
O que Marley & Eu levou 115 minutos para construir, Marley & Eu 2: Filhote Encrenqueiro consegue destruir em questão de segundos. O rótulo de "filme de cachorro" que o longa de David Frankel tanto se esforçou para afastar é, agora, agarrado com unhas e dentes por este absurdo prequel - e como se já não fosse abusivo o bastante trazer "o pior cão do mundo" em sua fase mais fofa - a de filhote - aprontando altas confusões (como numa típica vinheta da Sessão da Tarde), logo descobrimos que o animal também fala.
A trama, obviamente, não dá sequência à vista no longa original e sequer se relaciona efetivamente a ela: passando alguns dias na casa de parentes dos donos (mesmo que, de modo geral, não haja brechas na história original para que isso ocorra), o filhote Marley passa a infernizar a rotina da casa e da vizinhança com seu jeito encrenqueiro. Nesse contexto, o adolescente Bodi Grogan (Turner), que deseja ter seu próprio cão, enxerga em um campeonato de Agility a chance de provar sua responsabilidade e, então, ganhar de sua mãe a autorização para criar um cachorrinho.
Conflitos envolvendo um treinador ambicioso e inescrupuloso, que anseia a vitória no campeonato mais que tudo na vida, apenas tornam a tortura mais severa, fazendo 86 minutos parecerem uma verdadeira eternidade. A abordagem extremamente infantilizada do diretor Michael Damian e a quantidade de cachorrinhos em cena (só labradores, são três) apenas depõem contra o filme, que lamentavelmente utiliza a marca de sucesso com ambições exclusivamente marqueteiras. Pouco pode ser dito sobre as atuações, que, seguindo a linha de mediocridade de produções picaretas lançadas diretamente em vídeo, ainda são elipsadas pelas excruciantes estripulias da trupe de filhotinhos.
A insistência de colocar o cachorro como protagonista da história e atribuir-lhe atitudes e comportamentos excessivamente humanizados (em diversos momentos, Marley é visto com artigos do vestuário humano, como se isso lhe agradasse e fosse absolutamente normal) torna-se vergonhosa pela evidente imbecilidade do personagem, impedindo que o espectador desenvolva afeição por - vejam só! - um adorável filhote de labrador. Além disso, o casal de roteiristas (Michael e Janeen Damian) parece enxergar graça em gags absolutamente ultrapassadas, como aquelas que envolvem personagens sendo lambuzados por comida ou piadinhas com a dentadura do vovô Grogan (Rhodes). Mas nada - nada! - supera as falas e os pensamentos narrados por Marley, que, na voz de Grayson Russell (o Fregley de Diário de um Banana 2), arrastam o filme para um fundo do poço de onde jamais será capaz de escapar.
Marley & Me: The Puppy Years, EUA, 2011 | Escrito por Janeen Damian & Michael Damian | Dirigido por Michael Damian | Com Travis Turner, Donnelly Rhodes, Alex Zahara, Sydney Imbeau, Chelah Horsdal e a voz de Grayson Russell.