9 de fevereiro de 2013

Crítica | Fogo Contra Fogo

Richard Schiff, Josh Duhamel, Bonnie Somerville e Bruce Willis em FOGO CONTRA FOGO (Fire with Fire)

por Eduardo Monteiro

Fire with Fire, EUA, 2012 | Duração: 1h36m53s | Lançado no Brasil em 8 de Fevereiro de 2013, nos cinemas | Roteiro de Tom O'Connor | Dirigido por David Barrett | Com Josh Duhamel, Bruce Willis, Rosario Dawson, Vincent D'Onofrio, 50 Cent, Kevin Dunn, Julian McMahon, Vinnie Jones, Eric Winter, Bonnie Somerville, Richard Schiff, Quinton 'Rampage' Jackson.

Pôster nacional e crítica de FOGO CONTRA FOGO (Fire with Fire)
Em uma das poucas cenas em que o policial vivido por Bruce Willis parte para a "ação" (leia-se: esmurrar um - apenas um - bandido mais atrevido em uma visita ao covil dos vilões) neste Fogo Contra Fogo (não confundir, logicamente, com o excepcional longa de 1995, dirigido por Michael Mann), um dos criminosos acusa o personagem de negligência na investigação do assassinato de seus comparsas e aponta que o oficial está cometendo o pecado da preguiça ao "deixar de usar seus talentos e dons" na tarefa. Lamentavelmente, o diálogo se enquadra em um daqueles casos curiosos em que a ficção esbarra na realidade: desperdiçando tanto seu dom para a ação (Duro de Matar e Looper - Assassinos do Futuro) quanto seu talento para papéis cômicos ou dramáticos (como em Moonrise Kingdom ou O Sexto Sentido), Willis vive um personagem irrelevante de forma assustadoramente preguiçosa - algo que fica mais que evidente na ocasião em que o policial Mike Cella se exalta e o ator, visivelmente contrariado, é obrigado a gritar, em vez de simplesmente dizer suas falas.

Infelizmente, filmes como Fuga Implacável e este Fogo Contra Fogo provam que Bruce Willis não parece enxergar problemas em manchar sua carreira com produções medíocres lançadas diretamente em vídeo - e digo isso não com o propósito de desqualificar este último filme como lançamento cinematográfico (o que fiz nos textos de O Último Desafio e O Resgate), mas levando em consideração que o longa de fato foi produzido para o mercado de home video, sendo o Brasil o primeiro e um dos únicos a exibi-lo na tela grande. Escrito pelo estreante Tom O'Connor e dirigido pelo dublê e diretor de séries de TV David Barrett, o filme tem início com um crime presenciado pelo bombeiro Jeremy Coleman (Josh Duhamel), que, ameaçado pelo réu, é colocado no Programa de Proteção à Testemunha - decisão que tem de tudo para dar certo, já que, como bem observa o policial Mike Cella (Bruce Willis), Coleman não possui namorada, esposa, filhos ou parentes próximos que possam ser usados pelos criminosos para impedir que o sujeito testemunhe no julgamento.

Isso, por si só, já é capaz de elevar ligeiramente a expectativa do espectador - até que a agente vivida por Rosario Dawson (10 Anos de Pura Amizade) surge em cena e lança tudo pelos ares. O romance vivido por Talia Durham (Rosario Dawson) e Coleman coloca Fogo Contra Fogo de volta nos trilhos da obviedade: o relacionamento do casal logo é descoberto pelos bandidos e, preocupado com a segurança da mulher, o protagonista se desvencilha do Programa de Proteção à Testemunha e vai atrás do mafioso David Hagan (Vincent D'Onofrio) com o objetivo de eliminá-lo - e a então exilada Talia, preocupada com a segurança do amado, retorna à cidade com o objetivo de se tornar a mocinha feita de refém pelos bandidos.

50 Cent e Josh Duhamel em FOGO CONTRA FOGO (Fire with Fire)

Rodado com câmeras digitais (o que resulta em um desfoque quase constante dos limites superior e inferior do quadro), o longa ao menos é tecnicamente bem realizado: se por um lado a trilha genérica peca por investir em melodias melosas que ressaltam o drama vivido pelo personagem, por outro a equipe de produção consegue produzir, por exemplo, um incêndio convincente e claustrofóbico no terceiro ato, embora isto não seja lá um grande desafio. Entretanto, a trama genérica e, principalmente, a construção dos personagens fazem os esforços da equipe técnica serem desperdiçados: acreditando que o comportamento cruel de Hagan e seu bando (que assassinam friamente o dono de uma loja de conveniência e seu filho - e vibram com a situação) não é suficiente para sedimentar a vilania e a disputa territorial que motiva a ação, os realizadores incluem uma tatuagem de suástica saltando da abertura da camisa do líder da gangue, por julgar que o espectador não é inteligente o suficiente para assimilar a situação.

Sim, há ainda as incontáveis situações genéricas ou absurdas - o banho psicologicamente sofrido em que Jeremy limpa manchas de sangue ou o tiroteio ridiculamente equilibrado entre um atirador de elite e seus alvos desorientados são alguns exemplos respectivos -, mas é inútil listá-las todas. Por outro lado, o roteiro tem sua parcela de coerências: embora obstinado, Coleman não é um sujeito habituado com a rotina do crime - e cortar os dedos de um bandido durante um interrogatório é uma experiência particularmente nauseante para o personagem. Além disso, Fogo Contra Fogo também acerta nas raras ocasiões em que faz graça com a natureza absurda e genérica do próprio roteiro: é divertido ver o advogado de Hagan ressaltando a vilania caricata do cliente ao apontar que ele seria capaz de assassinar toda sua família e completar matando seu cachorro, apenas pela maldade da situação, ao passo que a gargalhada do personagem de D'Onofrio ao ouvir uma ameaça absolutamente patética de Jeremy ("Eu estou no Programa de Proteção à Testemunha, mas é você quem precisará de proteção de mim") certamente é compartilhada pelo espectador.

Provando ainda a completa falta de ambição artística de Josh Duhamel (por incrível que pareça, O Casamento do Meu Ex, Transformers e Ramona e Beezus continuam sendo os melhores filmes com a participação do ator), Fogo Contra Fogo coloca em pauta a reflexão sobre uma preocupante tendência: se o avanço dos filmes dublados e das conversões para 3D já eram capazes de deixar os cinéfilos de cabelos em pé, o êxodo das locadoras para o Cinema surge como mais um motivo de temor e preocupação para todos nós.

Bruce Willis em FOGO CONTRA FOGO (Fire with Fire)