6 de janeiro de 2013

Curta | O Avião de Papel

O AVIÃO DE PAPEL

Desde que Toy Story provou que um longa-metragem inteiramente produzido em animação computadorizada era financeiramente viável, a tecnologia evoluiu assustadoramente e as animações tradicionais acabaram perdendo seu espaço. As poucas que ainda alcançaram alguma visibilidade de lá pra cá variam entre fracassos financeiros (O Gigante de Ferro), fracassos artísticos (Brasil Animado), adaptações de séries televisivas (Os SimpsonsBob Esponja - O Filme), filmes esporádicos da DreamWorks Animation (O Caminho Para El Dorado, Spirit - O Corcel Indomável), da Disney (Lilo & Stitch, A Princesa e o Sapo, A Nova Onda do ImperadorWinnie the Pooh) ou animações voltadas para públicos mais específicos, como Valsa Com Bashir, Waking Life, Persépolis, Um Gato em Paris, O Ilusionista, As Bicicletas de BellevilleNo Mundo das Fábulas ou as tradicionais produções do Studio Ghibli.

Nesse contexto, O Avião de Papel surge como uma pequena preciosidade por repetir o feito do curta Dia & Noite, da Pixar, e mesclar animação tradicional com tridimensional computadorizada de forma absolutamente encantadora. Com seis minutos e meio de duração, o filme (que acompanha as cópias de Detona Ralph nos cinemas) conta a doce e ingênua história de um homem e uma mulher que se esbarram em uma estação de trem em Nova York mas, acometidos apenas por uma atração tímida, são separados por suas rotinas particulares - e dali em diante, um esboço de romance é construído com toques de humor e fantasia, abordando brevemente temas como impulsividade e desapego.

Usando a modelagem tridimensional computadorizada para complementar o trabalho manual dos artistas, que resgatam o método tradicional de animação para traçar os cenários, os personagens e conceber seus movimentos, O Avião de Papel ainda faz referência a pelo menos uma animação clássica da Disney - ou fui só eu que, em certo momento, lembrei da cena em que Roger (com quem o protagonista divide claras características físicas) é arrastado por Pongo ao encontro de Anita em 101 Dálmatas? Além disso, enquanto a fotografia em preto e branco, com tons sempre suaves de cinza, ressalta a ambientação de época e reflete a simplicidade e a leveza da narrativa, a textura da animação evoca a própria natureza primitiva da atividade, que consiste em conferir vida a seres absolutamente convincentes (como os que vemos aqui) a partir de instrumentos triviais como um lápis e algumas folhas de papel - e nesse sentido, o título original do curta (O Homem do Papel ou O Homem de Papel, em traduções livres, complementares e admissíveis de Paperman) revela-se mais que apropriado para este belo trabalho.

Paperman, EUA, 2012 | História de Clio Chiang e Kendelle Hoyer | Dirigido por John Kahrs.