27 de março de 2013

O Último Elvis

John McInerny em O ÚLTIMO ELVIS (El Último Elvis)

As coisas não deram muito certo na vida de Carlos Gutiérrez (John McInerny). Homem solitário e pai ausente, o protagonista do longa de estreia do roteirista Armando Bo (Biutiful) na direção se transforma quando sobe no palco e apresenta seu show cover de Elvis Presley - talento emprestado ao personagem por seu intérprete, John McInerny. Entretanto, Carlos leva este trabalho secundário, incerto e inconstante mais a sério que o ideal: em diversas passagens, é possível perceber que o homem acredita piamente ser o próprio Rei do Rock.

Mas, naturalmente, nem de perto, ele possui o reconhecimento e o prestígio de Elvis. Na realidade, o provável caso de esquizofrenia de Gutiérrez é a ferramenta utilizada pelo longa para exaltar sua solidão: levando uma existência absolutamente ordinária, o homem se enxerga como um grande astro (em determinado momento, ele reivindica tratamento especial em um hospital, alegando ser um artista célebre), numa espécie de empenho subconsciente por atenção e reconhecimento, que ele jamais alcançaria trabalhando como (apenas mais um) operário em uma fábrica de eletrodomésticos e afastando os poucos entes queridos. Aliás, para sua infelicidade, seu caso clínico parece dar origem a um infeliz círculo vicioso: reproduzir (de forma subconsciente, podemos inferir) os conflitos familiares de Elvis (como o divórcio com a esposa) em sua própria vida pessoal apenas o torna mais solitário e miserável.

Dessa forma, o filme caminha para uma resolução forte que, talvez, possa ser antecipada pelos espectadores mais espertos e atentos (e não leia o restante do texto caso queira evitar insinuações a respeito desses eventos). Em câmera lenta e ao som de An American Trilogy (dois grandes acertos), Armando Bo leva o distúrbio mental de Carlos Gutiérrez às últimas consequências e constrói um desfecho que, de certo modo, funciona melhor conceitualmente do que como uma consequência natural do que fora desenvolvido até então. Na reta final, Gutiérrez reproduz o evento que consolidou Elvis como uma lenda, dando, pela primeira vez em anos, um passo que certamente lhe renderá o reconhecimento que tanto busca - embora, fatalmente, seja também o último.


El último Elvis, Argentina, 2012 | Escrito por Nicolás Giacobone e Armando Bo | Dirigido por Armando Bo | Com John McInerny, Griselda Siciliani e Margarita Lopez.