11 de janeiro de 2013

Crítica | O Último Desafio

por Eduardo Monteiro

The Last Stand, EUA, 2013 | Duração: 1h47m02s | Lançado no Brasil em 18 de Janeiro de 2013, nos cinemas | Escrito por Andrew Knauer | Dirigido por Jee-woon Kim | Com Arnold Schwarzenegger, Eduardo Noriega, Forest Whitaker, Peter Stormare, Jaimie Alexander, Johnny Knoxville, Luis Guzmán, Rodrigo Santoro, Genesis Rodriguez, Zach Gilford e Harry Dean Stanton.

"Como você está, xerife?", é o que o balconista de um café da remota cidade de Summerton Junction pergunta quando, em meio a um intenso tiroteio, Ray Owens (Schwarzenegger) é lançado violentamente através da entrada do estabelecimento. "Velho" é a resposta jocosa que o sexagenário lança antes de retornar ao confronto - e o viés de autoparódia dessas aguardadas brincadeiras de Arnold Schwarzenegger, em seu primeiro papel de destaque desde O Exterminador do Futuro 3 - A Rebelião das Máquinas, é um dos únicos elementos que funcionam razoavelmente bem em O Último Desafio, que, com um roteiro risível e cenas de ação genéricas, provavelmente seria lançado diretamente em vídeo caso não trouxesse o apelo da presença do astro de ação oitentista como um atrativo para os saudosistas.

Na história, escrita pelo estreante Andrew Knauer, um grupo de bandidos comandado por Burrell (Stormare) compromete a tranquilidade da pacata Summerton Junction ao desenvolver atividades suspeitas em uma fazenda local enquanto, em Los Angeles, o traficante Gabriel Cortez (Noriega) escapa do FBI e parte em um possante carro esportivo rumo ao México, levando uma agente federal (Rodriguez) como refém. Ao concluir que os dois casos podem estar relacionados a uma até então improvável passagem do fugitivo pela cidade fronteiriça, o xerife Owens recorre ao arsenal do lunático Lewis Dinkum (Knoxville) e reúne a diminuta força policial da cidade (composta pelos personagens de Jaimie Alexander, Luis Guzmán e Rodrigo Santoro) para deter Cortez - o que inacreditavelmente rende um filme de cento e sete minutos e dois segundos.

Como? Pra começar, Knauer e o diretor sul-coreano Jee-woon Kim dedicam demasiada atenção ao traficante fugitivo, e a subtrama carece de conteúdo: após ser resgatado por comparsas em uma sequência comandada de forma burocrática (mas que ao menos serve para introduzir a imensa estupidez dos agentes do FBI), Cortez demonstra uma capacidade absurda de premeditar os movimentos do Departamento Federal de Investigação, tendo sempre uma carta na manga para despistar os agentes ou vencer suas barricadas. Para a sorte do traficante, a estupidez parece ser um requisito obrigatório para integrar a equipe do Departamento - e não é de se espantar que eles sejam assim, tendo um comandante absolutamente perdido e descontrolado como o irritante agente John Bannister (Whitaker, em uma atuação patética).

Paralelamente, diretor e roteirista desperdiçam outra grande parcela de tempo com a terrível dinâmica da polícia de Summerton Junction, que inclui um dos integrantes sofrendo com os males do exercício da profissão, um conflito romântico barato entre Sarah (Alexander) e Frank (Santoro) e até mesmo a morte de um oficial em serviço, que, em vez de causar a comoção pretendida pelos realizadores, apenas desperta a satisfação por finalmente nos vermos livres de um dos piores e mais intragáveis policiais que o Cinema já produziu. Não muito atrás, o alívio cômico vivido por Johnny Knoxville aborrece na maior parte do tempo, deixando nas mãos de Schwarzenegger a tarefa de extrair algum humor de um roteiro que atira para todos os lados num esforço desmedido para fazer graça.

E de certo modo, o ex-governador da Califórnia cumpre bem sua função: vivendo um homem durão e apaixonado pela profissão, Schwarzenegger parece se divertir com um personagem cujo atrativo depende fortemente da memória afetiva do público e cujo comportamento se apoia essencialmente em piadas - e em meio a frases de efeito que até divertem momentaneamente, mas que dificilmente serão lembradas ao final da projeção, há momentos mais curiosos e discretamente divertidos, como aquele em que, chegando a uma área de confronto, Owens quebra impulsivamente a janela do carro para evitar a fadiga, bem como a oposição criada com a ocasião posterior em que o xerife opta por abri-la manualmente para disparar contra um oponente, pela simples graça que o procedimento arcaico pode gerar em um momento mais agitado como aquele.

Ainda nesse sentido, o ator é também um dos principais responsáveis pela eficiência parcial do tiroteio em Summerton Junction, que consegue prender a atenção do espectador e acerta no humor sustentado pelo grafismo da violência. Infelizmente, Jee-woon Kim deixa a peteca cair em alguns instantes e peca na manutenção do timing de algumas cenas - e se a gag envolvendo a colaboração improvável de certa cidadã no tiroteio tem lá a sua graça, esta chega perto de ser perdida quando a piada é estendida além do necessário. Por fim, o filme desiste de vez de soar minimamente plausível quando Cortez finalmente chega à cidade e, por razões que nunca serão explicadas, abre mão das dezenas de capangas fortemente armados que o auxiliaram ao longo da viagem e do único fator que impedia o FBI de adotar medidas mais drásticas - a refém (que posteriormente se revela um furo tremendamente estúpido e ofensivo).

Contando com um elenco de filme B e apostando no saudosismo cego do público para lotar as salas de cinema, O Último Desafio integra a nova onda de resgate de artistas decadentes em projetos que homenageiam suas épocas de ouro (que recentemente gerou Uma Família em Apuros e cujo maior expoente continua sendo Os Mercenários), que, pelo andar da carruagem, tem de tudo para seguir junto da onda de releituras de contos clássicos rumo ao fundo do poço.