
por Eduardo Monteiro


Fire with Fire, EUA, 2012 | Duração: 1h36m53s | Lançado no Brasil em 8 de Fevereiro de 2013, nos cinemas | Roteiro de Tom O'Connor | Dirigido por David Barrett | Com Josh Duhamel, Bruce Willis, Rosario Dawson, Vincent D'Onofrio, 50 Cent, Kevin Dunn, Julian McMahon, Vinnie Jones, Eric Winter, Bonnie Somerville, Richard Schiff, Quinton 'Rampage' Jackson.
Em uma das poucas cenas em que o policial vivido por Bruce Willis parte para a "ação" (leia-se: esmurrar um - apenas um - bandido mais atrevido em uma visita ao covil dos vilões) neste Fogo Contra Fogo (não confundir, logicamente, com o excepcional longa de 1995, dirigido por Michael Mann), um dos criminosos acusa o personagem de negligência na investigação do assassinato de seus comparsas e aponta que o oficial está cometendo o pecado da preguiça ao "deixar de usar seus talentos e dons" na tarefa. Lamentavelmente, o diálogo se enquadra em um daqueles casos curiosos em que a ficção esbarra na realidade: desperdiçando tanto seu dom para a ação (Duro de Matar e Looper - Assassinos do Futuro) quanto seu talento para papéis cômicos ou dramáticos (como em Moonrise Kingdom ou O Sexto Sentido), Willis vive um personagem irrelevante de forma assustadoramente preguiçosa - algo que fica mais que evidente na ocasião em que o policial Mike Cella se exalta e o ator, visivelmente contrariado, é obrigado a gritar, em vez de simplesmente dizer suas falas.
Infelizmente, filmes como Fuga Implacável e este Fogo Contra Fogo provam que Bruce Willis não parece enxergar problemas em manchar sua carreira com produções medíocres lançadas diretamente em vídeo - e digo isso não com o propósito de desqualificar este último filme como lançamento cinematográfico (o que fiz nos textos de O Último Desafio e O Resgate), mas levando em consideração que o longa de fato foi produzido para o mercado de home video, sendo o Brasil o primeiro e um dos únicos a exibi-lo na tela grande. Escrito pelo estreante Tom O'Connor e dirigido pelo dublê e diretor de séries de TV David Barrett, o filme tem início com um crime presenciado pelo bombeiro Jeremy Coleman (Josh Duhamel), que, ameaçado pelo réu, é colocado no Programa de Proteção à Testemunha - decisão que tem de tudo para dar certo, já que, como bem observa o policial Mike Cella (Bruce Willis), Coleman não possui namorada, esposa, filhos ou parentes próximos que possam ser usados pelos criminosos para impedir que o sujeito testemunhe no julgamento.
Isso, por si só, já é capaz de elevar ligeiramente a expectativa do espectador - até que a agente vivida por Rosario Dawson (10 Anos de Pura Amizade) surge em cena e lança tudo pelos ares. O romance vivido por Talia Durham (Rosario Dawson) e Coleman coloca Fogo Contra Fogo de volta nos trilhos da obviedade: o relacionamento do casal logo é descoberto pelos bandidos e, preocupado com a segurança da mulher, o protagonista se desvencilha do Programa de Proteção à Testemunha e vai atrás do mafioso David Hagan (Vincent D'Onofrio) com o objetivo de eliminá-lo - e a então exilada Talia, preocupada com a segurança do amado, retorna à cidade com o objetivo de se tornar a mocinha feita de refém pelos bandidos.
Rodado com câmeras digitais (o que resulta em um desfoque quase constante dos limites superior e inferior do quadro), o longa ao menos é tecnicamente bem realizado: se por um lado a trilha genérica peca por investir em melodias melosas que ressaltam o drama vivido pelo personagem, por outro a equipe de produção consegue produzir, por exemplo, um incêndio convincente e claustrofóbico no terceiro ato, embora isto não seja lá um grande desafio. Entretanto, a trama genérica e, principalmente, a construção dos personagens fazem os esforços da equipe técnica serem desperdiçados: acreditando que o comportamento cruel de Hagan e seu bando (que assassinam friamente o dono de uma loja de conveniência e seu filho - e vibram com a situação) não é suficiente para sedimentar a vilania e a disputa territorial que motiva a ação, os realizadores incluem uma tatuagem de suástica saltando da abertura da camisa do líder da gangue, por julgar que o espectador não é inteligente o suficiente para assimilar a situação.
Sim, há ainda as incontáveis situações genéricas ou absurdas - o banho psicologicamente sofrido em que Jeremy limpa manchas de sangue ou o tiroteio ridiculamente equilibrado entre um atirador de elite e seus alvos desorientados são alguns exemplos respectivos -, mas é inútil listá-las todas. Por outro lado, o roteiro tem sua parcela de coerências: embora obstinado, Coleman não é um sujeito habituado com a rotina do crime - e cortar os dedos de um bandido durante um interrogatório é uma experiência particularmente nauseante para o personagem. Além disso, Fogo Contra Fogo também acerta nas raras ocasiões em que faz graça com a natureza absurda e genérica do próprio roteiro: é divertido ver o advogado de Hagan ressaltando a vilania caricata do cliente ao apontar que ele seria capaz de assassinar toda sua família e completar matando seu cachorro, apenas pela maldade da situação, ao passo que a gargalhada do personagem de D'Onofrio ao ouvir uma ameaça absolutamente patética de Jeremy ("Eu estou no Programa de Proteção à Testemunha, mas é você quem precisará de proteção de mim") certamente é compartilhada pelo espectador.
Provando ainda a completa falta de ambição artística de Josh Duhamel (por incrível que pareça, O Casamento do Meu Ex, Transformers e Ramona e Beezus continuam sendo os melhores filmes com a participação do ator), Fogo Contra Fogo coloca em pauta a reflexão sobre uma preocupante tendência: se o avanço dos filmes dublados e das conversões para 3D já eram capazes de deixar os cinéfilos de cabelos em pé, o êxodo das locadoras para o Cinema surge como mais um motivo de temor e preocupação para todos nós.
Infelizmente, filmes como Fuga Implacável e este Fogo Contra Fogo provam que Bruce Willis não parece enxergar problemas em manchar sua carreira com produções medíocres lançadas diretamente em vídeo - e digo isso não com o propósito de desqualificar este último filme como lançamento cinematográfico (o que fiz nos textos de O Último Desafio e O Resgate), mas levando em consideração que o longa de fato foi produzido para o mercado de home video, sendo o Brasil o primeiro e um dos únicos a exibi-lo na tela grande. Escrito pelo estreante Tom O'Connor e dirigido pelo dublê e diretor de séries de TV David Barrett, o filme tem início com um crime presenciado pelo bombeiro Jeremy Coleman (Josh Duhamel), que, ameaçado pelo réu, é colocado no Programa de Proteção à Testemunha - decisão que tem de tudo para dar certo, já que, como bem observa o policial Mike Cella (Bruce Willis), Coleman não possui namorada, esposa, filhos ou parentes próximos que possam ser usados pelos criminosos para impedir que o sujeito testemunhe no julgamento.
Isso, por si só, já é capaz de elevar ligeiramente a expectativa do espectador - até que a agente vivida por Rosario Dawson (10 Anos de Pura Amizade) surge em cena e lança tudo pelos ares. O romance vivido por Talia Durham (Rosario Dawson) e Coleman coloca Fogo Contra Fogo de volta nos trilhos da obviedade: o relacionamento do casal logo é descoberto pelos bandidos e, preocupado com a segurança da mulher, o protagonista se desvencilha do Programa de Proteção à Testemunha e vai atrás do mafioso David Hagan (Vincent D'Onofrio) com o objetivo de eliminá-lo - e a então exilada Talia, preocupada com a segurança do amado, retorna à cidade com o objetivo de se tornar a mocinha feita de refém pelos bandidos.

Rodado com câmeras digitais (o que resulta em um desfoque quase constante dos limites superior e inferior do quadro), o longa ao menos é tecnicamente bem realizado: se por um lado a trilha genérica peca por investir em melodias melosas que ressaltam o drama vivido pelo personagem, por outro a equipe de produção consegue produzir, por exemplo, um incêndio convincente e claustrofóbico no terceiro ato, embora isto não seja lá um grande desafio. Entretanto, a trama genérica e, principalmente, a construção dos personagens fazem os esforços da equipe técnica serem desperdiçados: acreditando que o comportamento cruel de Hagan e seu bando (que assassinam friamente o dono de uma loja de conveniência e seu filho - e vibram com a situação) não é suficiente para sedimentar a vilania e a disputa territorial que motiva a ação, os realizadores incluem uma tatuagem de suástica saltando da abertura da camisa do líder da gangue, por julgar que o espectador não é inteligente o suficiente para assimilar a situação.
Sim, há ainda as incontáveis situações genéricas ou absurdas - o banho psicologicamente sofrido em que Jeremy limpa manchas de sangue ou o tiroteio ridiculamente equilibrado entre um atirador de elite e seus alvos desorientados são alguns exemplos respectivos -, mas é inútil listá-las todas. Por outro lado, o roteiro tem sua parcela de coerências: embora obstinado, Coleman não é um sujeito habituado com a rotina do crime - e cortar os dedos de um bandido durante um interrogatório é uma experiência particularmente nauseante para o personagem. Além disso, Fogo Contra Fogo também acerta nas raras ocasiões em que faz graça com a natureza absurda e genérica do próprio roteiro: é divertido ver o advogado de Hagan ressaltando a vilania caricata do cliente ao apontar que ele seria capaz de assassinar toda sua família e completar matando seu cachorro, apenas pela maldade da situação, ao passo que a gargalhada do personagem de D'Onofrio ao ouvir uma ameaça absolutamente patética de Jeremy ("Eu estou no Programa de Proteção à Testemunha, mas é você quem precisará de proteção de mim") certamente é compartilhada pelo espectador.
Provando ainda a completa falta de ambição artística de Josh Duhamel (por incrível que pareça, O Casamento do Meu Ex, Transformers e Ramona e Beezus continuam sendo os melhores filmes com a participação do ator), Fogo Contra Fogo coloca em pauta a reflexão sobre uma preocupante tendência: se o avanço dos filmes dublados e das conversões para 3D já eram capazes de deixar os cinéfilos de cabelos em pé, o êxodo das locadoras para o Cinema surge como mais um motivo de temor e preocupação para todos nós.
