2 de fevereiro de 2013

Rio Sex Comedy

Jérôme Kircher, Irène Jacob, Jean-Marc Roulot e Mary Sheila em RIO SEX COMEDY

Em certo instante de Rio Sex Comedy, o empolgado francês Robert (Jérome Kircher) desembarca no Brasil vestindo uma camisa da Argentina, algo que, ao invés de ferir o patriotismo fanático do espectador brasileiro, diverte justamente por comentar os equívocos geográficos frequentemente cometidos por estrangeiros com relação à América Latina (em última instância, Buenos Aires continua sendo a capital do Brasil). Infelizmente, a comédia escrita e dirigida pelo cineasta americano Jonathan Nossier (que mora ou já morou no Rio de Janeiro com a esposa, a fotógrafa brasileira Paula Prandini) não possui um roteiro interessante o suficiente para sustentar sacadas curiosas como essa - que, pra piorar, só devem funcionar de fato para o público brasileiro.

No filme, Charlotte (Charlotte Rampling) é uma cirurgiã plástica que sai de um casamento infeliz e voa para o Brasil com intenções (ao menos a princípio) filantrópicas, isto é, pretendendo operar pacientes humildes; William (Bill Pullman), um embaixador americano excêntrico que acaba de desembarcar em terras cariocas, se esconde em uma favela, onde acaba conhecendo as diversas demandas da comunidade e decide fundar uma ONG; por fim, Irène (Irène Jacob) é uma cineasta francesa que, durante as filmagens de um estudo sociológico sobre empregadas domésticas brasileiras, trai o marido Antoine (Jean-Marc Roulot) com o cinegrafista Robert. Trombando com o guia turístico Fisher (Fisher Stevens) e com a índia Iracema (Daniela Dams), que sonha em ser estrela de novela, as subtramas acabam se cruzando a certa altura de forma forçada e pouco interessante.

Rodado inteiramente no Rio de Janeiro, o filme surpreende pelo relativo respeito com a cultura brasileira - mérito não só da bagagem adquirida por Nossier ao longo dos anos vividos por aqui, como também da participação de atores locais (como a linda, talentosa e natural Branca Messina) e, principalmente, dos não atores, cuja espontaneidade confere uma veracidade mais que bem vinda ao projeto. Além disso, é curioso que o cineasta abra espaço para depoimentos aparentemente sinceros (ou pelo menos inspirados em casos verídicos) de empregadas domésticas ou moradores de favela, embora a discussão social em torno desses temas nunca atinja contornos expressivos e seja abruptamente abandonada a certa altura.

Como comédia sexual, por outro lado, o filme é uma negação: o desenvolvimento das histórias é homogeneamente problemático e as resoluções de todas as tramas deixam a desejar - além de raramente serem engraçadas e de a temática sexual, de modo geral, ser muitíssimo mal trabalhada. E se me queixei dos olhares dos pedestres nova-iorquinos voltadas para a câmera em De Pernas Pro Ar 2, a curiosidade dos transeuntes cariocas com relação à equipe de filmagem de Rio Sex Comedy acaba podendo ser relevada graças ao comportamento normalmente agitado dos personagens estrangeiros, que em situações normais também seria passível de atrair olhares. Em termos de fotografia, o filme é tremendamente irregular, criando composições artificiais ou visualmente desinteressantes e enfrentando claras dificuldades de iluminar ambientes internos.

Longo demais para a quantidade e a qualidade do conteúdo, Rio Sex Comedy surpreende por, de certa forma, satirizar parte da visão clichê que gringos possuem da exuberância, da miscigenação e dos costumes brasileiros - mas isso nem de perto significa que o filme seja bom.


Rio Sex Comedy, França/Brasil, 2010 | Escrito por Jonathan Nossiter | Dirigido por Jonathan Nossiter | Com Charlotte Rampling, Bill Pullman, Irène Jacob, Jérôme Kircher, Jean-Marc Roulot, Fisher Stevens, Mary Sheila, Daniela Dams, Branca Messina, Gisele Ingrid, Patrick Breen, David Jarre, Herson Capri, Dr. Ivo Pitanguy.