12 de janeiro de 2013

Sammy: A Grande Fuga


Na linha daquelas brincadeiras de atribuir "títulos honestos" a filmes, é razoável afirmar que a animação belga As Aventuras de Sammy poderia se chamar Procurando Shelly. No longa de 2010, o personagem-título saía da casca fluente em inglês, era atacado por gaivotas, tinha sua vida salva, se apaixonava pela tartaruguinha Shelly e ficava amigo de Ray - tudo isso nas primeiríssimas horas de vida. No restante do filme, alfinetadas ambientais que jamais eram levadas a cabo e, por essa razão, careciam de relevância, dividiam espaço com encontros e desencontros absolutamente improváveis de Sammy com certos humanos, com Ray e, principalmente, com a tartaruga amada - e, ambientada no oceano, naturalmente passou a integrar o grupo de animações influenciadas por Procurando Nemo, que já incluía O Espanta Tubarões e O Mar Não Está Pra Peixe.

Nada disso importa para Sammy: A Grande Fuga, continuação que traz os idosos Sammy e Ray sendo capturados e levados para um luxuoso aquário subaquático em Dubai e tendo que ser encontrados pelos netos recém-nascidos Emma e Rick (que preenchem a cota de fofura e olhos enormes da produção) e contar com a ajuda deles para escapar do cativeiro - e a persistência em chupar elementos de Procurando Nemo, só não vê quem não quer. Aliás, não é só a animação de 2003 que serve de "inspiração" para esta nova produção: há algumas interseções, por exemplo, entre o cavalo marinho Dom e o urso de pelúcia Lotso, de Toy Story 3, enquanto a abertura, que traz uma gaivota conduzindo o espectador através dos títulos aéreos do filme, é claramente roubada de A Lenda dos Guardiões.

Mas o problema do filme não é o recorte de animações passadas. Com uma narrativa pobre e deficiente, Sammy: A Grande Fuga não consegue lidar com o excesso de personagens e ainda falha miseravelmente na tarefa de desenvolvê-los. Dessa forma, com uma fauna ampla usada essencialmente como alívio cômico, o filme se reduz a uma típica história de fuga de cativeiro, ganhando algum frescor apenas ao parodiar filmes de máfia, prisão e os não raros planos de fuga por túneis cavados pelos prisioneiros. Além disso, seguindo a linha do filme anterior, nem mesmo as tentativas de discutir temas ambientais alcançam alguma relevância, pela pobreza da abordagem.

Tecnicamente, por outro lado, Sammy: A Grande Fuga é suficientemente eficiente - especialmente por se tratar de uma animação alheia aos grandes estúdios: o design de produção concebe cenários belos e convincentes, a animação dos personagens é fluida e expressiva e a trilha sonora tem seus momentos divertidos. O 3D, por outro lado, é beneficiado por uma grande profundidade de campo, apesar do recorrente uso intrusivo e exibicionista - e embora objetos sendo lançados na direção do público sejam raros, várias cenas trazem a ação acontecendo fora da tela, próxima ao espectador, o que não deixa de ser uma distração.

De modo geral, a animação belga Sammy: A Grande Fuga é até bastante razoável se comparada com as sul-coreanas Outback - Uma Galera Animal ou O Mar Não Está Pra Peixe - mas tecer um elogio contido a um filme nivelando por baixo nunca é um bom sinal.

Sammy's avonturen 2, Bélgica, 2012 | Roteiro de Domonic Paris | Dirigido por Vincent Kesteloot e Ben Stassen.