28 de fevereiro de 2013

Crítica | Colegas

Ariel Goldenberg, Breno Viola e Rita Pokk em COLEGAS

por Eduardo Monteiro

Colegas, Brasil, 2012 | Duração: 1h42m44s | Lançado no Brasil em 1º de Março de 2013, nos cinemas | Escrito por Marcelo Galvão | Dirigido por Marcelo Galvão | Com Ariel Goldenberg, Rita Pokk, Breno Viola, Lima Duarte, Deto Montenegro, Rui Unas, Leonargo Miggiorin, Amélia Bittencourt, Christiano Cochrane, Daniele Valente, Juliana Didone, Marco Luque, Theodoro Cochrane, Maytê Piragibe, Nill Marcondes, Otávio Mesquita, Daniela Galli, Oswaldo Lot, Anna Ludmila, Germano Pereira, J. Peron.

Pôster e crítica de COLEGAS
Embora tenha adquirido uma conotação pejorativa ao longo dos anos, a expressão "retardado mental", por incrível que pareça, continua designando pessoas acometidas por deficiências cognitivas - uma das características mais marcantes da Síndrome de Down. Isso, porém, não torna seus portadores pessoas inferiores, piores ou indignas de respeito - e não raramente, os esforços empregados na integração de indivíduos com Trissomia do Cromossomo 21 à sociedade miram equivocadamente em objetivos parvos e dispersivos, como a readequação de terminologias (trocar "diferentes" por "especiais" é a principal e mais tola delas). Embora as semelhanças sobressaiam, portadores da Síndrome são sim pessoas diferentes e, em muitos casos, precisam realmente de tratamentos diferenciados - mas isso, reforço, não é e não deve ser encarado como algo degradante.

No início do ano, um jovem Down de 26 anos morreu asfixiado em um cinema dos Estados Unidos depois que, decidido a permanecer na sala após o fim da sessão para rever o filme, teve que ser retirado à força pela polícia - uma tragédia que, obviamente, denuncia o mais absoluto despreparo dos policiais. O que dizer então dos três jovens com Down que, inspirados por Thelma & Louise, fogem da Instituição em que vivem, roubam um carro e, com uma arma de brinquedo, percorrem estradas brasileiras propiciando acidentes automobilísticos, desafiando as autoridades, invadindo festas e cometendo assaltos?

Stalone (Ariel Goldenberg), Aninha (Rita Pokk) e Márcio (Breno Viola), ao que tudo indica, não possuem más intenções; eles só querem se divertir, e não parecem enxergar problemas em coagir terceiros para alcançar seus objetivos. É evidente que o trio não está preparado para se lançar no mundo sem supervisão: incapazes de separar a ficção da realidade, os jovens passam a reproduzir de forma inconsequente cenas de seus filmes favoritos, como - vejam só! - Pulp Fiction - Tempo de Violência. Dessa forma, a pequena aventura do trio se revela uma sucessão de riscos não só para eles, como também para as pessoas com quem interagem - e basta imaginar como a história poderia acabar caso alguma das vítimas do trio estivesse armada e resolvesse reagir ou se o ônibus repleto de jovens escoteiros acidentasse graças à imprudência dos personagens principais.

Todavia, Marcelo Galvão parece enxergar um absurdo potencial cômico na trajetória dos personagens e tenta convencer o espectador que uma viagem perigosa, aborrecida e imprudente é na verdade uma espécie de jornada de libertação e descobertas - algo que o diretor expressa sem a menor sutileza através dos vários planos em que o trio surge berrando de braços abertos no carro em movimento ou - pior ainda - na cena em que a garota liberta um pássaro em meio a uma plantação de girassóis após urinar ("Aninha não gostava de ver nenhum animal preso. Ela sabia como era ruim se sentir assim", enfatiza a narração de Lima Duarte).

Ariel Goldenberg em COLEGAS

Para piorar, Galvão arruína a naturalmente frágil estrutura de road movie com séries de acontecimentos absolutamente arbitrários e ilógicos: a aparentemente implacável diarreia de Stalone, por exemplo, só é introduzida para permitir que o personagem visite um banheiro no qual encontrará o véu perfeito para a fantasia de noiva de Aninha - e benditos sejam os figurantes que utilizam cortinas de chuveiro feitas de tricô! Ainda nesse sentido, a cena de amor ocorrida no palheiro da carroceria do caminhão de um buffet (repetindo: no palheiro da carroceria do caminhão de um buffet) só não é pior que a batida montagem em que o trio surge experimentando roupas em uma boutique ou a sequência do interrogatório que reduz portadores de Síndrome de Down a loucos desvairados.

E o trio principal não fica muito atrás: figuras unidimensionais definidas exclusivamente por seus sonhos (conhecer o mar, voar e casar-se com um cantor), Stalone, Márcio e Aninha frequentemente tomam atitudes randômicas (por que um deles insiste em carregar tochas furtadas de uma festa?) e são vividos por seus respectivos intérpretes com algumas limitações esperadas: além dos vários diálogos ininteligíveis (algo que confere naturalidade aos personagens, ao mesmo tempo que compromete a narrativa), a química entre os atores é deficitária, de modo que a paixão de Stalone por Aninha, por exemplo, precisa ser explicitada através de mais uma das embaraçosas intervenções em off de Lima Duarte ("Agora, Stalone e Raul Seixas eram inimigos inseparáveis").

Repleto de canções de Raul Seixas e referências cinematográficas soltas (todas elas listadas nos créditos finais), o filme busca um tom levemente fabulesco que aposta em uma atemporalidade estranha (as TVs são antiquadas e Raul Seixas ainda está vivo, mas Cidade de Deus é referenciado) e personagens secundários exagerados (ainda assim, responsáveis pelos pouquíssimos momentos divertidos do longa), mas falha em amenizar a gravidade das ações do trio, que permanece intacta sob qualquer ângulo de análise. Para completar, o filme ainda elabora uma crítica desonesta à intolerância: não parece existir distinção entre aqueles que simplesmente se sentem amolados pelas aporrinhações do trio (um direito, vale mencionar, absolutamente legítimo) e as caricaturas repulsivas que discriminam os personagens centrais por falha de caráter.

Fazendo cento e poucos minutos parecerem uma sessão tripla, Colegas é um projeto que se apoia na existência de um público sedento por afirmar a própria tolerância com relação às diferenças (vide o sucesso da campanha de marketing que, de tão apelativa, poderia ter sido lançada diretamente no programa do Gugu) e, consequentemente, disposto a engolir qualquer porcaria estrelado por atores com Síndrome de Down. A intenção pode até ter sido boa, mas o resultado, infelizmente, é pra lá de indigesto.

Rita Pokk, Breno Viola e Ariel Goldenberg em COLEGAS

27 de fevereiro de 2013

Crítica | Dezesseis Luas

Alden Ehrenreich em DEZESSEIS LUAS (Beautiful Creatures)

por Eduardo Monteiro

Beautiful Creatures, EUA, 2013 | Duração: 2h03m30s | Lançado no Brasil em 1º de Março de 2013, nos cinemas | Baseado no romance de Kami Garcia & Margaret Stohl. Roteiro de Richard LaGravenese | Dirigido por Richard LaGravenese | Com Alden Ehrenreich, Alice Englert, Jeremy Irons, Viola Davis, Emma Thompson, Emmy Rossum, Thomas Mann, Eileen Atkins, Margo Martindale, Kyle Gallner, Zoey Deutch, Tiffany Boone.

Pôster nacional e crítica de DEZESSEIS LUAS (Beautiful Creatures)
Os encerramentos da série Harry Potter e, mais recentemente, da franquia Crepúsculo, criaram uma lacuna no Cinema de fantasia para adolescentes e jovens adultos que, de modo geral, ainda não foi preenchida. Muitos falharam, Percy Jackson continua tentando (o segundo filme deve ser lançado ainda este ano) e Jogos Vorazes é o único que parece ter se aproximado do sucesso que todos têm tentado emplacar - e a julgar pela repercussão internacional e pelos primeiros resultados de bilheteria, Dezesseis Luas será mais uma aposta que ficará a ver navios, além de amargar um prejuízo catastrófico.

O que é curioso, já que, além de razoavelmente interessante, o longa agrega vários elementos tanto de Crepúsculo quanto de Harry Potter. Escrito pelo cineasta Richard LaGravenese (Escritores da Liberdade, P.S. Eu Te Amo) com base no primeiro volume da coleção Beautiful Creatures, de Kami Garcia e Margaret Stohl, Dezesseis Luas nos apresenta ao jovem Ethan Wate (Alden Ehrenreich) e sua insatisfação com a pacatez de Gatlin, pequena cidade da Carolina do Sul onde mora. De volta à escola ao final das férias, o rapaz conhece a órfã Lena Duchannes (Alice Englert, de Ginger & Rosa), que acaba de se mudar para a mansão Ravenwood, lar de seu tio Macon (Jeremy Irons) - um sujeito raramente visto em público e cuja família é acusada de magia negra pela população local, sob forte influência da conservadora e religiosa Sra. Lincoln (Emma Thompson). Porém, Ethan logo descobre que parte do boato tem fundamento: Lena faz parte de uma família de Conjuradores (termo técnico e menos ofensivo para Bruxos, como a própria garota explica) e, a poucos meses de completar 16 anos, teme pelas consequências de um ritual que a definirá como benfeitora ou malfeitora, com base em sua personalidade.

Embora solitária e por vezes rancorosa, Lena é uma boa garota e, dessa forma, sua Invocação pela Luz é algo esperado por todos. O romance iniciado com Ethan, porém, compromete o processo, já que o envolvimento amoroso com o humano é ameaçado por uma antiga Maldição, iniciada por antepassados de ambos. Além disso, a prima maligna de Lena, Ridley (Emmy Rossum), acaba de retornar à cidade com o objetivo de alterar a ordem e induzir a garota a ser Invocada pelas Trevas, e não pela Luz. Claro, todos esses empecilhos não passam de bobagens levemente arbitrárias criadas por Garcia e Stohl para ressaltar, com todas as letras, que o romance do casal central é p-r-o-i-b-i-d-o, dando poucas chances aos rancores da garota (uma ameaça palpável a sua Invocação pela Luz, fruto das diversas rejeições por ela sofridas) de transformá-la em uma personagem com falhas e aflições próprias e naturais. Ainda nesse sentido, vale apontar que vários dos conceitos criados pelas autoras são fracos, mal desenvolvidos e parecem prolongar desnecessariamente a narrativa - e basta observar, por exemplo, a ligeira falta de função da governanta e Vidente Amma (Viola Davis) ou o enorme tempo gasto por Lena com a leitura de certo livro para descobrir o modo absolutamente simplório de reverter a tal Maldição.

Além disso, o filme também falha em estabelecer com clareza seu protagonista - e embora Ethan soe como a opção mais óbvia e instintiva por, inclusive, surgir como narrador em alguns momentos (algo, acredito eu, derivado do livro), boa parte dos eventos definidores da reta final da narrativa giram em torno de Lena, que se torna o centro das atenções. Infelizmente, o longa também peca ao jamais delimitar a gama de poderes dos Conjuradores (telecinéticos, telepáticos, metamórficos, meteorológicos e tudo mais que for conveniente para a narrativa - menos ressuscitar mortos) ou se aprofundar na serventia da natureza fantástica dos personagens naquele universo. Para completar, é uma pena que o roteiro não explore a relação de Macon (um Conjurador das Trevas) com a Luz, desperdiçando o potencial do personagem.

Viola Davis, Alice Englert e Alden Ehrenreich em DEZESSEIS LUAS (Beautiful Creatures)

Todavia, Jeremy Irons abraça o personagem sem receios (diferentemente da ligeiramente constrangida Viola Davis) e cria uma figura de indiscutíveis autoridade e sabedoria, enquanto a ótima Emma Thompson (Valente) transforma a Sra. Lincoln em uma mulher asquerosa que se apoia na religião para afrontar e depreciar todo e qualquer indivíduo que a incomode pessoalmente, de ateus ou homossexuais até membros do Greenpeace - e não é à toa que ela seja o avatar escolhido pela maligna mãe Lena, Sarafine (que Thompson vive com jocosos exagero e infantilidade). Já a esforçada Alice Englert (filha da diretora Jane Campion) incorpora a fase rabugenta de Lena com talento, mas enfrenta dificuldades para impor respeito no restante do tempo, soando muitas vezes como uma garota mimada que jamais se preocupa em controlar os próprios poderes quando contrariada. Por fim, o pouco conhecido Alden Ehrenreich vive Ethan como um sujeito cuja irrefreável paixão por Lena tende ao egoísmo, sendo capaz de ignorar categoricamente o posicionamento de autoridades em um assunto relativo à segurança da garota. Por outro lado, o ator é carismático e talentoso o suficiente para conquistar o espectador com a ternura, a curiosidade e o espanto do personagem diante da reviravolta em sua vida, divertindo ainda com seus comentários inspirados ("Você pode fazer qualquer coisa crescer?" é certamente o meu favorito).

Trabalhando pela primeira vez com (apenas razoáveis) efeitos especiais, Richard LaGravenese imprime sua breguice habitual ao romance central (embora a aproximação do casal seja conduzida de forma mais simpática) e falha em extrair tensão da narrativa - o que fica mais que claro na cena em que Lena e Ridley se enfrentam na sala de jantar, quando o comportamento da mobília do cômodo ganha um tempo de tela exagerado e despropositado. Enquanto isso, a equipe de direção de arte concebe figurinos acertadamente exóticos e cenários curiosos (a mansão Ravenwood é certamente um destaque nesse aspecto), além de utilizar bem a identidade visual de galhos entrelaçados.

Batendo ainda na desgastada tecla da aceitação de diferenças (o que Lena mais deseja é ser normal, claro!), Dezesseis Luas é um entretenimento agradável cujas realizações artísticas são superadas pelo potencial demonstrado. Infelizmente, tudo indica que não teremos chances posteriores de confirmá-lo.

Alice Englert e Alden Ehrenreich em DEZESSEIS LUAS (Beautiful Creatures)

26 de fevereiro de 2013

Cena em Destaque | O banho

Janet Leigh em PSICOSE (Psycho)

A Cena em Destaque da semana aproveita a estreia de Hitchcock nos cinemas brasileiros e traz uma das cenas mais memoráveis do Cinema: em Psicose, Marion Crane (Janet Leigh) entra pro banho durante sua estadia no Motel Bates e é surpreendida por apunhaladas de uma figura misteriosa - o que tira a personagem de cena muito antes do desfecho do filme.

Alfred Hitchcock e Os Bastidores de Psicose é o sugestivo título do livro que inspirou Hitchcock e, como não poderia deixar de ser, detalhes sobre a produção dessa cena específica são discutidos no longa: das filmagens em si à liberação do material pelos censores, passando pela fundamental decisão de incluir a memorável trilha sonora - um pouco de tudo está lá. Ouvir os acordes saindo dos alto-falantes de uma sala de cinema e apreciar a encenação da reação do público ao suspense na época de seu lançamento certamente são alguns dos méritos do filme de Sacha Gervasi.

25 de fevereiro de 2013

A Garota

Sienna Miller e Toby Jones em A GAROTA (The Girl)

Não sei - e possivelmente jamais saberemos - até que ponto o roteiro de A Garota, escrito por Gwyneth Hughes a partir do livro de Donald Spoto, diz a verdade sobre a conturbada relação entre Alfred Hitchcock (Toby Jones) e Tippi Hedren (Sienna Miller); embora o conteúdo do roteiro (aprovado por Hedren) seja controverso, nada parece impedir que a história tenha ao menos um fundo de verdade.

Digo isso porque, segundo A Garota, Alfred Hitchcock era praticamente uma aberração que passou a assediar sexualmente sua mais nova contratada. Dirigido por Julian Jarrold (Amor e Inocência), o longa tem início com os preparativos da produção de Os Pássaros, que envolve a contratação da modelo e atriz estreante Tippi Hedren para o papel principal. Entretanto, a vida da bela loira vira do avesso quando o diretor passa a assediá-la e utilizar métodos impiedosos para obter determinados resultados durante as filmagens.

Sob pesada maquiagem, Toby Jones (Branca de Neve e o Caçador) faz o que pode para transformar o imprevisível e frustrado Hitch em um personagem complexo - e o ator chega perto disso apenas em momentos isolados e, na maioria das vezes, através do olhar (diferentemente dos olhos mortos de Anthony Hopkins em Hitchcock). Enquanto isso, a belíssima Sienna Miller transforma Hedren em uma mulher forte e independente que, após a provação das filmagens do primeiro longa, se apoia no profissionalismo para repetir a parceria com o diretor em Marnie, Confissões de uma Ladra - e sendo A Garota uma dramatização de um recorte de uma história real (não necessariamente cinematográfica), é admirável que os realizadores tenham conseguido encerrar o arco narrativo de forma dramaticamente perfeita, com um "Corta!" imensamente significativo para Alfred e Tippi.


The Girl, Reino Unido/África do Sul/EUA, 2012 | Baseado no livro de Donald Spoto. Escrito por Gwyneth Hughes | Dirigido por Julian Jarrold | Com Sienna Miller, Toby Jones, Imelda Staunton, Penelope Wilton, Conrad Kemp.

24 de fevereiro de 2013

Curta | The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore

THE FANTASTIC FLYING BOOKS OF MR. MORRIS LESSMORE

Uma vida sem leitura é sem graça, sem cor. Sem leitores, um livro não tem vida, serventia. Livros são eternos, e a contribuição cultural de seus autores é capaz de eternizá-los no universo literário. E é levando ao pé da letra ideias como essas que o vencedor do Oscar de Melhor Curta de Animação em 2012, The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore (Os Fantásticos Livros Voadores do Sr. Morris Lessmore, em tradução livre), constrói sua homenagem à literatura.

Dirigido por Brandon Oldenburg e William Joyce e escrito por este último, o curta tem início com uma tempestade que arrasta o Sr. Morris Lessmore e sua casa para uma outra dimensão, devasta sua biblioteca e varre as páginas de sua mais recente obra. Frustrado, Lessmore encontra uma casa habitada por livros voadores e redescobre a beleza da leitura.

Mais que isso, Lessmore se torna um mentor para novos leitores, recolorindo um mundo monocromático com o encantamento despertado pela leitura, além de guardião e cuidador da biblioteca, chegando até mesmo a executar uma delicada intervenção cirúrgica para reabilitar um livro caindo aos pedaços. Para completar, o curta (com personagens animados digitalmente em cenários reais, construídos em miniatura) também faz sua homenagem à própria técnica de animação, através da expressividade alcançada através do folheamento do melhor amigo de Morris, um livro sobre Humpty Dumpty. Trata-se da Literatura em ótima sintonia com o Cinema.

The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore, EUA, 2011 | Escrito por William Joyce | Dirigido por William Joyce e Brandon Oldenburg.

23 de fevereiro de 2013

O Reino Gelado

O REINO GELADO

Com pouco mais de 50 dias, 2013 tem se revelado um ano atípico no que diz respeito ao lançamento de animações: até o momento, todas são de nacionalidades distintas, começando pela norteamericana Detona Ralph (e o curta O Avião de Papel que a acompanha), passando pela belga Sammy - A Grande Fuga e pela espanhola As Aventuras de Tadeo e chegando na russa O Reino Gelado - e embora a hegemonia das americanas eventualmente venha a ser retomada nos próximos meses (especialmente com Os Croods ou Reino Escondido), continuam agendadas as estreias de produções animadas da Argentina (Time Show de Bola), França (Titeuf), Alemanha (O Homem da Lua) e sim, do Brasil (Uma História de Amor e Fúria, Minhocas). Por outro lado, 2013 também já começa a dar sinal de suas prováveis dobradinhas: enquanto o par de filmes sobre atentados à Casa Branca não chega, O Reino Gelado prepara o terreno para o lançamento de Frozen: O Reino do Gelo, animação da Disney baseada no mesmo material original.

Trata-se do conto A Rainha da Neve, escrito pelo dinamarquês Hans Christian Andersen em meados do século XIX. Na história, a maléfica Rainha da Neve submete o mundo a um inverno intenso e perpétuo, cuja existência é ameaçada apenas pelos quase extintos magos. Para impedir que isso ocorra, a Rainha incumbe um Troll de raptar Kai e Gerda, órfãos do Mestre Vegard - mas a garota consegue escapar durante o percurso e, ao saber das intenções da vilã, parte em direção ao castelo para resgatar o irmão.

Embora não conte com a exuberância e o preciosismo técnico das gigantes Pixar, PDI ou Blue Sky, O Reino Gelado é muitíssimo mais interessante visualmente que porcarias sul-coreanas como O Mar Não Está Pra Peixe - Tubarões à Vista! ou Outback - Uma Galera Animal: os cenários concebidos pela produção, desde o imenso jardim protegido do frio por uma estufa ou o castelo rigorosamente dividido ao meio, chamam atenção pela riqueza de detalhes, como as xícaras e vestes que remetem a botões de flores ou a meia-coroa pendurada no pescoço do rei (como se fossem óculos), por exemplo. Além disso, os personagens se expressam e movimentam com uma fluidez satisfatória e a "câmera" é movimentada de forma imaginativa, embora um incêndio em um castelo, em particular, peque pela absoluta falta de urgência da cena.

Infelizmente, o desenvolvimento da história não desperta semelhante admiração: as diversas paradas de Gerda fazem com que a narrativa soe demasiadamente episódica, especialmente quando trazem lições de moral em seus desfechos ("Às vezes, a arma mais poderosa é um simples abraço" é uma delas). Dessa forma, O Reino Gelado surge como uma produção com cunho educativo para crianças que, apesar dos diversos clichês (a resolução principal, por exemplo, lembra muito a de ParaNorman, embora é possível que este último possa ter sido influenciado pelo conto original d'A Rainha da Neve), também consegue entreter os adultos sem afrontar suas inteligências. Nada que os artistas da Disney não consigam superar com o inédito Frozen - O Reino do Gelo. Aguardemos.


Snezhnaya koroleva, Rússia, 2012 | Baseado no conto "A Rainha da Neve", de Hans Christian Andersen. Escrito por Vlad Barbe e Vadim Sveshnikov | Dirigido por Vlad Barbe e Maksim Sveshnikov | Com as vozes de Anna Shurochkina, Ivan Okhlobystin, Lyudmila Artemeva, Anna Ardova, Dmitriy Nagiev, Yuriy Stoyanov.

22 de fevereiro de 2013

Apostas para o Oscar 2013


Constatações, discussões, teorizações e levantamentos estatísticos sobre indicados, vencedores e tendências do Oscar possivelmente respondem pela parte mais aborrecida da cinefilia. Particularmente, gosto de encarar as coisas com mais simplicidade: sendo o Oscar a mais popular premiação do Cinema, sinto-me à vontade para acompanhar a cerimônia simplesmente torcendo pela vitória de meus favoritos e praguejando contra aqueles que considero desmerecedores de reconhecimento. Sim, é triste que a lista de indicados seja elaborada com base em perfis, campanhas e favoritismos (gosto de indicações isoladas, como a de Naomi Watts por O Impossível ou a de Moonrise Kingdom em Roteiro Original, da mesma forma que sinto falta de filmes menos badalados, mesmo que surgissem apenas em categorias técnicas) - mas é evidente que nenhuma premiação é capaz de melhorar ou piorar filmes, atuações ou quesitos técnicos que já sejam bons ou ruins.

Dito isto, deixo aqui registrados meus palpites e preferências para a premiação do próximo domingo, 24, com a certeza de que, daqui a uma semana ou menos, nada disso terá mais importância. E fique à vontade para ler mais sobre os filmes indicados clicando nos cartazes abaixo.



MELHOR FILME


Amor
Margaret Menegoz, Stefan Arndt, Veit Heiduschka, Michael Katz
Argo
Grant Heslov, Ben Affleck, George Clooney
Indomável Sonhadora
Dan Janvey, Josh Penn, Michael Gottwald
Django Livre
Stacey Sher, Reginald Hudlin, Pilar Savone
Os Miseráveis
Tim Bevan, Eric Fellner, Debra Hayward, Cameron Mackintosh
As Aventuras de Pi
Gil Netter, Ang Lee, David Womark
Lincoln
Steven Spielberg, Kathleen Kennedy
O Lado Bom da Vida
Donna Gigliotti, Bruce Cohen, Jonathan Gordon
A Hora Mais Escura
Mark Boal, Kathryn Bigelow, Megan Ellison

Meu palpite: O favoritismo parece estar voltado para Argo.
Meu voto: Argo.
Meu repúdio: Lincoln.

MELHOR DIREÇÃO


Michael Haneke, Amor
Ang Lee, As Aventuras de Pi
David O. Russell, O Lado Bom da Vida
Steven Spielberg, Lincoln
Benh Zeitlin, Indomável Sonhadora

Meu palpite: Steven Spielberg.
Meu voto: Ang Lee.
Meu repúdio: Steven Spielberg. Por Lincoln, e não por ser Steven Spielberg.

MELHOR ATOR


Bradley Cooper, O Lado Bom da Vida
Daniel Day-Lewis, Lincoln
Hugh Jackman, Os Miseráveis
Joaquin Phoenix, O Mestre
Denzel Washington, O Voo

Meu palpite: Daniel Day-Lewis.
Meu voto: Joaquin Phoenix. Não gosto da atuação do ator em O Mestre, embora reconheça que seja excelente - e isso é tão difícil de ser compreendido por você quanto o é por mim.
Meu repúdio: Todos estão muito bem.

MELHOR ATRIZ


Jessica Chastain, A Hora Mais Escura
Jennifer Lawrence, O Lado Bom da Vida
Emmanuelle Riva, Amor
Quvenzhané Wallis, Indomável Sonhadora
Naomi Watts, O Impossível

Meu palpite: Jennifer Lawrence.
Meu voto: Naomi Watts, sem pensar duas vezes. Watts é uma das melhores atrizes em atividade, especialmente em papéis sofridos - e não é à toa que sua única indicação anterior foi pelo denso 21 Gramas. Já passou da hora de levar uma estatueta para casa e sua atuação no excelente O Impossível é soberba e completa.
Meu repúdio: Jennifer Lawrence e Jessica Chastain são ótimas atrizes e estão bem em seus respectivos papéis, mas não mereciam a indicação.

MELHOR ATOR COADJUVANTE


Alan Arkin, Argo
Robert De Niro, O Lado Bom da Vida
Philip Seymour Hoffman, O Mestre
Tommy Lee Jones, Lincoln
Christoph Waltz, Django Livre

Meu palpite: Christoph Waltz.
Meu voto: Christoph Waltz, que rouba a cena em Django Livre. A vitória de Philip Seymour Hoffman, por outro lado, não me desagradaria nem um pouquinho.
Meu repúdio: Não ficaria particularmente contente em ver Alan Arkin ganhar novamente o prêmio por uma interpretação tão parecida com a anterior e por um papel que, apesar de divertido, destoa do contexto de Argo.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE


Amy Adams, O Mestre
Sally Field, Lincoln
Anne Hathaway, Os Miseráveis
Helen Hunt, As Sessões
Jacki Weaver, O Lado Bom da Vida

Meu palpite: Anne Hathaway.
Meu voto: Amy Adams é a grande paixão da minha vida e, merecidamente, ainda será premiada por um papel mais interessante em ocasiões futuras. Dito isso, a composição de Helen Hunt em As Sessões foi a que mais me agradou, de modo que a atriz teria meu voto.
Meu repúdio: Sally Field está constrangedora em Lincoln.

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

Amor
Michael Haneke
Django Livre
Quentin Tarantino
O Voo
John Gatins
Moonrise Kingdom
Wes Anderson, Roman Coppola
A Hora Mais Escura
Mark Boal

Meu palpite: Django Livre.
Meu voto: Moonrise Kingdom.
Meu repúdio: O roteiro de Amor é pra lá de superestimado e o de O Voo também tem sua parcela de problemas.

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

Argo
Chris Terrio
Indomável Sonhadora
Lucy Alibar, Benh Zeitlin
As Aventuras de Pi
David Magee
Lincoln
Tony Kushner
O Lado Bom da Vida
David O. Russell

Meu palpite: Lincoln.
Meu voto: Argo.
Meu repúdio: Lincoln. E O Lado Bom da Vida pode até ter sido bem adaptado, mas não é um roteiro particularmente memorável. Nem o de As Aventuras de Pi. Mas prefiro direcionar todo o meu repúdio para Lincoln.

MELHOR MONTAGEM

Argo
William Goldenberg
As Aventuras de Pi
Tim Squyres
Lincoln
Michael Kahn
O Lado Bom da Vida
Jay Cassidy, Crispin Struthers
A Hora Mais Escura
William Goldenberg, Dylan Tichenor

Meu palpite: Argo.
Meu voto: A Hora Mais Escura.
Meu repúdio: Lincoln.

MELHOR FOTOGRAFIA

Anna Karenina
Seamus McGarvey
Django Livre
Robert Richardson
As Aventuras de Pi
Claudio Miranda
Lincoln
Janusz Kaminski
007 - Operação Skyfall
Roger Deakins

Meu palpite: As Aventuras de Pi.
Meu voto: 007 - Operação Skyfall.
Meu repúdio: Prefiro que Lincoln saia da cerimônia de mãos abanando.

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO

Anna Karenina
Sarah Greenwood, Katie Spencer
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
Dan Hennah, Ra Vincent, Simon Bright
Os Miseráveis
Eve Stewart, Anna Lynch-Robinson
As Aventuras de Pi
David Gropman, Anna Pinnock
Lincoln
Rick Carter, Jim Erickson

Meu palpite: Os Miseráveis.
Meu voto: Os Miseráveis.
Meu repúdio: O trabalho da equipe de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada é excepcional, mas já foi premiado em 2004 com O Senhor dos Aneis: O Retorno do Rei.

MELHOR FIGURINO


Anna Karenina
Jacqueline Durran
Os Miseráveis
Paco Delgado
Lincoln
Joanna Johnston
Espelho, Espelho Meu
Eiko Ishioka
Branca de Neve e o Caçador
Colleen Atwood

Meu palpite: Anna Karenina.
Meu voto: Espelho, Espelho Meu. Prefiro a estilização dos figurinos desse filme do que o "mais do mesmo" de época de todos os demais indicados.
Meu repúdio: Lincoln não se destaca nesse aspecto.

MELHOR MAQUIAGEM E PENTEADO


Hitchcock
Howard Berger, Peter Montagna, Martin Samuel
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
Peter King, Rick Findlater, Tami Lane
Os Miseráveis
Lisa Westcott, Julie Dartnell

Meu palpite: O Hobbit.
Meu voto: O Hobbit. Embora os sei-lá-quantos anões não sejam personagens particularmente marcantes, suas maquiagens o são.
Meu repúdio: Os três me parecem candidatos merecedores.

MELHOR TRILHA SONORA


Anna Karenina
Dario Marianelli
Argo
Alexandre Desplat
As Aventuras de Pi
Mychael Danna
Lincoln
John Williams
007 - Operação Skyfall
Thomas Newman

Meu palpite: As Aventuras de Pi.
Meu voto: As Aventuras de Pi.
Meu repúdio: Lincoln.

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

"Before My Time", Chasing Ice
J. Ralph
"Suddenly", Os Miseráveis
Alain Boublil, Claude-Michel Schönberg, Herbert Kretzmer
"Pi's Lullaby", As Aventuras de Pi
Mychael Danna, Bombay Jayshree
"Skyfall", 007 - Operação Skyfall
Adele, Paul Epworth
"Everybody Needs a Best Friend", Ted
Walter Murphy, Seth MacFarlane

Meu palpite: A vitória de Adele e Paul Epworth por Skyfall é uma das poucas certezas da noite.
Meu voto: Skyfall.
Meu repúdio: Adoro Ted, mas ver Seth MacFarlane recebendo o Oscar no ano em que ele próprio apresenta a cerimônia seria, acredito eu, algo bastante aborrecido.

MELHOR MIXAGEM DE SOM

Argo
John T. Reitz, Gregg Rudloff, José Antonio García
Os Miseráveis
Andy Nelson, Mark Paterson, Simon Hayes
As Aventuras de Pi
Ron Bartlett, Doug Hemphill, Drew Kunin
Lincoln
Andy Nelson, Gary Rydstrom, Ron Judkins
007 - Operação Skyfall
Scott Millan, Greg P. Russell, Stuart Wilson

Meu palpite: Argo.
Meu voto: Não sou nenhum especialista no assunto, mas iria em As Aventuras de Pi.
Meu repúdio: Lincoln, pra variar, nem deveria ter sido indicado.

MELHOR EDIÇÃO DE SOM

Argo
Erik Aadahl, Ethan Van der Ryn
Django Livre
Wylie Stateman
As Aventuras de Pi
Eugene Gearty, Philip Stockton
007 - Operação Skyfall
Per Hallberg, Karen M. Baker
A Hora Mais Escura
Paul N.J. Ottosson

Meu palpite: A Hora Mais Escura.
Meu voto: Argo.
Meu repúdio: Não domino o assunto o suficiente para rejeitar algum deles. Em minha ignorância, todos possuem seus méritos.

MELHORES EFEITOS VISUAIS


The Avengers - Os Vingadores
Janek Sirrs, Jeff White, Guy Williams, Daniel Sudick
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
Joe Letteri, Eric Saindon, David Clayton, R. Christopher White
As Aventuras de Pi
Bill Westenhofer, Guillaume Rocheron, Erik De Boer, Donald Elliott
Prometheus
Richard Stammers, Trevor Wood, Charley Henley, Martin Hill
Branca de Neve e o Caçador
Cedric Nicolas-Troyan, Phil Brennan, Neil Corbould, Michael Dawson

Meu palpite: As Aventuras de Pi. Além de merecedor, é o único queridinho das categorias principais que também está indicado nessa.
Meu voto: As Aventuras de Pi. Mais que o ótimo trabalho na animação e concepção do tigre Richard Parker (que deixa a desejar em pouquíssimas cenas mais agitadas), o filme merece reconhecimento pela recriação convincente de todos os ambientes marítimos que acolhem Pi - embora a (bela) cena da baleia tenha despertado minha antipatia recentemente.
Meu repúdio: Tecnicamente, nenhum deles é deplorável - mas Branca de Neve e o Caçador é um filme ruim demais para ser premiado por qualquer aspecto que seja.

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO


Valente
Mark Andrews, Brenda Chapman
Frankenweenie
Tim Burton
ParaNorman
Sam Fell, Chris Butler
Piratas Pirados!
Peter Lord
Detona Ralph
Rich Moore

Meu palpite: As pessoas parecem mesmo ter gostado de Frankenweenie e não há nada que eu possa fazer a respeito disso. Mas arrisco-me a apostar em Detona Ralph.
Meu voto: Detona Ralph.
Meu repúdio: Não desgosto de nenhum dos indicados, mas a vitória do medíocre Frankenweenie me deixaria bastante infeliz.

MELHOR FILME ESTRANGEIRO

Amor (Áustria)
A Feiticeira da Guerra (Canadá)
No (Chile)
O Amante da Rainha (Dinamarca)
Expedição Kon Tiki (Noruega)

Meu palpite: Se Amor não vencer, todas as suas demais indicações terão perdido completamente o sentido. A categoria precisa ser repensada (bem como Filme de Animação, depois de ocorrências semelhantes com Up - Altas Aventuras e Toy Story 3).
Meu voto: Dentre os que vi, No é definitivamente meu favorito.
Meu repúdio: Não assisti a nenhum que me despertasse tal sensação.

MELHOR DOCUMENTÁRIO

Cinco Câmeras Quebradas
Emad Burnat, Guy Davidi
The Gatekeepers
Dror Moreh, Philippa Kowarsky, Estelle Fialon
How to Survive a Plague
David France, Howard Gertler
The Invisible War
Kirby Dick, Amy Ziering
Searching for Sugar Man
Malik Bendjelloul, Simon Chinn

Meu palpite: How to Survive a Plague, no chute.
Meu voto: Não vi nenhum
Meu repúdio: Não se aplica.

MELHOR CURTA-METRAGEM

Asad
Bryan Buckley, Mino Jarjoura
Buzkashi Boys
Sam French, Ariel Nasr
Curfew
Shawn Christensen
Dood van een Schaduw
Tom Van Avermaet, Ellen De Waele
Henry
Yan England

Meu palpite: Dood van een Schaduw, no chute.
Meu voto: Não vi nenhum.
Meu repúdio: Não se aplica.

MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO

Adam and Dog
Minkyu Lee
Fresh Guacamole
PES
Head Over Heels
Timothy Reckart, Fodhla Cronin O'Reilly
O Avião de Papel
John Kahrs
O Dia Mais Longo na Creche
David Silverman

Meu palpite: O Avião de Papel.
Meu voto: Head Over Heels.
Meu repúdio: Fresh Guacamole merece ser visto, não premiado.

MELHOR CURTA DE DOCUMENTÁRIO

Inocente
Sean Fine, Andrea Nix
Kings Point
Sari Gilman, Jedd Wider
Mondays at Racine
Cynthia Wade, Robin Honan
Open Heart
Kief Davidson, Cori Shepherd Stern
Redemption
Jon Alpert, Matthew O'Neill

Meu palpite:  Mondays at Racine, no chute.
Meu voto: Não vi nenhum.
Meu repúdio: Não se aplica.

E não deixe de acompanhar a cobertura da cerimônia no próximo domingo, dia 24, a partir das 20h30, no @CinemaSemErros.

21 de fevereiro de 2013

Pense Como Eles

Meagan Good em PENSE COMO ELES (Think Like a Man)

Nenhum livro é capaz de comentar, descrever ou teorizar sobre a mente e a natureza humana em toda sua complexidade. Sim, existem várias obras de autoajuda e guias comportamentais que prometem desvendar, por exemplo, o comportamento de um determinado grupo com base em certos padrões, mas é natural que esses se apliquem mais efetivamente a pessoas que se aproximem dos arquétipos usados pelo autor. Por sorte, isto não é um problema para Pense Como Eles, comédia romântica cujos estereótipos são reforçados ainda mais por legendas que diminuem os personagens a rótulos como "O filhinho da mamãe", "O sonhador", "A mãe solteira" ou, acreditem ou não, "A garota da regra dos 90 dias".

Escrito pela dupla Keith Merryman e David A. Newman (Amizade Colorida) com base no livro Comporte-se Como Uma Dama, Pense Como um Homem, de Steve Harvey (que surge em diversos momentos proferindo alguns de seus próprios conselhos), o filme acompanha casais embarcando em diferentes tipos de relacionamento, que tomam novos rumos depois que o núcleo feminino descobre e passa a aplicar os ensinamentos do tal livro. Após anos de namoro, Kristen (Gabrielle Union) sonha em se casar com Jeremy (Jerry Ferrara, de Battleship - A Batalha dos Mares), mas o homem é avesso a casamento, não trabalha por puro comodismo e dita as regras da relação. Já Mya (Meagan Good), após se decepcionar mais uma vez com um homem (Chris Brown) que só pensava em sexo, se submete à regra dos 90 dias, isto é, promete não transar com nenhum parceiro antes do quarto mês de envolvimento - o que deixa seu novo parceiro, Zeke (Romany Malco), subindo pelas paredes. E enquanto a diferença nas folhas de pagamento surge como um obstáculo para o romance do chef de cozinha desempregado Dominic (Michael Ealy, de Anjos da Noite: O Despertar) com a executiva Lauren (Taraji P. Henson), a influência da ciumenta mãe do jovem Michael (Terrence J, de Sparkle - O Brilho de Uma Estrela) pode interferir no relacionamento do rapaz com a mãe solteira Candace (Regina Hall). Por fim, Cedric (Kevin Hart, de Cinco Anos de Noivado) acaba de se separar da mulher e acredita estar plenamente satisfeito com o solteirismo.

De tempos em tempos, os amigos se encontram em um bar para dividir as experiências e as frustrações amorosas - o que transforma o longa em uma espécie de E aí... Comeu? americano (embora Pense Como Eles dê voz, espaço, força e, muitas vezes, razão a suas personagens femininas). Todavia, o roteiro jamais se preocupa em fugir das convenções do gênero - e a opção de desenvolver todos os casos amorosos em uma estrutura única e fechada acaba implicando em conflitos forçados, repentinos e implausíveis. Claro, a unidimensionalidade e a incoerência dos personagens não colaboram: Dominic, por exemplo, é apresentado como um sujeito sonhador incapaz de definir um foco único para sua vida - e embora tenha acabado de desistir de outras carreiras para ser chef de cozinha, o rapaz rapidamente se revela um cozinheiro excepcional. Além disso, o roteiro não consegue (ou não quer) se aprofundar em discussões promissoras, que parecem levantadas quase acidentalmente - como na ocasião em que Zeke descobre o guia comportamental e o utiliza para contornar a regra dos 90 dias de Mya (afinal, se ambos possuem motivações sinceras e ficam satisfeitos com os resultados, de que importa de onde saíram as orientações que conduziram ambos até aquela situação?).

Dirigido por Tim Story (Quarteto Fantástico) e lançado no Brasil diretamente em vídeo (apesar dos bons resultados de bilheteria nos Estados Unidos), Pense Como Eles soa como uma comédia romântica boboca e inofensiva utilizada principalmente como veículo para promover a obra do ator e comediante Steve Harvey - e não consigo esconder a preocupação em relação à divulgação de um guia comportamental escrito por um sujeito que já declarou publicamente, em mais de uma ocasião, que mulheres não devem sair e se envolver com ateus. Percebe-se que na corrida pelo entendimento da mente humana, Harvey é um ilustre retardatário.


Think Like a Man, EUA, 2012 | Inspirado no livro Comporte-se Como Uma Dama, Pense Como um Homem, de Steve Harvey. Roteiro de Keith Merryman & David A. Newman | Dirigido por Peter Templeman | Com Michael Ealy, Jerry Ferrara, Meagan Good, Regina Hall, Kevin Hart, Taraji P. Henson, Terrence Jenkins, Romany Malco, Gabrielle Union, Caleel Harris, Gary Owen, Chris Brown, Jenifer Lewis, La La Anthony, Sherri Shepherd, Arielle Kebbel, J. Anthony Brown, Luenell e Steve Harvey.