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Step Up: Revolution, EUA, 2012 | Duração: 1h39 | Lançado no Brasil em 28 de março de 2013, em DVD e Blu-ray | Baseado nos personagens de Duane Adler. Escrito por Amanda Brody | Dirigido por Scott Speer | Com Ryan Guzman, Kathryn McCormick, Misha Gabriel, Peter Gallagher, Cleopatra Coleman, Michael 'Xeno' Langebeck, Stephen 'tWitch' Boss, Claudio Pinto, Tommy Dewey, Mario Ernesto Sánchez, Dominique Bell, Megan Boone, Mia Michaels e Adam Sevani.
Lançado em 2006, Ela Dança, Eu Danço é uma tolice cinematográfica que ajudou a alavancar a carreira de Channing Tatum e deu início a uma franquia de produções dotadas de histórias independentes entre si e o refinamento necessário para saltar da sala de montagem direto para as prateleiras das locadoras (bem como ocorreu no Brasil a partir do segundo volume). Muito embora este quarto exemplar não seja particularmente bom, não ouso dizer que os quase cem minutos que dediquei à produção tenham sido desperdiçados: a proposta de unir jovens lindos e coreografias interessantes, aqui, talvez funcione melhor que em qualquer um dos anteriores.
Produzido a toque de caixa, com diretor, roteirista e atores estreantes ou inexperientes, Ela Dança, Eu Danço 4 acompanha as proezas do grupo The Mob, que realiza números de dança surpresa em locais inusitados (os chamados flash mobs) com o objetivo de ganhar um campeonato de acessos no YouTube. Quando o subúrbio em que os dançarinos moram é ameaçado pelas ambições do mega empresário Sr. Anderson (Peter Gallagher), o grupo passa a elaborar e realizar flash mobs como forma de protesto contra a extinção do bairro - daí, acreditem ou não, o Revolution do título original. Co-fundador do The Mob, Sean (Ryan Guzman) trabalha como garçom em um dos empreendimentos de Anderson e se apaixona repentinamente por uma garota, a aspirante a dançarina (claro!) e filha do patrão (óbvio!) Emily (Kathryn McCormick) - e com isso, o circo para vários conflitos distintos é armado.
E o roteiro de Amanda Brody não cansa de arquitetar mais e mais intrigas: quando a confiança mútua e a intensa e longínqua amizade entre Sean e Eddy (Misha Gabriel) são exaltadas de forma indiscreta em um momento inoportuno, por exemplo, uma indisposição posterior entre ambos é praticamente anunciada - e quando ela de fato se concretiza, passa a disputar atenção com a luta pela salvação do bairro, a campanha por acessos no YouTube, o empenho de Emily em reinventar-se para ingressar em uma renomada companhia de dança e com o fato de Sean esconder do restante do grupo que a garota é filha de seu inimigo.

Filmado em 3D (como o longa anterior), Ela Dança, Eu Danço 4 possui um visual vibrante e estimulante que peca apenas por priorizar a plasticidade em detrimento da lógica - e embora os planos que trazem Sean e Emily ensaiando à beira-mar sejam lindíssimos, é inconcebível que o casal tenha escolhido um local com terreno tão irregular para praticar uma coreografia decisiva para a garota. E no quesito lógica, os tais flash mobs não ficam muito atrás: praticamente todas as apresentações do The Mob são absurdas e tecnicamente impraticáveis, começando pelos figurinos sempre apropriados e impecáveis (como os humildes jovens conseguem dinheiro para todas aquelas roupas, máscaras e assessórios?), passando pelo domínio extremo dos ambientes (a complexidade da camuflagem e dos jogos de luzes no museu beiram o ridículo) e culminando na mais absoluta inércia das autoridades de cada local (como o grupo conseguiu sair de um restaurante sem ser repreendido?).
Entretanto, do ponto de vista estético, os números de dança coreografados por Chuck Maldonado, Christopher Scott, Jamal Sims e Travis Wall são admiráveis: enquanto o flash mob do museu poderia perfeitamente ser abraçado pelos administradores do local como uma de suas atrações (não à toa, a curadora impede que os seguranças interrompam a apresentação), aquele desenvolvido no saguão da empresa Anderson se destaca pela proposta e pela sincronia, ao passo que o número que abre o longa diverte pelos excessos da coreografia, que envolve até mesmo carros praticantes de street dance. Com experiência limitada a produções variadas sobre o universo da dança, o diretor Scott Speer parece explorar o 3D com eficiência e sem grande alarde (o plongée que mostra Emily lançando um punhado de areia para o alto não soa tão forçado, apesar de usar a óbvia estratégia de jogar objetos na direção do espectador) e acerta por usar com discrição uma espécie de time lapse para incrementar as coreografias robóticas dos dançarinos.
Acreditando ter uma mitologia bem consolidada o bastante para transformar a aparição do aborrecido Moose (Adam Sevani) em uma evento aparentemente louvável, Ela Dança, Eu Danço 4 termina de sedimentar uma fórmula barata que ainda pode dar muito pano pra manga e encher os olhos de quem admite apreciar alguns bons números de dança com os mais chulos respaldos narrativos.
