
Não sei dizer como a sociedade dos anos 80 encarou o enredo de Footloose - Ritmo Louco, mas sou levado a crer que, pelo menos na segunda década do século XXI, a premissa soa bastante ultrapassada e um tanto inverossímil (embora originalmente tenha sido inspirada em circunstâncias reais): em uma cidade interiorana dos Estados Unidos, ouvir música alta e dançar em público desrespeita uma lei aprovada com o suporte da liderança religiosa local - algo que desperta especiais incômodo e revolta em um jovem que acaba de se mudar para as redondezas. Por outro lado, é perfeitamente possível encarar a trama como uma metáfora para o avanço nocivo da religião na política e em outros assuntos que não lhe dizem respeito - e nesse sentido, é inegável a relevância temática do filme nos dias atuais.
Claro, uma longa distância separa as proibições infantis da cidade de Bomont de assuntos pungentes que a Igreja insiste em dar seu pitaco, como aborto ou casamento gay - o que fica evidente nas cenas em que o protagonista expõe as tolas motivações de sua campanha pela revogação das leis (resguardar o direito de aproveitar a juventude e ser capaz de promover alguma mudança efetiva, depois de se dedicar em vão ao tratamento da leucemia da mãe). Entretanto, com o mínimo de boa vontade, é possível perceber os acertos do roteiro relativos à discussão, desde o modo como Ren MacCormack (Kenny Wormald) expõe o acomodamento de seu tio Wes (Ray McKinnon) em relação à influência do conservadorismo religioso na rotina da cidade até a passagem em que o protagonista utiliza trechos da própria bíblia para refutar a intolerância do conselho da cidade.
Adaptando a história para os dias atuais através de menções à recessão ou de músicas e coreografias mais contemporâneas (embora várias das ótimas canções do longa original marquem presença), o remake acaba herdando do filme de 1984 o bobo triângulo amoroso que pontua o arco dramático de Ren - e tanto a corrida de ônibus quanto a briga próxima ao desfecho, ambas motivadas por ações do vilãozinho Chuck (Patrick John Flueger), soam como eventos alheios à trama central. E embora o roteiro raramente alcance um peso dramático respeitável, o desempenho do elenco não deixa de ser satisfatório: o dançarino Kenny Wormald demonstra empenho como ator e, além de realizar as cenas de dança com excelência, confere carisma a MacCormack (vivido na versão original por Kevin Bacon), ao passo que a atuação de Julianne Hough não compromete a rebelde Ariel - e a atriz, inclusive, se sai melhor no papel do que em sua participação no musical Rock of Ages - O Filme. Por fim, Dennis Quaid (Um Bom Partido) vive um Reverendo Shaw Moore mais suave que o original de John Lithgow, embora expresse a intolerância, o conservadorismo e os conflitos do sujeito com eficiência.
Dirigido por Craig Brewer (Ritmo de um Sonho), que espalha pela narrativa algumas referências diretas e homenagens ao musical original, Footloose é um filme que, em tese, já valeria uma conferida apenas pelo prazer inigualável de acompanhar novamente a empolgante canção-tema e as dúzias de pés dançantes abrindo e encerrando o longa.


Footloose, EUA, 2011 | História de Dean Pitchford. Roteiro de Dean Pitchford e Craig Brewer | Dirigido por Craig Brewer | Com Kenny Wormald, Julianne Hough, Miles Teller, Dennis Quaid, Ray McKinnon, Andie MacDowell, Patrick John Flueger, Ziah Colon, L. Warren Young, Kim Dickens, Ser'Darius Blain, Brett Rice, Maggie Jones, Mary-Charles Jones.
Claro, uma longa distância separa as proibições infantis da cidade de Bomont de assuntos pungentes que a Igreja insiste em dar seu pitaco, como aborto ou casamento gay - o que fica evidente nas cenas em que o protagonista expõe as tolas motivações de sua campanha pela revogação das leis (resguardar o direito de aproveitar a juventude e ser capaz de promover alguma mudança efetiva, depois de se dedicar em vão ao tratamento da leucemia da mãe). Entretanto, com o mínimo de boa vontade, é possível perceber os acertos do roteiro relativos à discussão, desde o modo como Ren MacCormack (Kenny Wormald) expõe o acomodamento de seu tio Wes (Ray McKinnon) em relação à influência do conservadorismo religioso na rotina da cidade até a passagem em que o protagonista utiliza trechos da própria bíblia para refutar a intolerância do conselho da cidade.
Adaptando a história para os dias atuais através de menções à recessão ou de músicas e coreografias mais contemporâneas (embora várias das ótimas canções do longa original marquem presença), o remake acaba herdando do filme de 1984 o bobo triângulo amoroso que pontua o arco dramático de Ren - e tanto a corrida de ônibus quanto a briga próxima ao desfecho, ambas motivadas por ações do vilãozinho Chuck (Patrick John Flueger), soam como eventos alheios à trama central. E embora o roteiro raramente alcance um peso dramático respeitável, o desempenho do elenco não deixa de ser satisfatório: o dançarino Kenny Wormald demonstra empenho como ator e, além de realizar as cenas de dança com excelência, confere carisma a MacCormack (vivido na versão original por Kevin Bacon), ao passo que a atuação de Julianne Hough não compromete a rebelde Ariel - e a atriz, inclusive, se sai melhor no papel do que em sua participação no musical Rock of Ages - O Filme. Por fim, Dennis Quaid (Um Bom Partido) vive um Reverendo Shaw Moore mais suave que o original de John Lithgow, embora expresse a intolerância, o conservadorismo e os conflitos do sujeito com eficiência.
Dirigido por Craig Brewer (Ritmo de um Sonho), que espalha pela narrativa algumas referências diretas e homenagens ao musical original, Footloose é um filme que, em tese, já valeria uma conferida apenas pelo prazer inigualável de acompanhar novamente a empolgante canção-tema e as dúzias de pés dançantes abrindo e encerrando o longa.



Footloose, EUA, 2011 | História de Dean Pitchford. Roteiro de Dean Pitchford e Craig Brewer | Dirigido por Craig Brewer | Com Kenny Wormald, Julianne Hough, Miles Teller, Dennis Quaid, Ray McKinnon, Andie MacDowell, Patrick John Flueger, Ziah Colon, L. Warren Young, Kim Dickens, Ser'Darius Blain, Brett Rice, Maggie Jones, Mary-Charles Jones.