24 de janeiro de 2013

Crítica | O Resgate

por Eduardo Monteiro

Stolen, EUA, 2012 | Duração: 1h33m29s | Lançado no Brasil em 25 de Janeiro de 2013, nos cinemas | Escrito por David Guggenheim | Dirigido por Simon West | Com Nicolas Cage, Josh Lucas, Danny Huston, Sami Gayle, Malin Åkerman, Edrick Browne, Mark Valley, Barry Shabaka Henley e M.C. Gainey.

Quando escrevi brevemente sobre Poder Paranormal, comentei que a incompatibilidade entre a ordenação dos nomes dos atores nos créditos iniciais e a importância que determinada personagem demonstrava na primeira parte do filme fatalmente denunciava sua saída precoce da narrativa. Em O Resgate, algo semelhante acontece: depois de ser deixado por último na listagem da abertura do longa, Josh Lucas surge como o segundo personagem mais importante em cena - e não demora muito para que o filme avance um punhado de anos e ele seja dado como morto. Entretanto, os personagens não batem insistentemente na tecla da morte do companheiro à toa: quando este retorna, transformado, para assumir o posto de vilão do filme, a ideia é que fiquemos estarrecidos com a reviravolta ou algo parecido - embora a questão do nome do ator nos créditos iniciais passe a fazer mais sentido (no final das contas, fomos induzidos a acreditar que sua participação seria pequena para que seu retorno constituísse uma surpresa).

Este talvez seja o truque mais eficiente do roteiro risível de David Guggeheim (Protegendo o Inimigo), que, no restante do tempo, investe em uma série de induções ridículas que podem ser facilmente desvendadas pelo espectador. A começar pelo prólogo: prestes a executar um grande roubo, Will Montgomery (Cage) é vigiado por uma equipe do FBI, comandada pelo agente Tim Harland (Huston) - que, a certa altura, destaca a estranheza da situação, já que a captura dos criminosos parece fácil demais. Quando a equipe do FBI invade uma joalheria (o que é estranho, já que antes havíamos visto Will percorrendo uma loja de brinquedos) e vai de encontro ao protagonista, descobrimos que - uau! - Harland estava vigiando o local errado! Sem jamais entrar em detalhes sobre como o erro foi cometido (quem era e o que aconteceu, afinal, com a pessoa que saiu da van fajuta e entrou na joalheria?), o filme parte para um corre-corre burocrático permeado por desavenças entre Will e seu parceiro, Vincent (Lucas), e que culmina na prisão do personagem de Cage e no sumiço dos dez milhões de dólares roubados. Oito anos depois, no exato dia em que sai da prisão, Will vê sua filha Alison (Gayle) ser sequestrada pelo antigo e supostamente falecido parceiro - e, enquanto circula por Nova Orleans com a garota presa no porta-malas de um táxi, o homem exige o dinheiro desaparecido como resgate.

Tentando conferir veracidade a uma história que já foi contada incontáveis vezes, Nicolas Cage lança mão do mais absoluto piloto automático e empresta seu famoso overacting a Josh Lucas, que, perneta, cabeludo, sujo e com uma expressão de constante psicopatia, transforma Vincent em um vilão vergonhoso e patético e afunda mais alguns centímetros de sua já pouco promissora carreira. E enquanto Malin Åkerman se revela um zero à esquerda belo em suas curvaturas, Danny Huston é obrigado a alimentar uma admiração grotesca pelo protagonista, ficando responsável por falas ridículas como "Admirar não é o mesmo que gostar". Por fim, Sami Gayle vive Alison como a filha chatinha, frígida e emburrada de sempre, que, em situação oportuna, surge como a reencarnação do MacGyver - ou sou só eu que acho impossível alguém, de dentro do porta-malas de um táxi, alcançar um celular errante no banco de trás do carro e, com apenas dois dedos, digitar 911 em um teclado QWERTY?

Embalado por uma trilha sonora que parece disposta a reconhecer a natureza B do projeto, O Resgate é conduzido sempre de forma burocrática por Simon West (do incompreensivelmente superestimando Os Mercenários 2) e avança sempre de forma desinteressante, arbitrária e previsível, revelando-se ainda excessivamente expositivo - e o momento em que Vincent explica para Alison como forjou a própria morte é completamente inapropriado e não faz o menor sentido. Para completar, o terceiro ato traz um roubo ofensivamente trivial, motivado por um comportamento absolutamente injustificável do protagonista: antes mesmo que Vincent dê as novas diretrizes para o sequestro ao se convencer de que o dinheiro do roubo anterior realmente não existe mais, Will toma a frente da situação e se propõe a realizar um novo golpe para obter a quantia - e ímpeto do personagem em prolongar o sequestro da filha em prol de uma sacudida na narrativa é comovente.

Reservando mais duas ou três induções idiotas para os minutos finais (envolvendo morte, cemitério e um objeto a ser lançado no mar), O Resgate é, assim como O Último Desafio, mais um filme que poderia ser lançado diretamente em vídeo caso não trouxesse o apelo da presença do ator central - e aqui o que fala mais alto não é nem o retorno carismático de um astro de ação, mas o amor que os brasileiros, em especial, ainda parecem alimentar por Nicolas Cage e sua corriqueira sequência de porcarias.