4 de março de 2013

Amanhecer Violento

Josh Peck, Josh Hutcherson e Chris Hemsworth em AMANHECER VIOLENTO (Red Dawn)

Josh Peck (o ex-gordinho de Drake & Josh) deve figurar no topo da lista de qualquer diretor de casting que se preze e esteja à procura de um ator para o papel de um jovem imbecil e detestável. Só isso explica a quantidade de personagens do tipo que o ator já encarnou em sua carreira: o impertinente George Tooney em Pacto Maldito, o inconveniente Josh Rubin em Garotas Sem Rumo, o valentão Ronnie em Meu Nome é Taylor, Drillbit Traylor e o terrivelmente estúpido Corey Thompson em Armadilha são apenas alguns deles. Pelo visto, as diretoras de elenco Deborah Aquila e Tricia Wood fizeram bem a lição de casa: vivido por Peck com a antipatia e os excessos corriqueiros, Matt Eckert é o principal responsável pelos insucessos dos guerrilheiros comandados por seu irmão, Jed (Chris Hemsworth, de Branca de Neve e o Caçador), e ajuda a tornar a experiência de assistir a Amanhecer Violento um verdadeiro exercício de paciência.

Mas o mérito não é todo do ator: escrito por Carl Ellsworth e Jeremy Passmore com base na história concebida por Kevin Reynolds para o filme de 1984, o remake de Amanhecer Violento conta a história de um grupo de jovens que, após ter sua cidade tomada pelo exército nortecoreano, se organiza para enfrentar e derrotar os invasores. De golpe em golpe, os autodenominados Wolverines incrementam o próprio poderio militar e despertam a cólera do exército rival, que reforça suas estratégias e defesas. A certa altura, os Wolverines se convencem que derrubar o Capitão Cho (Will Yun Lee, de O Vingador do Futuro) acarretará um grande avanço na batalha, mas resolvem atacar os equipamentos de comunicação interna dos invasores e, em seguida, decidem...

(Atenção: a continuação desse texto contém spoilers).

...decidem algo que nunca saberemos. Aparentemente sem saber como amarrar a história, os roteiristas desistem da tarefa e encerram a narrativa entre missões intermediárias do grupo, sem exercer uma evolução concreta no objetivo central dos jovens e privando o espectador de algo essencial: um clímax. Além disso, a participação do pequeno grupo liderado pelo personagem de Jeffrey Dean Morgan (A Inquilina) carece de função: embora os homens colaborem efetivamente na missão, a entrada e a saída deles não influenciam o grupo a ponto de suas presenças se tornarem imprescindíveis. Por fim, é simplesmente inconcebível que um bando com pouca experiência e em desvantagem numérica e bélica execute tantas emboscadas de sucesso - e bastava que o filme se propusesse a acompanhar a retirada dos Wolverines do local de algum dos atentados (algo jamais mostrado) para que o absurdo eventualmente ficasse mais evidente.

Mas também não são só os roteiristas e Josh Peck que comprometem o filme: embora o diretor estreante Dan Bradley (que já trabalhara com segunda unidade e coordenação de dublês) se esforce para despertar o interesse do público pelas cenas de ação e pela dinâmica do grupo, a péssima trilha sonora de Ramin Djawadi irrita profundamente graças à necessidade de comentar cada emoção da trajetória dos jovens, indo da mais profunda cafonice e melosidade que acompanha os dramalhões internos às infladas e triunfantes melodias executadas na ridícula cena em que, após uma vencer uma batalha isolada, os guerrilheiros se apresentam à população como "Wolverines". Dessa forma, toda a atmosfera intrigante criada pelos momentos iniciais do filme (a invasão propriamente dita é cinematograficamente eficaz, apesar de extremamente burra e bandeirosa do ponto de vista estratégico) é gradativamente minada pela falta de verossimilhança da narrativa.

Criando uma indisposição desnecessária ao atribuir nacionalidade aos invasores e renunciar discussões politicamente relevantes, Amanhecer Violento é encerrado deixando uma enorme lacuna que, talvez, possa ser preenchida pela simples satisfação de se livrar logo do longa.


Red Dawn, EUA, 2012 | História de Kevin Reynolds. Baseado no roteiro de Amanhecer Violento, escrito por Kevin Reynolds e John Milius. Roteiro de Carl Ellsworth e Jeremy Passmore | Dirigido por Dan Bradley | Com Chris Hemsworth, Josh Peck, Josh Hutcherson, Connor Cruise, Will Yun Lee, Adrianne Palicki, Isabel Lucas, Jeffrey Dean Morgan, Brett Cullen, Michael Beach, Edwin Hodge, Alyssa Diaz, Julian Alcaraz, Fernando Chien, Kenneth Choi, Matt Gerald, Steve Lenz.