
Nos dias atuais, certamente existe uma porção de máquinas mais espertas e inteligentes que muitos humanos espalhados por aí. O limite cognitivo dos mecanismos internos de computadores ou robôs humanoides é algo que vem intrigando a humanidade há décadas e, no Cinema em particular, já rendeu boas discussões sobre a natureza de sentimentos e emoções. Lançado recentemente no Brasil no sistema on demand de TVs por assinatura, o indie Frank e o Robô chega para se juntar a esse grupo e peca justamente por avançar pouco em relação ao que já foi debatido anteriormente, embora possua charme e méritos próprios.
Escrito pelo desconhecido Christopher Ford e dirigido pelo estreante Jake Schreier, o longa é estrelado por Frank Langella no papel de Frank, um homem aposentado e cleptomaníaco que vive sozinho e sofre de mal de Alzheimer. Pai do executivo Hunter (James Marsden) e da ativista Madison (Liv Tyler), o homem é um idoso rabugento que leva uma vida social vazia, limitando-se a visitar a bibliotecária Jennifer (Susan Sarandon, de O Acordo) e furtar sabonetes artesanais de um estabelecimento onde antes funcionava seu restaurante favorito - fato sobre o qual Frank precisa ser lembrado periodicamente. Preocupado com a saúde mental do pai, Hunter compra um robô zelador cuja programação inclui o desenvolvimento de algum projeto que estimule a mente de Frank - mas ao invés de trabalhar no jardim de casa, por exemplo, o homem opta por planejar e voltar a executar aquilo que sempre fez de melhor: roubos.
Usando a tradicional temática da substituição do antigo/homem pelo(a) novo/máquina para comentar a exclusão de idosos na sociedade, o filme parte do Alzheimer do protagonista para refletir a respeito da importância e do valor da memória, seja através dos esforços de preservação do acervo da biblioteca local ou do dilema envolvendo a possibilidade de formatação do sistema do robô a certa altura do longa. Neste último caso, a memória é colocada por Ford e Schreier como um elemento definidor da identidade de um indivíduo: embora o robô não seja humano (algo que ele próprio insiste em reforçar), os registros do período em que conviveu com Frank o tornam um equipamento singular e a forma como estes influenciam sua programação original cria diretrizes que, de certa forma, podem ser encaradas como equivalentes a sentimentos. Por essa razão, (atenção!: o desfecho desse parágrafo contém spoilers) o momento em que o robô aponta que Frank precisa reiniciar seu sistema e apagar sua memória é tão emblemático e repleto de camadas, desde o belo e involuntário abraço de despedida até o peso emocional da decisão do protagonista de causar deliberadamente em seu mais fiel companheiro um sofrimento que ele próprio enfrenta há anos.
Mesmo contendo alguns eficazes alívios cômicos (como a conversa entre dois robôs em uma festa ou o método aprendido por um deles para afugentar companhias indesejadas), Frank e o Robô é um drama marcado por um constante, embora por vezes brando, sentimento de angústia e desamparo. Vivido com maestria por Langella, Frank é um sujeito infeliz e solitário, que não admite a própria doença e, por isso, acaba sendo constantemente sabotado por ela: uma rara conversa íntima com Hunter, por exemplo é arruinada pelo comportamento evasivo de Frank, que, naquele momento específico, não consegue se conectar com o filho e resgatar as recordações que este tenta evocar. Vale apontar que James Marsden (Encantada) faz um bom trabalho e consegue exprimir de forma convincente o afeto escondido por trás da postura impaciente e omissa de Hunter na relação com Frank, ao passo que Madison, vivida por Liv Tyler com uma naturalidade aquém do ideal, serve apenas para reforçar que, naquele momento, o pai não é a prioridade do casal de irmãos.
Infelizmente, a trama que comporta todos os acertos mencionados anteriormente deixa um pouco a desejar, embora o potencial da dupla Jake Schreier e Christopher Ford fique suficientemente bem cimentado.


Robot & Frank, EUA, 2012 | Escrito por Christopher Ford | Dirigido por Jake Schreier | Com Frank Langella, James Marsden, Susan Sarandon, Liv Tyler, Jeremy Strong, Jeremy Siston, Rachel Ma e a voz de Peter Sarsgaard.
Escrito pelo desconhecido Christopher Ford e dirigido pelo estreante Jake Schreier, o longa é estrelado por Frank Langella no papel de Frank, um homem aposentado e cleptomaníaco que vive sozinho e sofre de mal de Alzheimer. Pai do executivo Hunter (James Marsden) e da ativista Madison (Liv Tyler), o homem é um idoso rabugento que leva uma vida social vazia, limitando-se a visitar a bibliotecária Jennifer (Susan Sarandon, de O Acordo) e furtar sabonetes artesanais de um estabelecimento onde antes funcionava seu restaurante favorito - fato sobre o qual Frank precisa ser lembrado periodicamente. Preocupado com a saúde mental do pai, Hunter compra um robô zelador cuja programação inclui o desenvolvimento de algum projeto que estimule a mente de Frank - mas ao invés de trabalhar no jardim de casa, por exemplo, o homem opta por planejar e voltar a executar aquilo que sempre fez de melhor: roubos.
Usando a tradicional temática da substituição do antigo/homem pelo(a) novo/máquina para comentar a exclusão de idosos na sociedade, o filme parte do Alzheimer do protagonista para refletir a respeito da importância e do valor da memória, seja através dos esforços de preservação do acervo da biblioteca local ou do dilema envolvendo a possibilidade de formatação do sistema do robô a certa altura do longa. Neste último caso, a memória é colocada por Ford e Schreier como um elemento definidor da identidade de um indivíduo: embora o robô não seja humano (algo que ele próprio insiste em reforçar), os registros do período em que conviveu com Frank o tornam um equipamento singular e a forma como estes influenciam sua programação original cria diretrizes que, de certa forma, podem ser encaradas como equivalentes a sentimentos. Por essa razão, (atenção!: o desfecho desse parágrafo contém spoilers) o momento em que o robô aponta que Frank precisa reiniciar seu sistema e apagar sua memória é tão emblemático e repleto de camadas, desde o belo e involuntário abraço de despedida até o peso emocional da decisão do protagonista de causar deliberadamente em seu mais fiel companheiro um sofrimento que ele próprio enfrenta há anos.
Mesmo contendo alguns eficazes alívios cômicos (como a conversa entre dois robôs em uma festa ou o método aprendido por um deles para afugentar companhias indesejadas), Frank e o Robô é um drama marcado por um constante, embora por vezes brando, sentimento de angústia e desamparo. Vivido com maestria por Langella, Frank é um sujeito infeliz e solitário, que não admite a própria doença e, por isso, acaba sendo constantemente sabotado por ela: uma rara conversa íntima com Hunter, por exemplo é arruinada pelo comportamento evasivo de Frank, que, naquele momento específico, não consegue se conectar com o filho e resgatar as recordações que este tenta evocar. Vale apontar que James Marsden (Encantada) faz um bom trabalho e consegue exprimir de forma convincente o afeto escondido por trás da postura impaciente e omissa de Hunter na relação com Frank, ao passo que Madison, vivida por Liv Tyler com uma naturalidade aquém do ideal, serve apenas para reforçar que, naquele momento, o pai não é a prioridade do casal de irmãos.
Infelizmente, a trama que comporta todos os acertos mencionados anteriormente deixa um pouco a desejar, embora o potencial da dupla Jake Schreier e Christopher Ford fique suficientemente bem cimentado.



Robot & Frank, EUA, 2012 | Escrito por Christopher Ford | Dirigido por Jake Schreier | Com Frank Langella, James Marsden, Susan Sarandon, Liv Tyler, Jeremy Strong, Jeremy Siston, Rachel Ma e a voz de Peter Sarsgaard.