17 de janeiro de 2013

Pom Wonderful Apresenta: O Maior Filme Jamais Vendido


Em determinada passagem de Se Eu Fosse Você 2, ao longo de um diálogo que em nada contribui para o andamento da narrativa, o personagem de Cássio Gabus Mendes explica detalhadamente ao de Tony Ramos os benefícios de certa provedora de TV por assinatura - mas o que muitos não devem notar é que, a partir de certo ponto do discurso (em torno de algo como "...e ainda dá pra pausar a programação ao vivo e..."), a voz do ator (que, a esta altura, já se encontra fora de campo) perde sensivelmente a naturalidade. A provável explicação para o que ocorre não é de difícil compreensão: possivelmente insatisfeitos com a carga de informações transmitida pelo personagem durante a filmagem oficial, os produtores devem ter ordenado que um adendo fosse gravado em estúdio, sem se importar que, com um trabalho descuidado de mixagem de som, o acréscimo de informações destoasse do restante da fala e ressaltasse ainda mais a artificialidade da publicidade.

A completa falta de sutileza de momentos como esse (algo que já abordei em textos sobre Um Show de Verão ou Os Penetras) prova que, ao menos no quesito product placement, o cinema brasileiro ainda está engatinhando - diferentemente do norte-americano, que, de modo geral, já consegue integrar esse tipo de publicidade ao sistema de produção de forma mais orgânica. E é isso que O Maior Filme Jamais Vendido, de Morgan Spurlock, se propõe a documentar, através de uma proposta curiosamente metalinguística: visitando empresas das mais diversas, o diretor busca patrocinadores para financiar um documentário sobre a própria busca por patrocinadores. Dessa forma, Spurlock precisa convencer grandes executivos que associar suas marcas ao filme será um investimento oportuno e fecha acordos que transformam o filme em uma salada de frutas de anúncios.

O que, curiosamente, é ao mesmo tempo positivo e negativo. Se por um lado as esporádicas interrupções para vinhetas de alguns dos produtos incomodam pela própria intrusão, por outro oferecem sua contribuição ao filme no que diz respeito ao conteúdo - isto é, a inserção de um anúncio intrusivo não deixa de ser um comentário sobre a intrusão de anúncios em filmes. Além disso, à medida que acordos são fechados, o documentário vai sendo moldado pelas diversas e distintas exigências dos anunciantes, levando Spurlock a utilizar roupas, visitar locais e consumir bebidas de marcas específicas enquanto entrevista diversos profissionais da área, bem como a remover qualquer menção às concorrentes. Para completar, o diretor acerta ao abrir o documentário com a enxurrada de respostas negativas que recebeu de grandes marcas, fazendo com que o espectador desenvolva uma tímida afeição por aquelas que confiaram em suas boas intenções - o que cria uma imagem positiva das marcas e, de certo modo, compensa o fato de o filme não ter alcançado o sucesso pretendido. Ainda nesse sentido, o documentário falha por seguir um rumo que, para ter suas pontas bem amarradas, demandaria uma documentação da repercussão pós-lançamento, além de não deixar clara a relação das empresas com o produto final ao apontar, sem maiores explicações, que "nenhuma das marcas aprovou o filme".

Por fim, O Maior Filme Jamais Vendido também dedica algum tempo à publicidade criada para divulgar o filme propriamente dito, recorrendo até mesmo a escolas que disponibilizam suas fachadas em troca de verba para incrementar suas finanças. Antes disso, porém, o diretor faz uma rápida visita a São Paulo para, com um evidente espanto, conferir o resultado da Lei Cidade Limpa (que proíbe outdoors, placas e letreiros de anúncios no interior da cidade desde que foi sancionada no início de 2007) e entender como o comércio local lida com isso.

Vindo de um diretor que tentou provar que viver comendo apenas fast food faz mal, Pom Wonderful (marca de suco que pegou a cota de patrocínio principal) Apresenta: O Maior Filme Jamais Vendido é nada menos que uma boa surpresa.

The Greatest Movie Ever Sold, EUA, 2011 | Escrito por Jeremy Chilnick e Morgan Spurlock | Dirigido por Morgan Spurlock.