



Seven Psychopaths, Reino Unido, 2012 | Duração: 1h50m04s | Lançado no Brasil em 4 de Janeiro de 2013, nos cinemas | Escrito por Martin McDonagh | Dirigido por Martin McDonagh | Com Colin Farrell, Sam Rockwell, Christopher Walken, Woody Harrelson, Abbie Cornish, Tom Waits, Linda Bright Clay, Harry Dean Stanton, Zeljko Ivanek, Olga Kurylenko, Kevin Corrigan, Long Nguyen, Gabourey Sidibe, Michael Pitt e Michael Stuhlbarg.
"Esta é a ideia mais idiota que já ouvi", aponta Billy (Rockwell), em certo momento, depois que Marty (Farrell) expõe sua intenção de dar continuidade ao roteiro com pouca ação e muito diálogo - ou, em suas palavras, com "seres humanos apenas conversando". O que diabos poderia haver de errado nisso? O que nós, espectadores, devemos esperar de um filme chamado Sete Psicopatas? Perseguições, tiroteios e mortes? Aliás, por que nos vemos no direito de esperar algo específico de um filme com um título desses e, eventualmente, menosprezá-lo por não corresponder às nossas expectativas pessoais? E se, para completar, a distribuidora nacional achasse prudente ressaltar no título do filme a participação de um cachorrinho, comprometendo a natureza metalinguística da produção (não há o menor indício de que o shih tzu esteja presente no roteiro escrito pelo personagem de Farrell) apenas para tentar atrair um público indolente que deveria ir correndo rever De Pernas Pro Ar 2?
Felizmente, o longa não se rende à visão do personagem de Sam Rockwell, que, de certa forma, representa a faceta conservadora e pouco ambiciosa do meio cinematográfico - e a oportunidade que ele ganha de articular um desfecho para o roteiro de Marty resulta não só na sequência mais divertida do filme, como também em um show de comentários sobre a arte de escrever roteiros, especialmente no que diz respeito à dificuldade de amarrar pontas soltas mantendo o mínimo de lógica e, não menos importante, agradando o público. Martin McDonagh consegue cumprir bem essa tarefa, apostando principalmente na quebra de expectativas (como ocorre no confronto entre Farrell, Rockwell e Woody Harrelson) - e confesso que, depois de Billy destacar que animais nunca devem ser mortos em filmes (algo que Fora de Controle, de Barry Levinson, já havia discutido), fui impulsionado a torcer contra a sobrevivência da pobre shih tzu Bonny.
A principal inspiração para o trabalho de Marty, por outro lado, vem como cortesia de seu amigo Billy: dividindo com o polonês Hans (Walken) um negócio ilícito de sequestro de cachorros, que se aproveita de recompensas polpudas dos donos ingênuos, o homem desperta a fúria do mafioso Charlie (Harrelson) ao raptar sua adora Bonny, da raça shih tzu. Enquanto se esquivam do criminoso, Marty, Billy e Hans também são apresentados à história - com toques cômicos de romance - do serial killer de serial killers Zachariah (Waits), tentam encontrar um final adequado para a fictícia trama de um padre vietnamita vingativo (Nguyen) e acompanham, pela imprensa, a ação de um ambicioso assassino em série, que tem eliminado um expressivo número de mafiosos locais.
Mesmo repleto de intromissões (sejam elas por flashbacks, mudanças de foco da narrativa ou encenações de ideias para o roteiro), Sete Psicopatas e um Shih Tzu é conduzido por McDonagh com segurança e bom humor e conta com boas doses de diálogos afiados, gags discretas e piadas que não se intimidam em pegar pesado abraçando o politicamente incorreto, como ao relacionar de modo recorrente o alcoolismo de Marty à sua origem irlandesa. Aliás, o longa também é bem sucedido em suas investidas dramáticas - e com o auxílio da trilha de Carter Burwell, que convida o espectador a deixar de lado o humor por alguns instantes, Farrell, Rockwell e, principalmente, Walken protagonizam alguns momentos verdadeiramente tocantes.
Encontrando um eco curiosamente forte no curta Morte Cega, do crítico de cinema Pablo Villaça, e marcado ainda por participações divertidas de Gabourey Sidibe (Preciosa - Uma História de Esperança) e Harry Dean Stanton, o longa é um retorno definitivamente satisfatório de Martin McDonagh para detrás das câmeras - e que bom que ele tenha optado por desenvolver Sete Psicopatas (e um Shih Tzu. Droga!) e não o filme de nome extenso que Billy ironicamente sugere em algum momento e que, já em seu titulo, reúne os piores truques, convenções, muletas e clichês que já estamos mais que cansados de conferir na tela grande.
