9 de março de 2013

Maré Negra

Halle Berry em MARÉ NEGRA (Dark Tide)

Nos descontraídos primeiros minutos do suspense Maré Negra, a protagonista Kate (Halle Berry, de Chamada de Emergência) se prepara para mergulhar com tubarões na companhia do cinegrafista Jeff (Olivier Martinez), sobre quem nada sabemos, e insiste que seu "segurança" Walter (Sizwe Msutu), um sujeito prestes a se aposentar, os acompanhe - e, meio a contragosto, o homem topa. Recapitulemos: nos descontraídos primeiros minutos de um suspense, a protagonista, um homem sobre quem nada sabemos e um sujeito prestes a se aposentar, que cede à pressão da patroa, mergulham com tubarões. Consegue adivinhar o desfecho dessa abertura?

Acertou quem disse que Walter finalmente se aposenta e passa a viver no estômago dos tubarões. Culpada e traumatizada, Kate abandona a profissão de mergulhadora e passa a administrar um pequeno negócio de turismo - um barco de passeio, que percorre as redondezas sem jamais se aproximar dos peixões ferozes. Perdendo cada vez mais clientes interessados em grandes emoções e acumulando dívidas, a mulher recebe uma proposta gorda e tentadora do ricaço Will Brady (Ralph Brown, de Jack - O Caçador de Gigantes), que deseja mergulhar com tubarões na companhia do filho, Luke (Luke Tyler, de Poder Sem Limites), e sem o uso de jaulas. Sem garantir nada, Kate parte para alto mar com sua equipe e os clientes - todos indivíduos instáveis, que se desentendem a todo momento.

E é em torno disso que os roteiristas Ronnie Christensen (Passageiros) e Amy Sorlie desenvolvem sua rasteira narrativa: sem maiores emoções, os dois terços iniciais de Maré Negra mais parecem o registro de um passeio longo e ordinário de pessoas que não conhecemos e parecem incapazes de alcançar uma harmonia. Não que o terceiro ato do longa seja superior; aliás, é nele que a produção afunda de ver. Na única sequência que poderia e deveria ser tensa e inquietante, o diretor John Stockwell (Mergulho Radical, Turistas, O Homem Mais Procurado do Mundo) adota uma câmera frenética para filmar uma ação que, acima de tudo, carece de referências para espectador: a escuridão, o ambiente marítimo uniforme, a agitação da câmera e da água, as aparências alteradas (é a primeira vez em que todos os personagens surgem com os cabelos molhados) e os trajes e equipamentos de mergulho utilizados por todos impedem que o espectador diferencie uns personagens dos outros e compreenda a geografia da cena.

Pena que os tubarões não são tão ferozes e não estavam tão famintos. A tortura poderia ter acabado mais cedo - de preferência, no mergulho da abertura do filme.


Dark Tide, EUA/África do Sul, 2012 | História de Amy Sorlie. Roteiro de Ronnie Christensen e Amy Sorlie | Dirigido por John Stockwell | Com Halle Berry, Olivier Martinez, Ralph Brown, Mark Elderkin, Luke Tyler, Thoko Ntshinga e Sizwe Msutu.