
por Eduardo Monteiro



Vai Que Dá Certo, Brasil, 2013 | Duração: 1h26m40s | Lançado no Brasil em 22 de Março de 2013, nos cinemas | Baseado em um roteiro original de Maurício Farias e Alexandre Morcillo. Argumento de Bernardo Guilherme, Marcelo Gonçalves e Maurício Farias. Roteiro de Bernardo Guilherme, Marcelo Gonçalves, Maurício Farias e Fábio Porchat. Diálogos de Fábio Porchat. Roteiro final de Maurício Farias e Fábio Porchat | Dirigido por Maurício Farias | Com Danton Mello, Fábio Porchat, Gregório Duvivier, Felipe Abib, Lúcio Mauro Filho, Natália Lage, Sérgio Guizé, Lúcio Mauro, Felipe Rocha, Ravel Cabral, Camilla Amado, Georgiana Góes e Bruno Mazzeo.
Entre o surgimento do argumento e a finalização do roteiro de Vai Que Dá Certo, quase duas décadas se passaram e um total de cinco profissionais esteve envolvido diretamente na tarefa: depois que os primeiros tratamentos foram escritos pelo cineasta Maurício Farias (A Grande Família - O Filme) e alguns de seus parceiros da TV, o roteiro caiu nas mãos do comediante Fábio Porchat, que ficou responsável pelos diálogos e, juntamente com Farias, assinou a versão final do texto. Com créditos de autoria tão extensos e cheios de subdivisões (dê uma olhada na listagem acima, extraída do material de divulgação do filme), é uma agradável surpresa que o filme exiba uma boa unidade e, melhor ainda, consiga se desvincilhar do fantasma da baixa qualidade que assombra a leva recente de comédias brasileiras co-produzidas pela Globo Filmes, como Até Que a Sorte Nos Separe, De Pernas Pro Ar 2 ou As Aventuras de Agamenon - O Repórter.
Na trama, um grupo de amigos fracassados decide melhorar de vida realizando um golpe supostamente perfeito na empresa de transporte de valores em que um deles trabalha. Entretanto, o músico Rodrigo (Danton Mello), o professor de inglês Tonico (Felipe Abib, de Faroeste Caboclo), o motorista Danilo (Lúcio Mauro Filho), o dono de videolocadora Amaral (Fábio Porchat) e seu irmão caçula Vaguinho (Gregório Duvivier) são estúpidos e incompetentes demais para seguir o plano à risca e acabam emboscados entre policiais corruptos e bandidos perigosos.
Superando a má impressão deixada por sua participação no desastroso Totalmente Inocentes, Fábio Porchat se sai bem não só por viver Amaral com um histrionismo controlado e tolerável, mas também por agregar ao roteiro um humor ágil, despretensioso e repleto de comentários sobre o cotidiano (como o singelo impasse entre o personagem de Danton Mello e sua senil mãe durante uma conversa por interfone). Sócio de Porchat no projeto Porta dos Fundos e figura recorrente em comédias brasileiras (mesmo que em pontas breves), Gregório Duvivier rouba mais uma vez a cena com seu excepcional timing cômico e, infantilizado pelo aparelho dentário do personagem, transforma Vaguinho em um jovem adulto absolutamente imaturo, que precisa consultar o irmão mais velho antes de tomar grandes decisões e, como um adolescente no auge da puberdade, é fã inveterado de videogames e sente necessidade de vociferar, com alguma sinceridade e um sorriso quase ingênuo no rosto, que seu principal objetivo de vida é "comer mulher".

Aliás, a postura imatura e inconsequente diante da gravidade do esquema criminoso pode ser estendida a todo o grupo de amigos - e não é à toa que os créditos iniciais e finais do filme são marcados por gráficos em 8-bit, insinuando a visão inofensiva que o grupo possui, ao menos a princípio, dos atos que pretendem cometer. Entretanto, é positivo que o roteiro não tente evitar conflitos morais e tampouco invista em discursos moralistas para arrematá-los, ao passo que a corrupção policial e política, intrínseca à trama, jamais é explorada de modo a favorecer alguma discussão social relevante.
No papel do político Paulo Pedreira, Bruno Mazzeo (E Aí... Comeu?) surge como o único elo fraco do elenco ao compor o personagem como uma caricatura exagerada, que parece emular o playboy paulista vivido por Marcelo Adnet no terrível Muita Calma Nessa Hora. Felizmente, uma troca de personagens ocorrida às vésperas das filmagens transferiu o posto de protagonista de Mazzeo para Danton Mello (O Palhaço), que vive com talento a figura mais real e ponderada do longa e, quando necessário, lança mão da dicção tipicamente acelerada dos irmãos Mello para gerar sua contribuição ao humor do filme. Já Lúcio Mauro Filho diverte com a teatralidade calculada de Danilo (e, curiosamente, tem a chance de contracenar com seu pai, no papel do avô do personagem), enquanto Sérgio Guizé se destaca no elenco de apoio ao conferir uma insanidade divertida e controlada ao aparentemente imprevisível mafioso Chapeleta. Por fim, a bela Natália Lage vive uma mulher impetuosa que consegue se impor em meio aos rapazes, embora o desfecho da personagem derrube qualquer admiração que possa ter sido criada em relação a ela.
Exagerando no contingente de cenas em que a graça é construída em torno do fato de que todos os personagens estão falando ao mesmo tempo, Vai Que Dá Certo é uma comédia que, embora careça de originalidade, ganha pontos por apostar fichas na colaboração de jovens talentos do humor que, no final das contas, conseguem fazer o depósito de confiança dar pelo menos um pouco certo.
