
Os argumentos utilizados por alguns defensores de Colegas, longa nacional estrelado por um trio de atores com Trissomia do Cromossomo 21, são assustadores: "Saí do cinema com a sensação de que a raça humana deveria ter Síndrome de Down", "Os Sonhadores com um cromossomo a mais" e "O filme mostra que não devemos desistir de nossos sonhos e que não devemos nos importar com a opinião dos demais" (ou seja, cometer delitos e passar por cima dos outros é permitido, desde que estejamos realizando um sonho) são alguns exemplos que ilustram a cegueira que muitos espectadores "amigos da causa" acolheram em um processo vergonhoso de autoafirmação. A dura realidade é que a convivência do diretor e roteirista Marcelo Galvão com um parente portador da síndrome, bandeira levantada sistematicamente pela campanha de divulgação do filme, não diminui os deméritos do roteiro, que, ao invés de frustrar aqueles que subestimam a capacidade mental de indivíduos como Stalone, Márcio e Aninha, dá um tiro no próprio pé e reforça que certos portadores de Down simplesmente não podem ser lançados no mundo sem supervisão.
Por essa razão, o desserviço cometido por Colegas surge como um bom contraponto às intenções de Um Sorriso Tão Grande Quanto a Lua: baseado em uma história real registrada no livro homônimo de Mike Kersjes e Joe Layden, o telefilme relata os desafios enfrentados pelo professor Mike Kersjes (John Corbett) para levar sua turma de estudantes especiais - que inclui jovens acometidos por transtorno bipolar, dislexia, déficit de atenção, hiperatividade, transtorno obsessivo compulsivo e, claro, síndrome de Down - para o Space Camp, um programa que recebe e transmite a jovens altamente capacitados noções básicas de astronomia. Porém, levantar os fundos necessários, dobrar a diretoria da escola e convencer a administração do acampamento a acolher um grupo naturalmente estigmatizado por suas dificuldades de aprendizado não serão tarefas fáceis para Kersjes.
Preso às exigências educativas da produtora Hallmark Hall of Fame, o filme abdica de sutilezas em prol da transmissão clara e enfática de determinados mensagens, como o reforço dado ao valor da confiança na subtrama envolvendo as habilidades manuais do introspectivo Adam (Tanner Dow) ou toda a reflexão exacerbada sobre os dons de liderança e humildade de Scott (Logan Huffman). Dessa forma, muitos diálogos se tornam carentes de espontaneidade (como na ocasião em que dois alunos dispensam a ajuda do professor apenas para reforçar verbalmente o recém efetivado espírito de coletividade do grupo), ao passo que a trilha de Mark Adler faz jus à mídia para a qual o filme foi produzido e não economiza no melodrama, que naturalmente alcança seu auge no terceiro ato da produção.
Apostando no carisma dos personagens e no sucesso de suas conquistas para despertar uma constante sensação de regozijo no público, o filme peca por ignorar insistentemente as dificuldades individuais de vários personagens: tirando o autismo de Matt (Jimmy Bellinger), a hiperatividade de Steve (David Lambert) ou as explosões de raiva de Lewis (Kesun Loder), os distúrbios particulares raramente parecem influenciar as tarefas da turma, de modo que, não fosse pela narração do personagem de John Corbett na abertura do filme, dificilmente diagnosticaríamos a deficiência de vários dos alunos - como Lisa (Abigale Corrigan), que, embora possua "todo um alfabeto de distúrbios", surge apenas como uma garota entusiasmada e fofoqueira. Entretanto, o desempenho do elenco é bastante satisfatório: a inexpressividade do corpulento Tanner Dow, por exemplo, transforma Adam em um sujeito surpreendente e timidamente alegre, enquanto Peter ten Brink, portador de Down, revela-se muitíssimo mais talentoso e carismático que o trio principal de Colegas. Por fim, Logan Huffman se destaca por encarar cenas extremamente piegas sem qualquer rastro de constrangimento, o que é surpreendente e digno de aplausos.
Criando um forte eco no eficiente Escritores da Liberdade (incluindo o plano final, que salta de uma foto do elenco para o grupo que inspirou a produção), Um Sorriso Tão Grande Quanto a Lua deposita confiança na juventude e homenageia educadores que levam sua vocação até as últimas consequências. Assim como no longa de Richard LaGravenese, não é um exercício dos mais difíceis ignorar a cafonice da abordagem da narrativa e, sabendo que uma história inspiradora como essa de fato ocorreu, sair do filme com um sorriso ainda maior que a Lua.


A Smile as Big as the Moon, EUA, 2012 | Baseado no livro de Mike Kersjes e Joe Layden. Roteiro de Thomas Rickman | Dirigido por James Steven Sadwith | Com John Corbett, Jessy Schram, Logan Huffman, David Lambert, Kesun Loder, Breezy Eslin, Abigale Corrigan, Tanner Dow, Peter ten Brink, Jimmy Bellinger, Tyrin Niles Wyche, E. Roger Mitchell, Cynthia Watros, Moira Kelly e Mike Pniewski.
Por essa razão, o desserviço cometido por Colegas surge como um bom contraponto às intenções de Um Sorriso Tão Grande Quanto a Lua: baseado em uma história real registrada no livro homônimo de Mike Kersjes e Joe Layden, o telefilme relata os desafios enfrentados pelo professor Mike Kersjes (John Corbett) para levar sua turma de estudantes especiais - que inclui jovens acometidos por transtorno bipolar, dislexia, déficit de atenção, hiperatividade, transtorno obsessivo compulsivo e, claro, síndrome de Down - para o Space Camp, um programa que recebe e transmite a jovens altamente capacitados noções básicas de astronomia. Porém, levantar os fundos necessários, dobrar a diretoria da escola e convencer a administração do acampamento a acolher um grupo naturalmente estigmatizado por suas dificuldades de aprendizado não serão tarefas fáceis para Kersjes.
Preso às exigências educativas da produtora Hallmark Hall of Fame, o filme abdica de sutilezas em prol da transmissão clara e enfática de determinados mensagens, como o reforço dado ao valor da confiança na subtrama envolvendo as habilidades manuais do introspectivo Adam (Tanner Dow) ou toda a reflexão exacerbada sobre os dons de liderança e humildade de Scott (Logan Huffman). Dessa forma, muitos diálogos se tornam carentes de espontaneidade (como na ocasião em que dois alunos dispensam a ajuda do professor apenas para reforçar verbalmente o recém efetivado espírito de coletividade do grupo), ao passo que a trilha de Mark Adler faz jus à mídia para a qual o filme foi produzido e não economiza no melodrama, que naturalmente alcança seu auge no terceiro ato da produção.
Apostando no carisma dos personagens e no sucesso de suas conquistas para despertar uma constante sensação de regozijo no público, o filme peca por ignorar insistentemente as dificuldades individuais de vários personagens: tirando o autismo de Matt (Jimmy Bellinger), a hiperatividade de Steve (David Lambert) ou as explosões de raiva de Lewis (Kesun Loder), os distúrbios particulares raramente parecem influenciar as tarefas da turma, de modo que, não fosse pela narração do personagem de John Corbett na abertura do filme, dificilmente diagnosticaríamos a deficiência de vários dos alunos - como Lisa (Abigale Corrigan), que, embora possua "todo um alfabeto de distúrbios", surge apenas como uma garota entusiasmada e fofoqueira. Entretanto, o desempenho do elenco é bastante satisfatório: a inexpressividade do corpulento Tanner Dow, por exemplo, transforma Adam em um sujeito surpreendente e timidamente alegre, enquanto Peter ten Brink, portador de Down, revela-se muitíssimo mais talentoso e carismático que o trio principal de Colegas. Por fim, Logan Huffman se destaca por encarar cenas extremamente piegas sem qualquer rastro de constrangimento, o que é surpreendente e digno de aplausos.
Criando um forte eco no eficiente Escritores da Liberdade (incluindo o plano final, que salta de uma foto do elenco para o grupo que inspirou a produção), Um Sorriso Tão Grande Quanto a Lua deposita confiança na juventude e homenageia educadores que levam sua vocação até as últimas consequências. Assim como no longa de Richard LaGravenese, não é um exercício dos mais difíceis ignorar a cafonice da abordagem da narrativa e, sabendo que uma história inspiradora como essa de fato ocorreu, sair do filme com um sorriso ainda maior que a Lua.



A Smile as Big as the Moon, EUA, 2012 | Baseado no livro de Mike Kersjes e Joe Layden. Roteiro de Thomas Rickman | Dirigido por James Steven Sadwith | Com John Corbett, Jessy Schram, Logan Huffman, David Lambert, Kesun Loder, Breezy Eslin, Abigale Corrigan, Tanner Dow, Peter ten Brink, Jimmy Bellinger, Tyrin Niles Wyche, E. Roger Mitchell, Cynthia Watros, Moira Kelly e Mike Pniewski.