigilância, amarrando roupas de um armário ou armando um enorme casulo de mofo envolvendo uma pista emblemática a respeito de sua origem?

Contando com uma única cena de horror minimamente diferenciada - aquela envolvendo Kelly e um lençol -, A Aparição conta ainda com erros lógicos ofensivos: naquela que só pode ser a manhã seguinte a determinado procedimento combativo à aparição, por exemplo, o casal principal comenta que dois dias se passaram sem que nenhuma atividade bizarra ocorresse. Se um filme não é capaz de respeitar o espectador, não vejo razão para que a via inversa seja instituída.


The Apparition, EUA, 2012 | Escrito por Todd Lincoln | Dirigido por Todd Lincoln | Com Ashley Greene, Sebastian Stan, Tom Felton, Julianna Guill, Luke Pasqualino, Rick Gomez, Anna Clark e Marty Martulis.