Você sabe o que é folie à deux? Os roteiristas Nicolás Casariego e Jaime Marques certamente sabem que se trata do termo empregado para o compartilhamento de sintomas psicóticos entre duas pessoas, geralmente próximas uma da outra - e é com esse conceito psiquiátrico que, a certa altura de Intrusos, Casariego e Marques tentam amarrar as pontas soltas de um mistério com um cunho até então ligeiramente sobrenatural.
Dirigido por Juan Carlos Fresnadillo (Extermínio 2), o longa alterna o foco entre duas famílias aparentemente vítimas de uma mesma assombração: na Espanha, o pequeno Juan (Izán Corchero) enfrenta dificuldades para dormir depois que um ser encapuzado invade o apartamento em que mora com a mãe (Pilar López de Ayala); em Londres, Mia (Ella Purnell) encontra escondido em uma árvore (!) um manuscrito com a descrição da natureza e do comportamento de um tal "homem sem rosto", que logo passa a aterrorizar a garota. A certa altura, o roteiro esclarece que a trama espanhola retrata a infância de John (Clive Owen, de Confiar), pai de Mia e autor do manuscrito, e que o tal ser aterrorizador é a projeção que o homem, na infância, criou de seu pai problemático.
Sim, a explicação faz algum sentido diante da apresentação do conceito de folie à deux, mas exige uma série de concessões e transforma toda a narrativa em uma tremenda bobagem. Pra início de conversa, Mia passa a soar como uma garota demasiadamente assustadiça, que não consegue ler um conto de terror sem trazê-lo para sua realidade, ao passo que John, além de não convencer como um espanhol de nascença, passa a compartilhar do terror da filha com uma rapidez ímpar, evidenciando um quadro de distúrbio mental grave que o roteiro jamais se preocupa em discutir. E levando-se em consideração a natureza puramente psicológica da assombração, toda a subtrama espanhola revela-se uma grande enrolação - principalmente quando um padre, vivido por Daniel Brühl, é lançado na história para reforçar um cunho sobrenatural que simplesmente não existe.
Juntando-se à leva recente de produções do gênero produzidas ou co-produzidas pela Espanha ([Rec], O Orfanato e Os Olhos de Júlia são alguns deles), Intrusos transforma um terror de natureza psicológica em uma enxurrada de estupidez, surgindo como uma versão torpe e mal trabalhada do bom O Buraco, de Joe Dante.
Intruders, EUA/Reino Unido/Espanha, 2011 | Roteiro de Nicolás Casariego & Jaime Marques | Dirigido por Juan Carlos Fresnadillo | Com Clive Owen, Ella Purnell, Izán Corchero, Pilar López de Ayala, Daniel Brühl, Carice van Houten.
Dirigido por Juan Carlos Fresnadillo (Extermínio 2), o longa alterna o foco entre duas famílias aparentemente vítimas de uma mesma assombração: na Espanha, o pequeno Juan (Izán Corchero) enfrenta dificuldades para dormir depois que um ser encapuzado invade o apartamento em que mora com a mãe (Pilar López de Ayala); em Londres, Mia (Ella Purnell) encontra escondido em uma árvore (!) um manuscrito com a descrição da natureza e do comportamento de um tal "homem sem rosto", que logo passa a aterrorizar a garota. A certa altura, o roteiro esclarece que a trama espanhola retrata a infância de John (Clive Owen, de Confiar), pai de Mia e autor do manuscrito, e que o tal ser aterrorizador é a projeção que o homem, na infância, criou de seu pai problemático.
Sim, a explicação faz algum sentido diante da apresentação do conceito de folie à deux, mas exige uma série de concessões e transforma toda a narrativa em uma tremenda bobagem. Pra início de conversa, Mia passa a soar como uma garota demasiadamente assustadiça, que não consegue ler um conto de terror sem trazê-lo para sua realidade, ao passo que John, além de não convencer como um espanhol de nascença, passa a compartilhar do terror da filha com uma rapidez ímpar, evidenciando um quadro de distúrbio mental grave que o roteiro jamais se preocupa em discutir. E levando-se em consideração a natureza puramente psicológica da assombração, toda a subtrama espanhola revela-se uma grande enrolação - principalmente quando um padre, vivido por Daniel Brühl, é lançado na história para reforçar um cunho sobrenatural que simplesmente não existe.
Juntando-se à leva recente de produções do gênero produzidas ou co-produzidas pela Espanha ([Rec], O Orfanato e Os Olhos de Júlia são alguns deles), Intrusos transforma um terror de natureza psicológica em uma enxurrada de estupidez, surgindo como uma versão torpe e mal trabalhada do bom O Buraco, de Joe Dante.
Intruders, EUA/Reino Unido/Espanha, 2011 | Roteiro de Nicolás Casariego & Jaime Marques | Dirigido por Juan Carlos Fresnadillo | Com Clive Owen, Ella Purnell, Izán Corchero, Pilar López de Ayala, Daniel Brühl, Carice van Houten.
