
por Eduardo Monteiro




The Sessions, EUA, 2012 | Duração: 1h34m57s | Lançado no Brasil em 15 de Fevereiro de 2013, nos cinemas | Roteiro de Ben Lewin | Dirigido por Ben Lewin | Com John Hawkes, Helen Hunt, William H. Macy, Moon Bloodgood, Annika Marks, Adam Arkin, Jennifer Kumiyama, Robin Weigert.

Vítima de problemas respiratórios que o obrigam a permanecer boa parte do tempo preso a um pulmão de aço, Mark O'Brien é um sujeito cuja carência emocional surge como uma triste implicação das restrições ditadas pela paralisia - e basta que uma de suas cuidadoras demonstre um maior afeto pelo patrão, com direito a carícias sem segundas intenções, para que ele se veja apaixonado pela garota. E é por essas e outras que as sessões com Cheryl revelam-se um desafio tão grande para o sujeito: além dos receios e inseguranças naturais de uma primeira relação sexual (tardia, ainda por cima), O'Brien é apresentado a todo um universo de prazeres em sessões limitadas e na companhia de uma mulher que, como ele bem sabe, é casada e pretende manter o relacionamento com os clientes no âmbito puramente profissional.
Mas não é só o prazer carnal proporcionado por Cheryl que conquista o homem: vivida com absoluta entrega por Helen Hunt, a substituta sexual é uma mulher centrada, gentil e atenciosa que trata O'Brien com a igualdade merecida e faz o possível para mantê-lo confortável e à vontade - atitudes que, embora imprescindíveis do ponto de vista profissional, revelam bastante sobre a terapeuta como pessoa. Lamentavelmente, os problemas familiares de Cheryl soam como estratégias artificiais para salientar seu conflito emocional, uma vez que tanto a natureza peculiar da profissão quanto a incapacidade da mulher de ser impessoal já são suficientes para estabelecê-lo.
Naturalmente, a personalidade cativante do novo cliente apenas complica a jornada emocional de Cheryl: espirituoso e autodepreciativo, O'Brien é um sujeito que enfrenta os males da deficiência com um bom humor surpreendente e admirável - e a simples dúvida a respeito do que viria a ser um "exercício de consciência corporal", por exemplo, é algo que consegue ocupar a mente do homem por horas a fio. Além disso, Lewin acerta ao jamais vitimizar ou tratar com qualquer tipo de distinção injusta os deficientes físicos vistos no filme (incluindo os amigos de Mark, vividos por Jennifer Kumiyama e Tobias Forrest), estabelecendo o protagonista desde o início como um sujeito ativo que nunca parece achar incômodo ou degradante ser visto em público sendo empurrado por outra pessoa e preso a uma maca.

Ator que aos poucos vem recebendo o reconhecimento merecido, John Hawkes (Martha Marcy May Marlene) adota uma postura corporal impecável, desde a envergadura da coluna até a rigidez muscular ou o caimento da cabeça, e compõe o personagem com doçura e a vivacidade do sujeito extraordinário que O'Brien parece ter sido. Acompanhando o protagonista e marcada por uma caracterização austera, Moon Bloodgood (Rápida Vingança) desconstrói com competência a rigidez inicial da cuidadora Vera e se conecta com o personagem de Hawkes de uma forma sutil e emblemática: além de desempenhar uma função primordial na vida de Mark (isto é, todo o conjunto de tarefas que os membros do homem realizariam), Vera é vista em situações que ajudam a universalizar alguns dos dramas vivenciados pelo protagonista, como a hesitação de um primeiro contato entre pessoas que deverão compartilhar certa intimidade (o que ocorre tanto entre Mark e Vera quanto na sessão inaugural da terapia sexual) e a frustração de se ver atraído por uma pessoa comprometida (o interesse do recepcionista do Motel por Vera remete ao de O'Brien por Cheryl).
Por outro lado, o padre, amigo e confidente Brendan (William H. Macy) surge como apenas um conselheiro atípico, em uma das mais expressivas liberdades artísticas tomadas pelo roteiro em relação à história real - e é impossível ignorar que os encontros entre o padre e o protagonista são meros pretextos engraçadinhos para que este último exponha para o espectador seus pensamentos a respeito da terapia sexual, na mesma linha das gravações feitas por Cheryl após cada sessão. Para completar, a opção de sediar os bate-papos entre os personagens de Hawkes e H. Macy em uma igreja é tola e claramente prepara o terreno para uma gag envolvendo algum fiel demonstrando desconforto ao ouvir de relance e fora de contexto os comentários despudorados de Mark.
Criando uma comovente retrato da redescoberta de um aspecto tão marcante da natureza humana (como é a sexualidade) - apesar da montagem irregular, que comporta passagens rápidas e pouco relevantes em função de diálogos inspirados e espirituosos -, As Sessões é encerrado com um plano que, fitando a enorme cápsula do pulmão de aço, não deixa de remeter à imagem de um caixão - e embora o aparelho ironicamente tenha viabilizado justamente a sobrevivência de Mark O'Brien, temos a certeza de que foi fora dele, em contato com as pessoas e com o mundo, que o poeta fez sua vida realmente valer a pena e merecer ser lembrada.
