27 de fevereiro de 2013

Crítica | Dezesseis Luas

Alden Ehrenreich em DEZESSEIS LUAS (Beautiful Creatures)

por Eduardo Monteiro

Beautiful Creatures, EUA, 2013 | Duração: 2h03m30s | Lançado no Brasil em 1º de Março de 2013, nos cinemas | Baseado no romance de Kami Garcia & Margaret Stohl. Roteiro de Richard LaGravenese | Dirigido por Richard LaGravenese | Com Alden Ehrenreich, Alice Englert, Jeremy Irons, Viola Davis, Emma Thompson, Emmy Rossum, Thomas Mann, Eileen Atkins, Margo Martindale, Kyle Gallner, Zoey Deutch, Tiffany Boone.

Pôster nacional e crítica de DEZESSEIS LUAS (Beautiful Creatures)
Os encerramentos da série Harry Potter e, mais recentemente, da franquia Crepúsculo, criaram uma lacuna no Cinema de fantasia para adolescentes e jovens adultos que, de modo geral, ainda não foi preenchida. Muitos falharam, Percy Jackson continua tentando (o segundo filme deve ser lançado ainda este ano) e Jogos Vorazes é o único que parece ter se aproximado do sucesso que todos têm tentado emplacar - e a julgar pela repercussão internacional e pelos primeiros resultados de bilheteria, Dezesseis Luas será mais uma aposta que ficará a ver navios, além de amargar um prejuízo catastrófico.

O que é curioso, já que, além de razoavelmente interessante, o longa agrega vários elementos tanto de Crepúsculo quanto de Harry Potter. Escrito pelo cineasta Richard LaGravenese (Escritores da Liberdade, P.S. Eu Te Amo) com base no primeiro volume da coleção Beautiful Creatures, de Kami Garcia e Margaret Stohl, Dezesseis Luas nos apresenta ao jovem Ethan Wate (Alden Ehrenreich) e sua insatisfação com a pacatez de Gatlin, pequena cidade da Carolina do Sul onde mora. De volta à escola ao final das férias, o rapaz conhece a órfã Lena Duchannes (Alice Englert, de Ginger & Rosa), que acaba de se mudar para a mansão Ravenwood, lar de seu tio Macon (Jeremy Irons) - um sujeito raramente visto em público e cuja família é acusada de magia negra pela população local, sob forte influência da conservadora e religiosa Sra. Lincoln (Emma Thompson). Porém, Ethan logo descobre que parte do boato tem fundamento: Lena faz parte de uma família de Conjuradores (termo técnico e menos ofensivo para Bruxos, como a própria garota explica) e, a poucos meses de completar 16 anos, teme pelas consequências de um ritual que a definirá como benfeitora ou malfeitora, com base em sua personalidade.

Embora solitária e por vezes rancorosa, Lena é uma boa garota e, dessa forma, sua Invocação pela Luz é algo esperado por todos. O romance iniciado com Ethan, porém, compromete o processo, já que o envolvimento amoroso com o humano é ameaçado por uma antiga Maldição, iniciada por antepassados de ambos. Além disso, a prima maligna de Lena, Ridley (Emmy Rossum), acaba de retornar à cidade com o objetivo de alterar a ordem e induzir a garota a ser Invocada pelas Trevas, e não pela Luz. Claro, todos esses empecilhos não passam de bobagens levemente arbitrárias criadas por Garcia e Stohl para ressaltar, com todas as letras, que o romance do casal central é p-r-o-i-b-i-d-o, dando poucas chances aos rancores da garota (uma ameaça palpável a sua Invocação pela Luz, fruto das diversas rejeições por ela sofridas) de transformá-la em uma personagem com falhas e aflições próprias e naturais. Ainda nesse sentido, vale apontar que vários dos conceitos criados pelas autoras são fracos, mal desenvolvidos e parecem prolongar desnecessariamente a narrativa - e basta observar, por exemplo, a ligeira falta de função da governanta e Vidente Amma (Viola Davis) ou o enorme tempo gasto por Lena com a leitura de certo livro para descobrir o modo absolutamente simplório de reverter a tal Maldição.

Além disso, o filme também falha em estabelecer com clareza seu protagonista - e embora Ethan soe como a opção mais óbvia e instintiva por, inclusive, surgir como narrador em alguns momentos (algo, acredito eu, derivado do livro), boa parte dos eventos definidores da reta final da narrativa giram em torno de Lena, que se torna o centro das atenções. Infelizmente, o longa também peca ao jamais delimitar a gama de poderes dos Conjuradores (telecinéticos, telepáticos, metamórficos, meteorológicos e tudo mais que for conveniente para a narrativa - menos ressuscitar mortos) ou se aprofundar na serventia da natureza fantástica dos personagens naquele universo. Para completar, é uma pena que o roteiro não explore a relação de Macon (um Conjurador das Trevas) com a Luz, desperdiçando o potencial do personagem.

Viola Davis, Alice Englert e Alden Ehrenreich em DEZESSEIS LUAS (Beautiful Creatures)

Todavia, Jeremy Irons abraça o personagem sem receios (diferentemente da ligeiramente constrangida Viola Davis) e cria uma figura de indiscutíveis autoridade e sabedoria, enquanto a ótima Emma Thompson (Valente) transforma a Sra. Lincoln em uma mulher asquerosa que se apoia na religião para afrontar e depreciar todo e qualquer indivíduo que a incomode pessoalmente, de ateus ou homossexuais até membros do Greenpeace - e não é à toa que ela seja o avatar escolhido pela maligna mãe Lena, Sarafine (que Thompson vive com jocosos exagero e infantilidade). Já a esforçada Alice Englert (filha da diretora Jane Campion) incorpora a fase rabugenta de Lena com talento, mas enfrenta dificuldades para impor respeito no restante do tempo, soando muitas vezes como uma garota mimada que jamais se preocupa em controlar os próprios poderes quando contrariada. Por fim, o pouco conhecido Alden Ehrenreich vive Ethan como um sujeito cuja irrefreável paixão por Lena tende ao egoísmo, sendo capaz de ignorar categoricamente o posicionamento de autoridades em um assunto relativo à segurança da garota. Por outro lado, o ator é carismático e talentoso o suficiente para conquistar o espectador com a ternura, a curiosidade e o espanto do personagem diante da reviravolta em sua vida, divertindo ainda com seus comentários inspirados ("Você pode fazer qualquer coisa crescer?" é certamente o meu favorito).

Trabalhando pela primeira vez com (apenas razoáveis) efeitos especiais, Richard LaGravenese imprime sua breguice habitual ao romance central (embora a aproximação do casal seja conduzida de forma mais simpática) e falha em extrair tensão da narrativa - o que fica mais que claro na cena em que Lena e Ridley se enfrentam na sala de jantar, quando o comportamento da mobília do cômodo ganha um tempo de tela exagerado e despropositado. Enquanto isso, a equipe de direção de arte concebe figurinos acertadamente exóticos e cenários curiosos (a mansão Ravenwood é certamente um destaque nesse aspecto), além de utilizar bem a identidade visual de galhos entrelaçados.

Batendo ainda na desgastada tecla da aceitação de diferenças (o que Lena mais deseja é ser normal, claro!), Dezesseis Luas é um entretenimento agradável cujas realizações artísticas são superadas pelo potencial demonstrado. Infelizmente, tudo indica que não teremos chances posteriores de confirmá-lo.

Alice Englert e Alden Ehrenreich em DEZESSEIS LUAS (Beautiful Creatures)