
Danny Trejo bancando um veterano de guerra que resolve fazer justiça com as próprias mãos e vira hit na internet é algo que até poderia ter dado certo. Infelizmente, o autor da premissa (em parceria com o estreante Elliot Tishman) é o cidadão responsável por atrocidades como Um Virgem de 41 Anos Ligeiramente em Apuros e A Saga Molusco - Anoitecer, o que diminui sensivelmente as chances de sair algo que realmente preste - e de fato, embora Bad Ass - Acima da Lei seja seu melhor filme até agora, está anos-luz de ser bom.
Popularmente conhecido como Bad Ass após desbancar skinheads em um ônibus, Frank Vega (Danny Trejo) vive da pensão que recebe por invalidez e da venda de hot dogs na rua, agora decadente com a chegada de trailers e carrinhos com lanches mais interessantes. Quando seu melhor amigo, Klondike (Harrison Page), é assassinado por criminosos e a polícia faz pouco caso do crime, Vega decide investigar por conta própria e executar sua vingança.
E essa busca nos lança em uma espiral de tédio quando o diretor e roteirista Craig Moss decide levar Frank a locais onde, após serem colocadas contra a parede, pessoas indicam novos locais em que o responsável pelo crime pode estar - o que se estende ao longo de boa parte dos noventa minutos do filme. Além disso, um romance do protagonista com a vizinha é iniciado com um objetivo que qualquer um que tenha visto meia dúzia de suspenses policiais pode antecipar - e que, claro, se confirma.
O pior, porém, é a facilidade com que os realizadores desperdiçam o potencial da premissa e de seu personagem central: vivido com carisma pelo carrancudo Danny Trejo, Frank é um perdedor que, livre dos luxos dos vingadores convencionais, é obrigado a se deslocar pela cidade de ônibus e aparenta possuir praticamente duas mudas de roupa: uma para o dia-a-dia (bermudão, boné e casaco militar camuflado) e uma para ocasiões especiais (um terno azul claro). Ainda nesse sentido, a cena em que uma alegria quase infantil é estampada no rosto enrugado de Trejo enquanto o personagem se arruma para um encontro ressalta ainda mais o potencial desperdiçado, já que surge como um dos raríssimos momentos em que o óbvio humor da premissa é explorado de forma decente.
Pra piorar, Moss jamais parece cansar de se provar um diretor patético: além de erros triviais de continuísmo cometidos graças a uma decupagem incompetente (como a ocasião em que uma carona é oferecida ao protagonista por carregar um saco de compras, mas o volume não é mais visto quando o homem sai do carro), há uma evidente incompatibilidade de tom entre a atmosfera da cena em que Frank visita o local onde o amigo foi assassinado e o hip hop que a acompanha. Além disso, a trama inteira é estúpida ao extremo - e é preciso muita boa vontade para aceitar de bom grado mais uma história sobre criminosos em busca de um pen drive com informações confidenciais.
Transformando seu terceiro longa em uma espécie de superposição entre Kick-Ass - Quebrando Tudo e Machete ao chupar elementos de ambos (ou vocês acham que a ideia de colocar Danny Trejo como um leigo em novas tecnologias surgiu do roteirista? "Machete don't text"? "O que é um pen drive?" Alguma relação?), Craig Moss surge como um nome que, seguindo o que comentei no texto sobre A Saga Molusco - Anoitecer, merece continuar a ser observado - no pior sentido que a expressão pode ter.

Bad Ass, EUA, 2012 | Escrito por Craig Moss e Elliot Tishman | Dirigido por Craig Moss | Com Danny Trejo, Charles S. Dutton, Patrick Fabian, Joyful Drake, John Duffy, Harrison Page, Richard Riehle, Andy Davoli, Tonita Castro e Ron Perlman.