
Após um breve retrospecto mental, arrisco-me a afirmar que, em meus muitos anos de cinefilia, não assisti a nenhum filme com uma pregação religiosa tão canalha e mesquinha quanto a de Aparecida - O Milagre, que constrói sua moral torpe em relação à fé - encarada por muitos, acreditem, como bonita e inspiradora - através de uma arma reprovável que a Igreja vem utilizando há séculos: o medo.
O medo de um pai de perder seu único filho, mais especificamente. Trata-se da história de Marcos (Murilo Rosa), um empresário rico e bem sucedido cujo filho, Lucas (Jonatas Faro), encontra-se em coma profundo após um acidente de moto. Cético ao extremo desde a infância (em decorrência da morte de seu pai, quando se sentiu traído por Nossa Senhora Aparecida), o homem é vilanizado pelo roteiro através da postura radical e conservadora de sua família, que parece disposta a atribuir a responsabilidade por todos os defeitos do homem à sua falta de crença - como, por exemplo, o fato de ser contra o projeto de Lucas de seguir a carreira de artista. Desesperado, desesperançoso e pressionado pela família, Marcos embarca em delírios e devaneios e tem sua fé "restaurada" pela aparição de Nossa Senhora, que, então, aí sim, finalmente, apenas depois disso, por fim, traz Lucas de volta à vida após uma parada cardíaca.
Há quem sustente que o milagre do título diz respeito à mudança de postura de Marcos, que volta a ter fé e a dar valor à família. Não, definitivamente não é o que o filme apresenta. "É uma milagre!", vocifera uma enfermeira após a ressurreição literal de Lucas; "Só Nossa Senhora pode salvar seu filho", aponta a fundamentalista Júlia (Bete Mendes), em determinado momento. Neste novo filme de Tizuka Yamasaki (sim, aquela responsável por uma penca de filmes da Xuxa), Nossa Senhora Aparecida é uma entidade vingativa, punitiva, que opera seus milagres de forma arbitrária e apenas em troca de reconhecimento e veneração. Não acredite nela e corra o risco de ver seus entes queridos definhando, por puro capricho.
Não sei quanto a vocês, mas não consigo enxergar beleza alguma nisso - ou no filme rasteiro que defende essa ideia.
Aparecida - O Milagre, Brasil, 2010 | Roteiro de Pedro Antônio, Carlos Gregório, Paulo Halm e Marco Schiavon | Dirigido por Tizuka Yamasaki | Com Murilo Rosa, Jonatas Faro, Bete Mendes, Leona Cavalli, Maria Fernanda Cândido, Vinícius Franco, Janaína Prado, Dandara Mariana, Leopoldo Pacheco, Rodrigo Veronese.
O medo de um pai de perder seu único filho, mais especificamente. Trata-se da história de Marcos (Murilo Rosa), um empresário rico e bem sucedido cujo filho, Lucas (Jonatas Faro), encontra-se em coma profundo após um acidente de moto. Cético ao extremo desde a infância (em decorrência da morte de seu pai, quando se sentiu traído por Nossa Senhora Aparecida), o homem é vilanizado pelo roteiro através da postura radical e conservadora de sua família, que parece disposta a atribuir a responsabilidade por todos os defeitos do homem à sua falta de crença - como, por exemplo, o fato de ser contra o projeto de Lucas de seguir a carreira de artista. Desesperado, desesperançoso e pressionado pela família, Marcos embarca em delírios e devaneios e tem sua fé "restaurada" pela aparição de Nossa Senhora, que, então, aí sim, finalmente, apenas depois disso, por fim, traz Lucas de volta à vida após uma parada cardíaca.
Há quem sustente que o milagre do título diz respeito à mudança de postura de Marcos, que volta a ter fé e a dar valor à família. Não, definitivamente não é o que o filme apresenta. "É uma milagre!", vocifera uma enfermeira após a ressurreição literal de Lucas; "Só Nossa Senhora pode salvar seu filho", aponta a fundamentalista Júlia (Bete Mendes), em determinado momento. Neste novo filme de Tizuka Yamasaki (sim, aquela responsável por uma penca de filmes da Xuxa), Nossa Senhora Aparecida é uma entidade vingativa, punitiva, que opera seus milagres de forma arbitrária e apenas em troca de reconhecimento e veneração. Não acredite nela e corra o risco de ver seus entes queridos definhando, por puro capricho.
Não sei quanto a vocês, mas não consigo enxergar beleza alguma nisso - ou no filme rasteiro que defende essa ideia.

Aparecida - O Milagre, Brasil, 2010 | Roteiro de Pedro Antônio, Carlos Gregório, Paulo Halm e Marco Schiavon | Dirigido por Tizuka Yamasaki | Com Murilo Rosa, Jonatas Faro, Bete Mendes, Leona Cavalli, Maria Fernanda Cândido, Vinícius Franco, Janaína Prado, Dandara Mariana, Leopoldo Pacheco, Rodrigo Veronese.